domingo, 7 de setembro de 2014

Portugal: SE NESTE PAÍS HOUVESSE VERGONHA



Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

Se neste país houvesse vergonha, o senhor vice-presidente da Ordem dos Advogados (OA), ex-admnistrador não executivo do BES, não dava a entrevista que deu ao jornal i. Não dizia que entrou mudo e saiu calado num serviço (?) que custou ao banco dezenas de milhares de euros por ano nem comparava a sua actividade a um acessório de senhora com o único intuito de nos convencer de que não teve nenhuma responsabilidade no BES e que, por isso, o Banco de Portugal lhe pode descongelar a conta onde deve ter guardado a poupança resultante da actividade de "artista". Se houvesse vergonha, todas as empresas onde o senhor vice-presidente da OA possa estar a exercer a actividade de acessório de senhora (administrador não executivo) corria com ele mudo e calado.

Se houvesse vergonha, os socialistas desistiam das primárias e deixavam votar apenas os falecidos militantes, porque morto já está um partido que dá o espectáculo vergonhoso que o PS deu com as golpadas no pagamento das quotas. Se houvesse vergonha, os debates que se seguem entre os dois candidatos seriam civilizados e com ideias para melhorar a vida dos portugueses.

Se houvesse vergonha, o Governo não desistia de governar com o único propósito de tentar ganhar as eleições do próximo ano, porque dessa forma já está a perdê--las, afastando muitos eleitores que lhe reconhecem o mérito de ter corrido o risco de ser impopular para salvar o País. Se houvesse vergonha, partidos que nos andaram explicar que aumentaram os impostos porque tinha de ser não andavam agora a fazer de conta que é possível baixá-los sem comprometer a consolidação das contas públicas.

Se houvesse vergonha, os ministérios da Educação e das Finanças reconheciam que o processo de rescisão amigável com os professores foi um desastre, com pessoas presas até ao último minuto sem saber se ocorreria uma das mudanças mais profundas da sua vida. Se houvesse vergonha, pediam desculpa pela cereja que colocaram em cima do bolo com uma minuta errada que obrigou professores a ter de assinar por duas vezes o adeus à sua profissão de sempre.

Mas neste país haverá sempre quem não tenha vergonha e venha para a praça pública confessar pecados como quem decreta para si próprio a absolvição. Partidos em que os mortos pagam quotas. Governos com partidos que se vêem a si próprios mais importantes do que o País. Governantes que tratam os funcionários públicos como se fossem eles transitórios e dispensáveis.

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