quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Angola: POLÍCIA DECRETA TOLERÂNCIA ZERO NAS ESTRADAS NACIONAIS



André da Costa, Cuanza Sul – Jornal de Angola

A província do Cuanza Sul esteve há pouco tempo sob o olhar atento da sociedade devido aos acidentes de trânsito na Estrada Nacional (EN) nº 100. A Polícia montou um amplo dispositivo numa operação contra a sinistralidade a que chamou “Tolerância Zero”.

Centenas de efectivos de diferentes forças da Polícia Nacional perfilavam no Comando Provincial do Cuanza Sul, na cidade do Sumbe, onde recebiam instruções para mais uma operação de controlo e fiscalização do trânsito, no quadro da operação “Tolerância Zero”.

O chefe do posto de comando da operação, comissário Alberto Lisboa Mário, reiterou aos oficiais e agentes da Investigação Criminal, Inspecção das Actividades Económicas, Ordem Pública, Brigada Especial de Trânsito, Viação e Trânsito e Serviço de Migração e Estrangeiros os propósitos de mais esta acção.

Recordou que, nos últimos tempos, a província do Cuanza Sul virou manchete nos noticiários nacionais e mesmo internacionais devido aos acidentes aparatosos registados no seu território. Referiu que o Executivo angolano está empenhado na construção e reabilitação de estradas para ligar o país e levar o desenvolvimento a todo o território, não para que angolanos morram por negligência própria ou de outrem.

Os efectivos foram distribuídos por vários postos de controlo, montados ao longo da Estrada Nacional nº 100, que liga Luanda, Cuanza Sul e Benguela, sob a e supervisão de vários responsáveis, entre o segundo comandante provincial de Benguela, sub-comissário Ernesto Haymune, o comandante da Unidade de Trânsito de Luanda, superintendente Roque Silva e o chefe das operações da Brigada Especial de Trânsito, superintendente-chefe Tomás Isata Sampaio “Sankara”. 

A operação, que começou logo às 6h00 da manhã, pouco tardou para dar os primeiros resultados. Sentado na cabine do camião, Ângelo Silva, 30 anos, foi autuado quando transportava sem as devidas medidas de segurança, 11 bois. Vinha de Caluquembe, na Huíla, e tinha Luanda como destino. 

O agente de trânsito Carlos dos Santos, que o interpelou, fê-lo recordar que existem regras para o transporte de animais que, no caso, não foram cumpridas, sendo por isso, passível de uma multa pesada e apreensão do veículo, até se fazer o transbordo. Para a condução de bovinos, a carroçaria deve possuir estrutura adequada, mais alta e coberta, de forma que os animais se mantenham em pé.

António Cassul
, também teve o camião apreendido por transportar 23 bois nas mesmas condições. O chefe da secção de acidentes da Direcção Provincial de Viação e Trânsito, sub-inspector António Sozinho, afirmou que as viaturas que transportam gado de forma inadequada contribuem para os acidentes de viação.

Explicou que a falta de perícia na condução, desobediência às regras de trânsito, condução em estado de embriaguez, viaturas em mau estado técnico e falta do título de registo de propriedade levaram à apreensão de dezenas de viaturas no seu posto de controlo, junto do Rio Longa.

Floriano Amílcar transportava na carrinha uma carga de batata e cana-de-açúcar em cima da qual vinham três camponesas. O agente de trânsito José Abel diz à nossa reportagem que a o veículo se destina ao transporte de mercadorias e não de pessoas. Por isso, passou uma multa no valor de 13.400 kwanzas. O condutor reconheceu o erro e, conformado com a multa, prometeu não voltar a transgredir.

Sem registo de propriedade, António Josué disse ao agente que o jipe que conduzia tinha de voltar a Luanda para a correspondente legalização, já que tinha seguido para o Namibe sem ela. Teve o carro apreendido ao ser autuado pelo agente Domingo Pedro.

No rio Longa, Filipe António teve o Toyota Hiace, vulgo “quadradinho”, apreendido por irregularidade no termo de compra e venda. Neste posto, dezenas de viaturas foram retidas e os militares das FAA ajudavam a Polícia na operação “Tolerância Zero”.

No entroncamento da Estrada Nacional 240, entre a Gabela e a Quibala, um camião conduzido pelo cidadão chinês Zhoo Quingzehem, proveniente de Luanda e com destino a Benguela, tinha os pneus carecas e a cair aos pedaços. Transportava material de construção.

O agente de trânsito Afonso Kussucada aconselhou a troca imediata.  Disse ao JA que o camião só saía dali com os pneus em condições porque “a reconstrução do país é importante, mas a vida humana é muito mais”.

Benguela envolvida

À semelhança do Cuanza Sul e Luanda, foram montados em Benguela vários postos de controlo para prevenir acidentes e impedir a circulação de viaturas com menos de 20 lugares em serviço de táxi.

No posto montado na estrada Benguela-Lobito foram aprendidas várias viaturas do tipo Toyota Hiace que pretendiam seguir com passageiros para Luanda. João Calunga, motorista, alega desconhecer tal medida, uma vez que faz o trajecto de forma irregular há já algum tempo. Sensibilizado por agentes de trânsito, João acabou por se conformar com a decisão. Os passageiros tiveram de seguir viajem em autocarros licenciados para essa actividade. 

O Comandante provincial da Polícia Nacional no Cuanza Sul, comissário Alberto Lisboa Mário, conversou com os populares sobre a segurança no transporte de passageiros, de modo a se evitar que mais cidadãos morram nas estradas. Albertina Manuel, 51 anos, e Jacinto Paiva, 68, resmungavam por verem apreendida a viatura em que seguiam. Depois das explicações do comissário Lisboa Mário e outros efectivos da Polícia, acabaram por dar razão à Polícia e incentivaram os agentes a continuarem a operação.

Postos de controlo

No Cuanza Sul foram montados postos de controlo na ponte sobre o rio Longa, na zona do Baião, entroncamentos do Instituto Nacional de Petróleos e do antigo controlo Sul, no Nosso Super, ex-controlo Norte e na área denominada Eval Guerra.

Foram ainda montados postos de controlo na Barra do Cuanza e na Canjala e vários ountros em Benguela e no Lobito. Os efectivos da Esquadra de Helicópteros, em coordenação com os agentes da Brigada Especial de Trânsito, efectuaram o patrulhamento aéreo ao longo da EN nº 100 entre as três províncias. As estatísticas da Direcção Nacional de Viação e Trânsito apontam para mais de 13 mil acidentes de Janeiro a Setembro deste ano, que provocaram mais de três mil mortes e quatro mil feridos, disse o sub-comissário Conceição Gomes, director nacional adjunto de Viação e Trânsito.

O comissário Alberto Lisboa Mário, delegado provincial do Ministério do Interior e comandante provincial da Polícia do Cuanza Sul, disse que a operação “Tolerância Zero” contra a sinistralidade rodoviária teve como finalidade impedir a actividade de transportes públicos interprovinciais em viaturas não autorizadas por lei e sensibilizar os cidadãos para a observância das normas de segurança. Visou ainda impedir o transporte de pessoas em motorizadas de três rodas nas localidades ao longo da estrada nacional, a verificação da lotação e dos dispositivos de protecção, como cadeiras de retenção, cintos de segurança e capacetes.

Foram montados radares e efectuados testes de alcoolémia nos vários postos montados ao longo da EN nº 100. Lisboa Mário afirmou que foram efecuadas 3.685 interpelações de viaturas e 54 motorizadas, apreendidas 55 viaturas ligeiras e pesadas, 46 motorizadas, 50 cartas de condução, 49 livretes, nove títulos de registo de propriedade. Foram ainda aplicadas mais de 250 multas por diversas infracções às leis do trânsito, detidos 20 cidadãos por condução ilegal e uso de álcool, assim como por falsificação da carta.

A ajudar na operação estiveram os escuteiros. Laurinda e Alberto, 17 anos, e João Hilário, 20, afectos ao núcleo do Sumbe, ajudaram os agentes de trânsito na distribuição dos panfletos e no aconselhamento sobre as regras de trânsito. André Chicote, automobilista, que saía de Porto Amboim para Luanda, os conselhos e panfletos das mãos de Laurinda, e prometeu conduzir com prudência para prevenir acidentes.

João Castro encorajou o trabalho da polícia e alegou por outro lado que os acidentes podem ser evitados caso cada automobilista respeite o Código de Estrada. A campanha teve igualmente a participação de efectivos das Forças Armadas Angolanas. Videira Rufino, recebeu um panfleto das mãos de João Hilário e lê atentamente o seu conteúdo em cinco minutos. Depois abana a cabeça devido a estatística das mortes na estrada.

Imagem: Casimiro Pedro – Jornal de Angola

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