DINHEIRO
Folha
8 Digital (ao) - 20 dezembro 2014
Aquela
que muitos consideram, uma especializada quadrilha de larápios, não pára de
surpreender pelos tentáculos e táctica, muitas, financeiramente dantescas. De
audição em audição, na Assembleia da República, em Portugal, os ex-homens
fortes do BES, surgem com novas revelações, que nos levam a acreditar, termos
andado, durante muito tempo enganados, melhor, copiosamente enganados, por uma
espécie de corja endinheirada, que manipulava com maestria dados financeiros,
para se beneficiar, defraudando clientes e o sistema bancário de vários
países. Vistos como iluminados financeiros, transitavam com a máxima
impunidade e imunidade pelos corredores do poder de diferentes países.
O
grupo criou ao longo do percurso a ilusão de ser uma muralha sólida de betão financeiro,
mas, afinal, nada mais eram que uma espécie de “santidade” mafiosa.
Especialistas na exploração da debilidade bancária de alguns países, cujos
líderes precisavam de um “esgoto legal” capaz de desviar dinheiro público,
para alimentar contas bancárias privadas de corruptos e corruptores,
trafegaram milhões e milhões de dólares e euros, entre Portugal, Angola,
Venezuela, Guiné Equatorial, etc. Em alguns destes países tinham carta branca
dos respectivos líderes, eles também, autênticos “desviadores cabriteiros” do
dinheiro do erário público dos respectivos Estados.
Em
muito pouco tempo, o mundo viu a rápida transformação de proletários em proprietários. Vorazes
e insensíveis ao sofrimento dos respectivos povos, escancaram as portas do
cofres bancários e, num toque de mágica, emergem “corruptamente” como
milionários, bilionários e afins…
Em
nome do pai, do filho e do espírito santo, amém, são autênticos larápios, que
não se coíbem de mentir descaradamente, quer como falsos vendedores de ovos ou
descendentes de famílias ricas. Invertebrada mentira.
Adiante.
AS
MENTIRAS DE ÁLVARO SOBRINHO
Os
angolanos cuja higiene mental ainda está preservada, ficaram estupefactos
quando no dia 18 de Dezembro ouviram o ex-presidente do BES Angola (BESA),
Álvaro Sobrinho dizer, em sede do parlamento português, ser oriundo de uma
família rica, razão justificativa da proveniência dos milhões e milhões de
dólares acumulados nos últimos anos, que lhe permitiram adquirir,
milionariamente, um conjunto de empresas, que vão da comunicação social,
industrial a clubes de futebol. É pura MENTIRA a proveniência ser familiar,
disse ao F8, uma fonte que bem conhece a família.
Álvaro
Sobrinho tem participações no capital de grupos de ‘media’, como a Newshold, o
jornal i e o semanário Sol, bem como no Sporting. “Faço parte de uma família
angolana com posses. Os meus pais compraram-me uma casa em Cascais e um carro
e vim para Portugal estudar”, justificou, acrescentando: “Eu tenho os
investimentos que eu tenho, mas não é o âmbito desta comissão. Quando esta
comissão colocar estas perguntas a todas as pessoas que aqui vêm, que até
podem ter mais do que eu, poderei responder”. Esquisita justificativa, pois se
iniciou deveria fundamentar, para não deixar suspeições, porquanto os anos de trabalho
não seriam bastantes para aquisição do seu actual património.
“Entre
2002 a
2012 trabalhei como presidente da Comissão Executiva do BESA e vice-presidente
do Conselho de Administração do BESA. Saí da ESAF em finais de 2001 para
começar com a operação [do BESA] que começou em 2002″, disse Álvaro Sobrinho.
A
sua família, na realidade tinha pequenos negócios de sobrevivência, como a
maioria dos autóctones angolanos, cuja receita mensal e anual, não dá para comprar
a pronto um apartamento em Aveiras de Cima, na grande Lisboa. Nunca teve uma
fábrica industrial, uma mina de diamantes, um poço de petróleo, uma empresa de
camionagem, uma cadeia hoteleira, nada salvo o mais visível ser uma discoteca.
A
actual ostentação de riqueza deriva do “cabritismo” bancário inspirado na
lógica do regime de “roubar ser um dever revolucionário”, daí ser uma política
institucional, com base nestes “cabos de guerra” bancários, transformar os
dirigentes do regime em milionários, como base em ordens superiores, baixadas
em papelinhos.
Em
função das facilidades com que era orientado para “transitar” milhões de dólares,
muitas vezes, diz-se, com chancela presidencial, para contas particulares de
servidores públicos, incluindo militares generais, nada obstava a que pudesse
utilizar a máxima de “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.
Não
é por mero acaso e isso, não disse por ser, na sua opinião, segredo bancário,
que dois dos potenciais sócios do BESA, serem Manuel Hélder Vieira Dias Júnior
Kopelipa e Leopoldino Fragoso do Nascimento, respectivamente chefe da Casa de
Segurança do Presidente da República e assessor do chefe da Casa de
Segurança, os generais no activo mais ricos do mundo, sem nunca terem inventado
uma bala ou arma. Como morre de inveja o russo Kalashinikov, inventor da arma
mais famosa do mundo a AKM.
No
entanto, de uma coisa ficou a saber-se, pela voz de Sobrinho, “mais de três mil
milhões de euros de crédito concedido pelo BES ao BESA, que não foram
reembolsados, nunca saíram de Portugal”. Boa! Mas uma fonte bancária diz ter o
dinheiro sido transferido para contas internacionais de alguns altos
mandatários angolanos e alguns gestores do BES e BESA, com aval do Banco
Nacional de Angola.
Daí
que dizer isso, diante da Comissão Parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, é
muito pouco, quando é quase nada, afirmar, “dizer que este dinheiro saiu para
financiar o BESA não é verdade”, porque “o dinheiro ficou no BES Portugal”.
Pois ficou. Mas isso não é o mais importante. Importante é saber porque nunca
denunciou e, mais grave, como foram feitas as aquisições das suas empresas em
Portugal.
Foram
através de transferências bancárias internacionais de Angola e registadas
justificadamente no Banco de Portugal?
Não!
Sobre isso o mutismo, ou a ladainha de “todas as operações com moeda estrangeira
eram feitas, sempre, pelo BES”, pelo que os montantes em falta “nunca saíram
do BES para o BESA”.
E
como os deputados portugueses refastelaram-se neta justificativa, Álvaro
Sobrinho, que se escondeu em muitos segredos, sobre Angola, foi tapando o sol
com a peneira, ao dizer que “a concessão de crédito do BESA seguia regras próprias”,
passando por um comité de crédito, onde tinha papel relevante uma das suas
cunhadas.
E
aqui chegados, fez um aparte para desancar em Ricardo Salgado ,
que havia detonado, também, em sede parlamentar o facto. “É no mínimo
deselegante esta insinuação, pois a minha cunhada sempre esteve na área
comercial e nunca mudou de área”, assegurou Sobrinho.
“As
propostas, como em todos os bancos, eram feitas de maneira a que quando fosse
tomada uma decisão, a gestão de risco do banco já tinha parecer, pelo que fica
para a Comissão Executiva e o Conselho de Administração do BESA a sua
aprovação”. E como ninguém perguntou quem eram os beneficiários e as garantias
fornecidas, Álvaro Sobrinho escusou-se em dizer tratarem-se de dirigentes,
exclusivamente, dirigentes do partido no poder em Angola.
“A
linha do BES ao BESA é uma grande questão para toda a gente. Esta linha foi
feita, se não me engano, em 2008. Iniciou-se com 1,5 mil milhões de dólares e
tinha como finalidade a tomada firme, a subscrição, de um fundo de
desenvolvimento do Estado angolano”, aqui o Estado confunde-se com o regime
partidocrata, pois durante muitos anos o BESA foi um banco de cariz político,
com uma carteira de activos de influência política secreta. Tanto que não
fazia parte da sua lógica a proliferação de balcões.
Sobre
este aspecto, Álvaro Sobrinho reservou-se ao silêncio, preferindo atirar mais
uma laracha: “parte deste dinheiro foi usado para comprar obrigações do Estado,
com uma maturidade de 10 anos. Em relação ao resto do dinheiro… o BESA pagou
700 milhões de dólares de juros por esta operação nos últimos três anos”.
Álvaro
Sobrinho referiu também que o BESA tinha um “custo de financiamento de 10%.
Parte desta linha foi feita via ‘trade finance’ a empresas portuguesas exportadoras.
O BESA emitia as cartas de crédito, o BES confirmava-as e pagava e o BESA fazia
as transferências”, sublinhou, justificando que “muitos desses clientes, além
de exportadores, eram importadores”, mas também um “nicho” selectivo de
empresários, na generalidade sócios de governantes do regime.
“O
crédito ficava no BESA, mas o BES recebia o dinheiro. Mesmo a operação das
obrigações, o dinheiro não saiu do BES para o BESA”, afirmou, sublinhando que
foi directamente para o Banco Nacional de Angola (BNA). Mas quando a deputada
Cecília Meireles, do CDS-PP, o questionou sobre as notícias que apontam para
que 80% da carteira de crédito do BESA, correspondentes a cinco mil milhões de
dólares, está em risco, Álvaro Sobrinho negou, com um lacónico; “a única coisa
que eu posso dizer acerca dessa matéria é que não”, vincou.
Escusando-se
igualmente a esclarecer, como foi possível ser accionista do Banco Valor, cuja
tramitação ocorreu ainda estava em funções no BESA, bem como se o valor anual
dos seus salários superava os dois milhões de euros. “Não lhe vou responder a
essa pergunta do foro pessoal”, respondeu Sobrinho, a deputada Mariana
Mortágua que não percebeu como um homem que foi gestor de banco, por melhor que
fosse remunerado, tinha conseguido acumular uma fortuna pessoal como a que ele
tem.
Tráfico
de influência, roubo ou corrupção? Verdade ou mentira, tudo incrimina, neste
momento o ex-homem forte do BESA, que nada falou, sobre as motivações que
levaram, face ao rombo do BESA, a garantia do Presidente da República, José
Eduardo dos Santos, de cerca de 4,5 mil milhões de dólares, talvez face ao
“descaminho consciente” de empréstimos superiores a 5,7 mil milhões de dólares,
mas sabe-se quem foram os beneficiários e a sua localização. Nos segredos dos
deuses estão os nomes, de quem levou carradas de dinheiro, que nunca mais vai
ser devolvido e a culpa vai morrer solteira, tal como José Eduardo dos Santos
foi responsável pela falência do Banco CAP (Caixa Agro-Pecuária e Pescas).
*Voltaremos
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