Macau,
China, 18 dez (Lusa) - Os jovens de Macau nascidos durante a passagem de
administração do território de Portugal para a China receiam que a aproximação
do gigante vizinho venha diluir a sua identidade.
Dorothy
Leung, Wallis Lau, Stephen Wong, Venus Leong, Linda Han e Heidi Chow têm entre
15 e 18 anos, são de Macau, e não transportam qualquer memória da administração
portuguesa. De Portugal sabem que passou por aqui, deixou edifícios e
gastronomia, calçada e placas na rua, mas pouco mais. Quando falam sobre Macau
elogiam o encontro de culturas e a liberdade que o território goza em relação à
China continental.
"Na
China, os estudantes aprendem que há muitos limites, não podem saber muita
coisa que para nós significa liberdade. Macau é um pouco como um país
estrangeiro, as pessoas, aqui, podem pensar nas coisas que o Governo chinês não
deixa", diz Wallis Lau, de 15 anos.
Venus
Leong, de 17 anos, concorda: "Acho que em Macau tenho mais liberdade. Na
China são obrigados a aprender sobre alguns assuntos políticos. Macau é mais
liberal".
Mas
o que significa, afinal, 'ser de Macau' para quem só conhece o território como
ele é hoje? "É um sítio muito especial, não é China, não é Portugal. É
Macau", resume Dorothy Leung, de 18 anos.
"Ser
de Macau é para mim uma coisa muito interessante. A China e Macau são muito
diferentes, na cultura e principalmente na educação", explica Wallis Lau.
Já
Stephen Wong, de 16 anos, e Linda Han, de 17, acreditam que o que diferencia a
cidade do resto do mundo são os casinos, principal fonte de riqueza do
território.
Para
Heidi Chow, 15 anos, nascida em
Hong Kong , Macau surge por oposição ao território vizinho:
uma cidade mais "relaxada", onde os estudantes se sentem "mais
confortáveis", menos sujeitos à pressão da competitividade e com mais
tempo livre.
Sobre
a passagem dos portugueses por Macau, que durou mais de quatro séculos, sabem
pouco. "Os meus pais quase nunca falam disso", confessa Dorothy
Leung.
Wallis
Lau admite que sobre história não sabe muito, mas identifica em Macau "bastante
da cultura portuguesa", ainda que "não o suficiente para os cidadãos
conhecerem".
"Na
escola disseram-me que Portugal governou Macau e sei que é por isso que se fala
português e temos alguns edifícios antigos", comenta Linda Han. Tal como
Heidi Chow que só ouviu falar da Administração portuguesa nas aulas. "Não
sei muito sobre isso. Mas acho que o português tem cada vez menos impacto em
Macau", diz.
Ao
contrário dos europeus, os jovens de Macau são extremamente otimistas em
relação ao futuro, nem sempre por acreditarem que a sua terra natal, com um dos
maiores Produto Interno Bruto per capita do mundo, lhes dará as oportunidades
que desejam, mas porque a prosperidade do território os impede de prever
dificuldades incontornáveis.
"Acredito
que, se der o meu melhor e criar oportunidades, o futuro vai ser bom", diz
Linda Han. "Daqui a 10 anos haverá muitos empregos para mim",
acredita Stephen Wong.
Menos
cor-de-rosa é o futuro de Macau, que acreditam vir a sofrer cada vez mais
pressão da China continental, em termos demográficos e políticos.
"Neste
momento, as coisas estão bem, mas não podemos receber mais da China, mais
políticas, mais envolvimento. Já estamos no máximo. A China não é uma coisa
positiva para nós. Sinto-me de Macau, e, aqui, não amamos a nação como os
outros", defende Dorothy Leung.
A
estudante acusa o excesso de pessoas nas ruas, numa cidade que, em 2013,
recebeu 29,3 milhões de turistas. "Não se trata de receber menos pessoas
da China, todos os visitantes são bem-vindos. Mas estão a invadir-nos, estão a
tentar mudar Macau, não se estão a adaptar", critica.
Heidi
Chow vê o problema a agravar-se ainda mais. "Há cada vez mais chineses do
continente a vir para Macau e fica tudo cheio. Às vezes isso é mau, quando
vamos às compras nem nos conseguimos mexer de tanta gente que há",
protesta.
Já
Stephen Wong preocupa-se com a sustentabilidade da economia, hoje totalmente
dependente do jogo. "Macau tem muitos problemas, é uma terra de casinos,
estão em todo o lado. Isso é mau. Se um dia os casinos fecharem, Macau
morre", lamenta.
Wallis
Lau acha que o futuro já se vê de Hong Kong, onde a luta pela democracia
evidencia uma vontade das pessoas de se libertarem do gigante continental:
"Em Hong Kong ,
as pessoas estão a lutar pela sua liberdade, porque a China está a tentar
limitá-la. Isto preocupa-me. Não quero ser limitada, as pessoas devem ter o
direito de lutar pelo que querem e dizerem o que querem. A liberdade é a coisa
mais importante para mim".
ISG
// PJA
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