DIRECÇÃO EDITORIAL – Público,
editorial
É
chocante a atitude de Albino Azevedo Soares. Porque é superficial, escorregadia
e no mínimo parece desonesta. E porque coloca o país a pensar no que mais
estará a esconder.
Hoje,
o PÚBLICO divulga mais dois documentos da Assembleia da República nos quais se
lê taxativamente que o primeiro-ministro estava em regime de exclusividade
quando era deputado no final dos anos 1990.
O
primeiro, que publicámos na segunda-feira, era assinado pelo auditor jurídico
da Assembleia e dizia que Passos Coelho informara ter desempenhado “funções de
deputado em regime de exclusividade”. O segundo, que publicamos
hoje, é assinado pelo próprio Passos e diz: “Venho agora informar que
desempenhei as funções de deputado em regime de exclusividade.” E o terceiro,
enviado quatro meses antes por Passos, pede ao Parlamento “a atribuição do
subsídio de reintegração”, um direito reservado aos deputados com
exclusividade.
Esta
é a realidade. Perante as perguntas sobre se Passos tinha ou não exclusividade,
o que respondeu o secretário-geral da Assembleia da República, Albino Azevedo
Soares, antes de os documentos terem sido publicados pelo PÚBLICO?
Primeiro disse
que “não existe qualquer declaração de exclusividade entre Novembro de 1995 e 1999” . A seguir, perante a
publicação do primeiro documento, enviou um comunicado para as redacções no
qual escreveu, de novo, isto: “Não existe uma declaração de exclusividade relativa
ao período que medeia entre Novembro de 1995 e 1999.” Hoje, a nosso pedido,
mostrou mais dois documentos, mas não a totalidade do processo.
Como
pode o secretário-geral da Assembleia da República dizer que não tem uma
“declaração de exclusividade” quando tem nos seus arquivos duas cartas
assinadas pelo próprio primeiro-ministro a dizer justamente isso?
O
secretário-geral certamente acreditou que poderia escudar-se num formalismo
burocrático: Passos não terá preenchido o formulário-tipo da declaração de
exclusividade. É um papel que os deputados preenchem no início da legislatura.
Passos foi atípico e declarou a sua exclusividade no fim da legislatura. Mas
isso não altera a realidade. Passos declarou estar em exclusividade e recebeu
por isso 30 mil euros de subsídio de reintegração.
É
chocante a atitude de Albino Azevedo Soares. Porque é superficial, escorregadia
e no mínimo parece desonesta. E porque coloca o país a pensar no que mais
estará a esconder.
Na
foto: Albino Soares na sua tomada de posse como secretário-geral da AR
*Título ligeiramente alterado por PG
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