Jacarta,
02 nov (Lusa) - Organizações não-governamentais (ONG) de direitos humanos
receiam que o novo ministro indonésio da Defesa, Ryamizard Ryacudu, um antigo
chefe do Estado Maior do Exército envolvido em polémica, prejudique a
cooperação entre a Indonésia e Timor-Leste.
Rafendi
Djamin, diretor executivo do Grupo de Trabalho dos Direitos Humanos (HRWG, na
sigla inglesa), que congrega várias ONG indonésias, alerta que a boa cooperação
entre os dois países na área da defesa "tem de ser acompanhada de
perto", porque potencialmente Ryamizard Ryacudu "irá interromper essa
relação".
Timor-Leste
tem cooperado com o país vizinho em várias áreas, incluindo na formação das
forças armadas, e comprado material bélico à Indonésia, mas os dois países
ainda têm questões fronteiriças terrestres e marítimas por resolver.
"É
uma questão de mentalidade, que é difícil de mudar", justifica Rafendi
Djamin, esclarecendo que o novo governante "lamenta profundamente"
que a antiga província de "Timor-Timur", onde combateu, tenha
conquistado a independência e é alguém que receia a "infiltração de
interesses estrangeiros" na Indonésia.
John
Miller, da Rede de Ação para a Indonésia e Timor-Leste (ETAN, na sigla
inglesa), prevê uma cooperação pragmática entre os exércitos dos dois países,
embora admita que, se fizesse parte do governo timorense, estaria "um
pouco preocupado, não quanto à atitude do Presidente, mas em relação à atitude
do ministro da Defesa".
O
ativista considera que "ter uma boa relação com Timor-Leste é uma forma de
o governo indonésio mostrar o quanto eles mudaram", mas lembra que a
atividade militar aquando do referendo de 1999, que ditou a independência
timorense e que culminou numa onda de violência que fez mil mortos, "não
foi algo que o [então] Presidente Habibie quisesse".
Já
Rizal Darma Putra, do Instituto Indonésio para Estudos Estratégicos e de Defesa
(Lesperssi, na sigla indonésia), acredita que a cooperação militar "ainda
será possível no futuro" e extensível a outros campos, sugerindo uma
definição de "como implementar a aplicação da lei, especialmente na
fronteira entre Timor-Leste e a Indonésia".
Porém,
o analista entende que, devido às alegações de violações de direitos humanos
que recaem sobre Ryamizard Ryacudu, a Indonésia "terá dificuldade" em
cooperar com a Austrália na área da segurança.
Ativistas
de direitos humanos acusam o exército indonésio sob liderança de Ryamizard
Ryacudu de ter cometido abusos contra grupos separatistas de Aceh, na ilha de
Sumatra, e da Papua Ocidental.
Em
2003, o ex-general apelidou de heróis os soldados detidos por terem morto um
líder da Papua Ocidental favorável à independência daquela província.
Ryamizard
Ryacudu, com quem a Lusa tentou falar sem sucesso, negou recentemente ter
cometido qualquer violação de direitos humanos durante os 35 anos em que esteve
nas forças militares.
A
escolha do novo ministro da Defesa é vista por vários analistas como uma
cedência política do Presidente eleito, Joko Widodo, ao Partido Democrático
Indonésio da Luta (PDI-P), liderado pela antiga presidente do país, Megawati
Sukarnoputri, que também se opôs à independência timorense.
O
novo Presidente indonésio, que não conta com o apoio da maioria no Parlamento,
defende uma aposta no mar no âmbito da sua política para desenvolver o país,
sendo para tal prioritária a resolução de questões fronteiriças e de segurança.
John
Miller, da ETAN, considerou "muito estranha" a escolha de um ministro
da Defesa proveniente do setor militar, frisando que "uma das principais
reformas" da democracia indonésia tem sido "indicar civis para
ministros da Defesa".
Embora
não acredite que as forças armadas venham a recuperar o poder político de que
gozaram outrora, Rafendi Djamin, da HRWG, receia que a reforma do código penal
militar indonésio continue "por acabar" e denuncia casos de
"impunidade" em crimes cometidos por militares.
Vários
ativistas entendem que Joko Widodo terá "dificuldade" em fazer
cumprir as promessas eleitorais de abordar as violações de direitos humanos
ocorridas no passado.
Rizal
Darma Putra, do Lesperssi, lembra mesmo que o Presidente indonésio conta com o
apoio de vários ex-generais cujos nomes foram associados a violações de
direitos humanos em Timor-Leste, como Wiranto.
AYN//
APN - Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário