Michael
Knigge, opinião
Chocantes
práticas do serviço secreto tiveram respaldo político e jurídico explícito do
então governo dos EUA, afirma o articulista Michael Knigge, da redação inglesa.
Basta
ler apenas algumas linhas do resumo do relatório de 6.700 páginas sobre as
práticas de tortura cometidas pela CIA durante a administração do ex-presidente
George W. Bush para ficar chocado.
O
documento descreve minuciosamente como o país que se vê como o bastião dos
direitos humanos e da democracia violou sistematicamente os seus próprios
princípios.
É
repugnante ler sobre práticas como "alimentação retal" ou sobre como
os presos eram forçados a falar com armas apontadas para a cabeça ou com
ameaças contra os seus filhos. Dói ter que escrever isso, mas o que é relatado
no documento lembra mais séries de televisão sobre a máfia, no estilo de Os
Sopranos. Mas isso aconteceu sob ordens do governo os Estados Unidos.
E
também é assustador observar que, mesmo após a divulgação do relatório, ainda
existem discussões sobre se os métodos de interrogatório, chamados
eufemisticamente de enhanced interrogations, ou seja, "interrogatórios
ampliados", podem ser chamados de tortura ou não. A resposta certa foi
dada no prefácio do relatório pela senadora Dianne Feinstein: "Sob todos
os significados usuais do conceito de tortura, os prisioneiros da CIA foram
torturados."
Pior
ainda são os testemunhos de políticos, tanto antigos como ainda na ativa, que
justificam o emprego da tortura, afirmando que esses métodos são eficazes.
Ouvir esse tipo de declaração de representantes eleitos pelo povo é um tapa na
cara no Estado de Direito. Pois, em primeiro lugar, conforme mostra o próprio
relatório, a declaração é falsa. E, ainda mais importante, a tortura não é
aceitável numa democracia.
Nem
mesmo numa situação excepcional, na qual certamente os Estados Unidos se
encontravam depois dos ataques devastadores de 11 de setembro de 2001. Quem usa
a tortura como meio para obter informações coloca a corda no pescoço do Estado
de Direito e se comporta da mesma forma que os extremistas de todos os credos
que querem aboli-lo.
Por
essa razão, o relatório também precisa ter consequências políticas e jurídicas.
Como Dianne Feinstein corretamente afirmou, os métodos de interrogatório
aplicados durante a presidência de George W. Bush precisam, finalmente, ser
oficialmente proibidos pelo Congresso. A proibição atualmente em vigor é uma
ordem exclusiva do presidente Barack Obama e pode ser removida pelo próximo
presidente.
Além
disso, os líderes políticos precisam ser responsabilizados. Afinal de contas, a
prática de torturas não surgiu do nada, mas teve respaldo político e jurídico
explícito do então governo. Não é a toa que George W. Bush se entitulava The
Decider, ou seja, "O tomador de decisões". Ele deveria ser tomado ao
pé da letra.
Michael
Knigge, em Deutsche
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