Felipe
Amorim, São Paulo – Opera Mundi
Pressionado
internamente pelo aumento da entrada de estrangeiros, premiê britânico anunciou
reforma que cortará benefício social de 300 mil pessoas
Pressionado
internamente pelas recente estatísticas de aumento do número de imigrantes no
Reino Unido, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou nesta
sexta-feira (28/11) uma série de medidas com o objetivo de diminuir o fluxo de
estrangeiros que chegam ao país. Mais de 300 mil pessoas devem ser afetadas
pelo pacote que prevê diversos cortes em benefícios sociais.
Ciente
de que a política adotada pela União Europeia não permite alterações no sistema de livre-circulação de
pessoas no continente, o premiê do Partido Conservador pressionou Bruxelas. Em
seu discurso, Cameron sinalizou que a permanência do Reino Unido no bloco
poderá depender da margem que o governo de Londres terá para impor limites à
imigração — a chanceler alemã, Angela Merkel, já havia declarado, no início do
mês, que a cláusula é "inegociável".
"Se
nossas preocupações morrerem em ouvidos surdos [dos líderes da UE] sem que
consigamos pôr nossa relação com o bloco em um patamar melhor, é claro que não
descartaria nenhuma opção", disse David Cameron, em aguardado discurso
sobre o tema. Até hoje, esta é a declaração mais forte do líder britânico sobre
a possibilidade de rompimento com a UE.
A
principal medida anunciada por Cameron estabelece que os cidadãos europeus que
decidam emigrar para o Reino Unido deverão trabalhar e residir no país por pelo
menos quatro anos antes de poder ter acesso aos benefícios sociais.
Desempregados não teriam qualquer tipo de apoio do governo e quem não conseguir
arranjar trabalho em um período de seis meses seria obrigado a deixar o país.
Em
um movimento para tentar retomar a credibilidade interna no tema da imigração,
o objetivo de Cameron com o pacote de mudanças é desestimular estrangeiros que
queiram se mudar para o Reino Unido, deixando o país menos "sedutor"
aos olhos dos migrantes. No entanto, a implementação da reforma dependerá das
eleições gerais, previstas para maio de 2015.
583
mil estrangeiros em um ano
Há
alguns dias, relatório divulgado pelo governo britânico registrou aumento
significativo na entrada de estrangeiros no país no último ano. Entre junho de
2013 e junho de 2014, o Reino Unido recebeu 583 mil imigrantes, segundo números
apresentados pelas autoridades, que classificaram de "significativo"
o aumento estatístico. No mesmo período do ano anterior, foram contabilizados
502 mil estrangeiros entrando no país.
A
divulgação do registro aumentou ainda mais a pressão sobre o premiê. Desde o
início de seu governo, Cameron havia fixado a redução da imigração como meta de
sua gestão — política rejeitada pelos liberais-democratas, legenda que também
integra o Executivo britânico.
Os
dados estatísticos também dão conta de que a imigração líquida — diferença
entre os cidadãos que chegarame e os que deixaram o país — foi de 260 mil
pessoas, cifra muito superior aos 182 mil registrados no ano anterior.
Segundo
o escritório que realizou o estudo, o principal fator responsável pelo aumento
diz respeito à entrada no Reino Unido de cidadãos europeus vindos de países do
bloco.
Também
nesta semana, o papa Francisco, em discurso histórico diante do Parlamento Europeu, havia
pedido que os governos do continente impulsionassem políticas públicas para
acolher melhor os imigrantes. "É preciso que haja uma resposta unificada à
questão da imigração. Não podemos permitir que o Mar Mediterrâneo vire um vasto
cemitério", declarou o chefe da Igreja Católica.
Por
outro lado, há atualmente 1,3 milhões de britânicos vivendo em outros países da
União Europeia. Um eventual rompimento com o bloco colocaria em xeque a
situação desse contingente de pessoas. "Isso é algo que realmente temos
que pensar cuidadosamente antes de abrir mão", ponderou Cameron em seu
discurso.
Foto:
EFE
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