Em
20 anos de multipartidarismo em Moçambique, as deserções partidárias em épocas
eleitorais continuam a ser um fenómeno imortal. Analista político justifica a
alternância com a ambição dos políticos
Em
Moçambique, é comum verem-se membros da oposição a vestirem a camisola do
partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), embora o
contrário também aconteça ainda que em menor escala.
“Agem
em busca de benefícios financeiros, benefícios materiais… São pessoas que saem
da oposição. São do MDM e de outros círculos eleitorais”, considera o analista
político moçambicano Bayano Valy.
“Quando
as listas partidárias apareceram, as pessoas viram goradas as suas expectativas
por não constarem dessas listas. Daí decidirem desertar da oposição para o
partido maioritário, pensando que ali terão ganhos”, explica.
Lugares
em grandes empresas
Bayano
Valy lembra que mesmo que a FRELIMO não possa atribuir altos cargos aos novos
integrantes do Governo, pode sempre colocar os membros em lugares de liderança
nas grandes empresas do país.
Numa
altura de plena campanha eleitoral, este fenómeno volta a ser assunto. Na
última semana a imprensa estatal noticiou deserções massivas no seio do
Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Os jornais falam em cerca de 300
membros, só na província de Nampula, mas a segunda maior força da oposição nega
tudo.
“Muitas
das pessoas que estão a falar em nome do MDM e a dizer que estão a desertar
para outros partidos não correspondem à verdade, porque membro que é membro de
uma organização política tem uma causa. E essas pessoas são pessoas que foram
de uma forma unilateral usadas para responder àquilo que são os interesses do
partido no poder”, garante Sande Carmona, porta-voz do MDM.
“Só
para perceber, as pessoas ditas como desertoras são um número bastante elevado,
o que significa que já teriam acabado com o MDM em Moçambique”, ironiza.
MDM
a ganhar espaço
O
MDM foi o partido que nas últimas eleições autárquicas tomou da FRELIMO mais
dois municípios, num processo em que a Resistência Nacional Moçambicana
(RENAMO), maior partido da oposição, foi o grande ausente.
O
MDM tem ganho cada vez mais aceitação nas grandes cidades. Mas por outro lado,
várias acusações pesam sobre o partido, como a existência de tribalismo,
desrespeito dos estatutos partidários e até de que a formação é dominada apenas
pela família dos líderes, os “Simangos”.
“No
MDM, vigora a militância dos seus membros dentro da organização. E nós não
temos a ousadia de privilegiar a família de quem quer que seja. Nós
privilegiamos as pessoas que se dedicam à causa do Movimento Democrático de
Moçambique", assevera o porta-voz do partido, Sande Carmona.
"O
presidente do MDM, Daviz Simango, e o seu irmão, que é deputado na Assembleia
da República, Lutero Simango, estiveram presentes no partido desde a criação. É
uma questão que não pode ser vista do ponto de vista familiar. Ambos sempre
estiveram na linha da frente na luta pela afirmação do MDM em Moçambique”,
conclui.
Em
eleições anteriores era comum assistir-se à saída de membros da RENAMO e à
posterior entrada dos mesmos na FRELIMO. Hoje, a situação estabelece-se entre o
MDM e a FRELIMO, uma clara perceção da ascensão política do MDM. Mas o
porta-voz da RENAMO, António Muchanga, vê essa mudança sob uma perspetiva
positiva.
“Pelo
contrário, a RENAMO está a receber gente da FRELIMO e do MDM. Até agora não há
deserções”, assegura António Muchanga.
A
permanência deste cenário faz emergir algumas interrogações, tais como a integridade
e idoneidade dos atores políticos, bem como a maturidade dos mesmos.
“Há
situações de imaturidade. Não se percebe como é o Daviz Simango, sendo
candidato à Presidência da República, o irmão é chefe da bancada”, critica.
Deutsche Welle - Autoria Nádia
Issufo
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