sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Cameron: Permanência de Reino Unido na UE dependerá da possibilidade de frear imigração



Felipe Amorim, São Paulo – Opera Mundi

Pressionado internamente pelo aumento da entrada de estrangeiros, premiê britânico anunciou reforma que cortará benefício social de 300 mil pessoas

Pressionado internamente pelas recente estatísticas de aumento do número de imigrantes no Reino Unido, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou nesta sexta-feira (28/11) uma série de medidas com o objetivo de diminuir o fluxo de estrangeiros que chegam ao país. Mais de 300 mil pessoas devem ser afetadas pelo pacote que prevê diversos cortes em benefícios sociais.

Ciente de que a política adotada pela União Europeia não permite alterações no sistema de livre-circulação de pessoas no continente, o premiê do Partido Conservador pressionou Bruxelas. Em seu discurso, Cameron sinalizou que a permanência do Reino Unido no bloco poderá depender da margem que o governo de Londres terá para impor limites à imigração — a chanceler alemã, Angela Merkel, já havia declarado, no início do mês, que a cláusula é "inegociável".

"Se nossas preocupações morrerem em ouvidos surdos [dos líderes da UE] sem que consigamos pôr nossa relação com o bloco em um patamar melhor, é claro que não descartaria nenhuma opção", disse David Cameron, em aguardado discurso sobre o tema. Até hoje, esta é a declaração mais forte do líder britânico sobre a possibilidade de rompimento com a UE.

A principal medida anunciada por Cameron estabelece que os cidadãos europeus que decidam emigrar para o Reino Unido deverão trabalhar e residir no país por pelo menos quatro anos antes de poder ter acesso aos benefícios sociais. Desempregados não teriam qualquer tipo de apoio do governo e quem não conseguir arranjar trabalho em um período de seis meses seria obrigado a deixar o país.

Em um movimento para tentar retomar a credibilidade interna no tema da imigração, o objetivo de Cameron com o pacote de mudanças é desestimular estrangeiros que queiram se mudar para o Reino Unido, deixando o país menos "sedutor" aos olhos dos migrantes. No entanto, a implementação da reforma dependerá das eleições gerais, previstas para maio de 2015.

583 mil estrangeiros em um ano

Há alguns dias, relatório divulgado pelo governo britânico registrou aumento significativo na entrada de estrangeiros no país no último ano. Entre junho de 2013 e junho de 2014, o Reino Unido recebeu 583 mil imigrantes, segundo números apresentados pelas autoridades, que classificaram de "significativo" o aumento estatístico. No mesmo período do ano anterior, foram contabilizados 502 mil estrangeiros entrando no país.

A divulgação do registro aumentou ainda mais a pressão sobre o premiê. Desde o início de seu governo, Cameron havia fixado a redução da imigração como meta de sua gestão — política rejeitada pelos liberais-democratas, legenda que também integra o Executivo britânico.

Os dados estatísticos também dão conta de que a imigração líquida — diferença entre os cidadãos que chegarame e os que deixaram o país — foi de 260 mil pessoas, cifra muito superior aos 182 mil registrados no ano anterior.

Segundo o escritório que realizou o estudo, o principal fator responsável pelo aumento diz respeito à entrada no Reino Unido de cidadãos europeus vindos de países do bloco.

Também nesta semana, o papa Francisco, em discurso histórico diante do Parlamento Europeu, havia pedido que os governos do continente impulsionassem políticas públicas para acolher melhor os imigrantes. "É preciso que haja uma resposta unificada à questão da imigração. Não podemos permitir que o Mar Mediterrâneo vire um vasto cemitério", declarou o chefe da Igreja Católica.

Por outro lado, há atualmente 1,3 milhões de britânicos vivendo em outros países da União Europeia. Um eventual rompimento com o bloco colocaria em xeque a situação desse contingente de pessoas. "Isso é algo que realmente temos que pensar cuidadosamente antes de abrir mão", ponderou Cameron em seu discurso.

Foto: EFE

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