Moçambique
junta-se a uma campanha virtual no Dia Internacional da Não-Violência. E numa
altura em que a campanha eleitoral assume contornos pouco pacíficos, várias
organizações unem-se para dizer não aos confrontos.
Para
assinalar o Dia Internacional da Não-Violência, que se comemora esta
quinta-feira (02.10), o projeto "Espaços Não Violentos", idealizado
por um grupo humanista mundial, lançou uma campanha internacional virtual que
convida a refletir sobre o tema.
Moçambique
também se juntou a esta iniciativa. "As pessoas tiram uma selfie onde põem
aquilo que as inspira sobre a paz e a não-violência, algo criativo e
individual, e partilham-na no seu Facebook ou no Twitter", explica Djamila
Andrade, uma jovem moçambicana que vive na capital francesa, Paris, e que está
ligada ao projeto.
Em
território moçambicano, as pessoas começaram a aderir à iniciativa nos últimos
dias, "em diferentes lugares, com dizeres sobre a não-violência",
acrescenta a jovem engenheira de telecomunicações.
A
campanha é lançada numa altura em que cresce a violência e os confrontos entre
partidos na campanha para as eleições gerais de 15 de outubro em Moçambique. Nos
últimos dias registaram-se vários confrontos na província de Gaza, no sul do
país, e também em Nampula, no norte.
"A
campanha calha num momento em que, infelizmente, a campanha eleitoral tem
tomado esta proporção violenta. Mesmo antes já se tinha instado este clima de
violência física em Moçambique", lamenta Djamila Andrade.
Por
isso, o momento "é bastante oportuno não só para dizer que não queremos
esta violência como moçambicanos, mas também manifestar que o povo se pode
manifestar de forma não violenta sobre os problemas em Moçambique",
argumenta.
"Não
à Violência Eleitoral"
"Não
à Violência Eleitoral" é o mote para a conferência de imprensa que o
Centro de Integridade Pública (CIP), a Liga Moçambicana dos Direitos Humanos
(LDH), o Parlamento Juvenil e o Fórum Nacional de Rádios Comunitárias de
Moçambique (FORCOM) agendaram para esta quinta-feira.
As
organizações aproveitam o Dia Internacional da Não-Violência para uma reflexão
nacional sobre a violência que tem manchado a campanha. E querem fazer um
alerta.
"As
eleições ganham-se nas urnas, onde deve prevalecer a vontade do povo, e não à
força da violência. As eleições são um momento de reflexão democrática, de
festa da cidadania e de exaltação da liberdade democrática", lembra
Salomão Muchanga, presidente do Parlamento Juvenil.
O
dirigente do movimento orientado para a participação de jovens moçambicanos na
vida política e social do país sublinha ainda que "a violência eleitoral
constitui uma ameaça para a construção e consolidação da democracia
participativa e inclusiva em Moçambique."
Apesar
das "situações de intolerância política, de violência física e abuso de
bens públicos" que se tem vivido, Salomão Muchanga acredita que as
eleições em Moçambique serão pacíficas.
"Por
todo o país, nas províncias, nos distritos, há um sentimento de pertença às
eleições que não se revê na violência eleitoral. A nossa mensagem é de serenidade
e de compromisso com a não-violência."
Olho
do Cidadão atento
Os
acontecimentos que se têm registado em Moçambique também são condenados pelo
Olho do Cidadão, uma plataforma de bloggers que aposta no conceito
"cidadão-jornalista".
O
movimento cívico lançou recentemente a campanha "Não à Violência nas
Eleições". Através de mensagens escritas apelam aos atores políticos e à
sociedade para "um ambiente de paz e tranquilidade antes, durante e depois
das eleições".
Dércio
Ernesto, um dos membros do movimento, esperava que "o processo fosse mais
pacífico, como uma espécie de acompanhamento daquilo que já aconteceu e que foi
selado entre o Presidente da República, Armando Gebuza, e a Resistência
Nacional Moçambicana (RENAMO)", o maior partido da oposição.
"Esperávamos que fosse um momento mais de festa e democrático e não que houvesse focos de violência. Até há espancamentos e danos materiais avultados", lamenta o blogger moçambicano.
"Esperávamos que fosse um momento mais de festa e democrático e não que houvesse focos de violência. Até há espancamentos e danos materiais avultados", lamenta o blogger moçambicano.
Atualização
em tempo real sobre eleições
O
Olho do Cidadão vai monitorizar e observar as eleições gerais de 15 de outubro
através do projecto “Txeka-lá”. Na primeira semana de outubro, estará
disponível uma plataforma online onde os cidadãos poderão "reportar tudo
de positivo e de negativo" que esteja a acontecer no dia da ida às urnas.
A
ideia é “acompanhar o processo e manter os dados em tempo real da observação
através de um sistema que é gerido numa base, que se vai constituir até dia 15
de outubro, e com uma equipa de jovens”, explica Dércio Ernesto. A coordenação
será feita juntamente com outras associações da sociedade civil, com a polícia,
os meios de comunicação social e políticos.
"É
uma espécie de situation room, que é uma sala de operações com vários atores
que no dia da votação acompanham o processo e mantém informada a sociedade
através de actualizações permanentes sobre o que está a acontecer no
terreno", revela Dércio Ernesto.
Os
observadores da sociedade civil estarão espalhados por vários pontos do país
para validar a participação dos cidadãos, para que "tudo o que for
publicado no website seja válido", explica o Olho do Cidadão.
Madalena
Sampaio – Deutsche Welle
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