quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Macau: Mais novos sem medo do futuro mas com receio da China




Macau, China, 18 dez (Lusa) - Os jovens de Macau nascidos durante a passagem de administração do território de Portugal para a China receiam que a aproximação do gigante vizinho venha diluir a sua identidade.

Dorothy Leung, Wallis Lau, Stephen Wong, Venus Leong, Linda Han e Heidi Chow têm entre 15 e 18 anos, são de Macau, e não transportam qualquer memória da administração portuguesa. De Portugal sabem que passou por aqui, deixou edifícios e gastronomia, calçada e placas na rua, mas pouco mais. Quando falam sobre Macau elogiam o encontro de culturas e a liberdade que o território goza em relação à China continental.

"Na China, os estudantes aprendem que há muitos limites, não podem saber muita coisa que para nós significa liberdade. Macau é um pouco como um país estrangeiro, as pessoas, aqui, podem pensar nas coisas que o Governo chinês não deixa", diz Wallis Lau, de 15 anos.

Venus Leong, de 17 anos, concorda: "Acho que em Macau tenho mais liberdade. Na China são obrigados a aprender sobre alguns assuntos políticos. Macau é mais liberal".

Mas o que significa, afinal, 'ser de Macau' para quem só conhece o território como ele é hoje? "É um sítio muito especial, não é China, não é Portugal. É Macau", resume Dorothy Leung, de 18 anos.

"Ser de Macau é para mim uma coisa muito interessante. A China e Macau são muito diferentes, na cultura e principalmente na educação", explica Wallis Lau.

Já Stephen Wong, de 16 anos, e Linda Han, de 17, acreditam que o que diferencia a cidade do resto do mundo são os casinos, principal fonte de riqueza do território.

Para Heidi Chow, 15 anos, nascida em Hong Kong, Macau surge por oposição ao território vizinho: uma cidade mais "relaxada", onde os estudantes se sentem "mais confortáveis", menos sujeitos à pressão da competitividade e com mais tempo livre.

Sobre a passagem dos portugueses por Macau, que durou mais de quatro séculos, sabem pouco. "Os meus pais quase nunca falam disso", confessa Dorothy Leung.

Wallis Lau admite que sobre história não sabe muito, mas identifica em Macau "bastante da cultura portuguesa", ainda que "não o suficiente para os cidadãos conhecerem".

"Na escola disseram-me que Portugal governou Macau e sei que é por isso que se fala português e temos alguns edifícios antigos", comenta Linda Han. Tal como Heidi Chow que só ouviu falar da Administração portuguesa nas aulas. "Não sei muito sobre isso. Mas acho que o português tem cada vez menos impacto em Macau", diz.

Ao contrário dos europeus, os jovens de Macau são extremamente otimistas em relação ao futuro, nem sempre por acreditarem que a sua terra natal, com um dos maiores Produto Interno Bruto per capita do mundo, lhes dará as oportunidades que desejam, mas porque a prosperidade do território os impede de prever dificuldades incontornáveis.

"Acredito que, se der o meu melhor e criar oportunidades, o futuro vai ser bom", diz Linda Han. "Daqui a 10 anos haverá muitos empregos para mim", acredita Stephen Wong.

Menos cor-de-rosa é o futuro de Macau, que acreditam vir a sofrer cada vez mais pressão da China continental, em termos demográficos e políticos.

"Neste momento, as coisas estão bem, mas não podemos receber mais da China, mais políticas, mais envolvimento. Já estamos no máximo. A China não é uma coisa positiva para nós. Sinto-me de Macau, e, aqui, não amamos a nação como os outros", defende Dorothy Leung.

A estudante acusa o excesso de pessoas nas ruas, numa cidade que, em 2013, recebeu 29,3 milhões de turistas. "Não se trata de receber menos pessoas da China, todos os visitantes são bem-vindos. Mas estão a invadir-nos, estão a tentar mudar Macau, não se estão a adaptar", critica.

Heidi Chow vê o problema a agravar-se ainda mais. "Há cada vez mais chineses do continente a vir para Macau e fica tudo cheio. Às vezes isso é mau, quando vamos às compras nem nos conseguimos mexer de tanta gente que há", protesta.

Já Stephen Wong preocupa-se com a sustentabilidade da economia, hoje totalmente dependente do jogo. "Macau tem muitos problemas, é uma terra de casinos, estão em todo o lado. Isso é mau. Se um dia os casinos fecharem, Macau morre", lamenta.

Wallis Lau acha que o futuro já se vê de Hong Kong, onde a luta pela democracia evidencia uma vontade das pessoas de se libertarem do gigante continental: "Em Hong Kong, as pessoas estão a lutar pela sua liberdade, porque a China está a tentar limitá-la. Isto preocupa-me. Não quero ser limitada, as pessoas devem ter o direito de lutar pelo que querem e dizerem o que querem. A liberdade é a coisa mais importante para mim".

ISG // PJA

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