Paulo
Baldaia – Diário de Notícias, opinião
Se
neste país houvesse vergonha, o senhor vice-presidente da Ordem dos Advogados
(OA), ex-admnistrador não executivo do BES, não dava a entrevista que deu ao
jornal i. Não dizia que entrou mudo e saiu calado num serviço (?) que custou ao
banco dezenas de milhares de euros por ano nem comparava a sua actividade a um
acessório de senhora com o único intuito de nos convencer de que não teve
nenhuma responsabilidade no BES e que, por isso, o Banco de Portugal lhe pode
descongelar a conta onde deve ter guardado a poupança resultante da actividade
de "artista". Se houvesse vergonha, todas as empresas onde o senhor
vice-presidente da OA possa estar a exercer a actividade de acessório de
senhora (administrador não executivo) corria com ele mudo e calado.
Se
houvesse vergonha, os socialistas desistiam das primárias e deixavam votar
apenas os falecidos militantes, porque morto já está um partido que dá o
espectáculo vergonhoso que o PS deu com as golpadas no pagamento das quotas. Se
houvesse vergonha, os debates que se seguem entre os dois candidatos seriam
civilizados e com ideias para melhorar a vida dos portugueses.
Se
houvesse vergonha, o Governo não desistia de governar com o único propósito de
tentar ganhar as eleições do próximo ano, porque dessa forma já está a perdê--las,
afastando muitos eleitores que lhe reconhecem o mérito de ter corrido o risco
de ser impopular para salvar o País. Se houvesse vergonha, partidos que nos
andaram explicar que aumentaram os impostos porque tinha de ser não andavam
agora a fazer de conta que é possível baixá-los sem comprometer a consolidação
das contas públicas.
Se
houvesse vergonha, os ministérios da Educação e das Finanças reconheciam que o
processo de rescisão amigável com os professores foi um desastre, com pessoas
presas até ao último minuto sem saber se ocorreria uma das mudanças mais
profundas da sua vida. Se houvesse vergonha, pediam desculpa pela cereja que
colocaram em cima do bolo com uma minuta errada que obrigou professores a ter
de assinar por duas vezes o adeus à sua profissão de sempre.
Mas
neste país haverá sempre quem não tenha vergonha e venha para a praça pública
confessar pecados como quem decreta para si próprio a absolvição. Partidos em
que os mortos pagam quotas. Governos com partidos que se vêem a si próprios
mais importantes do que o País. Governantes que tratam os funcionários públicos
como se fossem eles transitórios e dispensáveis.
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