Luís
Rosa – jornal i, editorial
A
ganância, esse pecado capital, acaba por afundar ainda mais a família por causa
de 5 milhões de euros
Depois
de darmos a história que publicamos aqui ao lado como confirmada, só me ocorreu
uma palavra: “ganância”. Não é só de Ricardo Salgado, mas sim de praticamente
toda uma família de banqueiros. São todos os ramos que se fazem representar no
Conselho Superior do Grupo Espírito Santo. Todos terão recebido uma comissão de
um milhão de euros pelo negócio de compra dos submarinos por parte do Estado português.
O
trabalho de Sílvia Caneco demonstra que a família Espírito Santo não pára de
nos surpreender – a nós, os os comuns mortais. Já tínhamos assistido a uma
guerra familiar em plena praça pública, à derrocada do banco da família e à
falência de sociedades fundamentais do Grupo Espírito Santo (GES). Mas ainda
não sabíamos que a família Espírito Santo tinha recebido alegadas “comissões”
do negócio dos submarinos. E muito menos que discute de forma aberta, e em
reuniões de um órgão institucional do grupo, o alegado pagamento de “comissões”
que empresas do GES alegadamente fizeram aos administradores da casa mãe. São 5
milhões de euros que Ricardo Salgado, então presidente executivo do BES,
confirmou várias vezes naquele dia 7 de Novembro de 2013 que foram pagos aos
cinco ramos da família Espírito Santo, liderados por Ricardo Salgado, José
Manuel Espírito Santo (ao qual pertence Ricardo Abecassis), Moniz Galvão
(representado por Manuel Fernando Espírito Santo), comandante António Ricciardi
e Pedro Mosqueira do Amaral.
A
primeira pergunta é simples: porquê? A que título estes banqueiros têm direito
a receber uma comissão por um negócio do qual uma empresa do seu grupo foi
consultora? A que propósito é criada uma rede obscura de circulação de dinheiro
para pagar 5 milhões de euros aos ramos da família Espírito Santo? E qual a
necessidade de uma “comissão” sobre um negócio com o Estado português com os
dividendos e os salários principescos que receberam anualmente do GES e do BES?
Que necessidade tinham? Uma coisa é certa: as comissões que foram pagas pela
Escom muito dificilmente terão justificação legal. Trata-se de receitas que
constituem património da Escom e que não podem ser utilizadas desta forma.
Ajustiça ditará. O Departamento Central de Investigação e Acção Penal tem aqui
mais uma excelente oportunidade e um desafio para desenvolver as investigações
ao BEsgate.
Ricardo
Salgado já tinha dado provas do seu relativismo moral com a história da prenda
dos 14 milhões de euros que recebeu do seu cliente José Guilherme. Tentou
desvalorizar o óbvio: o presidente executivo de um banco não pode receber
prendas ou promover consultorias a clientes. Com o trabalho de investigação que
o i hoje revela também se comprova que Ricardo Salgado geriu a família ao longo
dos últimos 30 anos com mão de ferro e com base na regra “não sabe, não
pergunte”, ao mesmo que tempo que a adocicava a boca dos restantes familiares com
generosos pagamentos de dividendos a cada ramo ou de alegadas “comissões”, como
a dos submarinos, divididas por todos. O facto de assuntos como as “comissões”
dos submarinos serem discutidos e aprovados pelo Conselho Superior do GES
revela igualmente que afinal a estratégia de Ricardo Salgado pode ter
fundamento. Afinal todos sabiam o que Salgado fazia?
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