domingo, 14 de setembro de 2014

MILITARES DA UNIÃO AFRICANA FORÇAM SEXO COM REFUGIADAS A TROCO DE ALIMENTOS




Escândalo sexual na Somália

Roger Godwin – Jornal de Angola

A história volta a repetir-se: soldados da União Africana são seriamente acusados de envolvimento num novo escândalo sexual.

Desta vez o cenário do crime foi a Somália, um país extremamente pobre, assolado por uma prolongada guerra contra o extremismo islâmico e desprovida de quase tudo.

As acusações são feitas por organizações humanitárias internacionais que operam na Somália e foram devidamente documentadas com diverso tipo de provas, como fotografias de jovens raparigas envolvidas em orgias com militares daquela força de intervenção e depoimentos de algumas das jovens forçadas a manter relações sexuais como modo de terem assim acesso a bens alimentares.

A quase totalidade dessas jovens raparigas são muçulmanas que fogem da raiva assassina do el Shabab e que julgavam ter da parte daqueles militares africanos o devido amparo e a sombra protectora para escaparem ao perigo que as espreitava.

É, pois, imprevisível o efeito psicológico que a prática dessas violações sexuais terá junto dessas jovens, que se vêm confrontadas com uma situação que as marginaliza socialmente e que as marca de forma indelével para um futuro de todo incerto.

Existem neste momento na Somália cerca de 22 mil militares de diversas nacionalidades envolvidas na força de intervenção com que a União Africana pretende ajudar o governo a combater os extremistas do grupo al Shabab.

Eles estão, sobretudo, concentrados em redor da capital, Mogadíscio, mas multiplicam-se em incursões pelo interior do país como forma de alargar o “anel de segurança” em redor daquele centro urbano. E, segundo as denúncias, é mesmo quando são efectuadas essas acções pelo interior do país que esses abusos sexuais são cometidos com maior intensidade e envolvendo jovens que, nalguns casos, apenas têm 11 e 12 anos de idade.

O assunto já foi endereçado às mais altas instâncias da União Africana que, laconicamente, se limitou a dizer que iria providenciar no sentido de ser feita uma ampla investigação.

Nada do que se está a passar na Somália é assunto novo. Umas vezes a história envolve soldados das Nações Unidas e noutras da União Africana. Em comum está, igualmente, a impunidade com que esses crimes são cometidos, tudo ficando abafado no segredo dos gabinetes.

As vítimas e as suas famílias, na maioria das vezes, remetem-se a um confrangedor silêncio, nuns casos com receio dos militares armados e, noutros, aliciadas com algumas compensações que ajudam a minorar os efeitos da extrema pobreza em que vivem.

Mas é o aproveitamento que esses predadores sexuais fazem da extrema pobreza e vulnerabilidade das suas vítimas que mais choca aqueles que, intransigentemente, lutam pela dignidade da pessoa humana e pelo prestígio que devem ter as organizações internacionais, civis e militares, que dão o seu melhor para ajudar os mais desprotegidos.

Numa altura em que a Somália conseguiu algumas conquistas militares face as investidas dos rebeldes islâmicos, estas denúncias apenas podem servir para ajudar a propaganda dos que usam a religião como modo de sobreposição aos valores da democracia, de modo a conseguirem aliciar populações indefesas para os seus mórbidos objectivos. Fragilizado por uma conjuntura interna extremamente adversa, o governo da Somália sente naturais dificuldades para fazer impor a sua autoridade, seja no combate ao extremismo islâmico seja na defesa das suas populações face aos perigos que ela enfrenta, mesmo os que são representados por militares da União Africana claramente impreparados para desempenhar a sua nobre missão com o necessário zelo e competência.

Por isso, compete aos países que integram aquela organização criarem os mecanismos capazes de julgar e punir todos aqueles que não se mostrem dignos da missão que foram chamados a cumprir e da qual depende a vida e o futuro de gente inocente, sobretudo de mulheres e crianças às quais a única esperança que resta é a do direito a uma vida condigna a resguardo dos apetites criminosos de meia dúzia de bandidos. Seria pois bom que a nível dos responsáveis políticos da União Africana este assunto tivesse prioridade, de modo a que se possam evitar futuras situações idênticas a esta e que não só desprestigiam a organização como dão alento e total razão à propaganda das seitas radicais que se alimentam do ódio que a prática de tais crimes cria junto de pessoas de bem.

É evidente que não se pode tomar o exemplo do que acaba de ser denunciado na Somália como sendo uma prática generalizada por parte das tropas da União Africana. Longe disso. Mas se nada for entretanto feito, se o silêncio continuar a ser a forma dos responsáveis lidarem com o problema, o assunto pode atingir proporções desconcertantes e fazer com que os justos sejam considerados absolutamente iguais aqueles que mancham o prestígio da instituição a que pertencem.

*Título PG

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