Bocas
do Inferno
Mário
Motta, Lisboa
Macau
encontra-se num processo mais brando que Hong Kong na exigência de democracia naquela região especial da China. Ali está em vigor a “paciência de chinês” que
em Portugal é famosa, dita e redita. E que herdámos.
Decerto que também cheios de paciência os jovens do movimento democrático macaense que
pretendem democratizar a região e ver eleições verdadeiramente livres e democráticas
em Macau, em vez das “encomendadas” por Pequim, esperavam que Portugal, o
governo português, tomasse uma posição que não fosse o silêncio luso sobre o
sufrágio universal que pretendem ver reconhecido por Pequim como um direito e
uma efetiva prática.
Estão
fisicamente longe de Portugal estes jovens macaenses que lutam pela democracia em Macau. E ainda mais longe
no desconhecimento da realidade em Portugal e seu défice democrático. Jamais
este governo português de Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas quebrariam
o silêncio sobre mais democracia para Macau ou seja lá para que país ou região
for desde que envolva o “negócio” os euros, os dólares, ou os yuans. Aqueles três
cavaleiros do apocalipse português quando ouvem ou pensam a palavra China
estendem a mão e as suas pupilas adquirem a forma da moeda que pretendem nos “negócios”.
Regra geral dólar americano ou euro.
É
bíblica a frase de que “é mais fácil um camelo passar pelo orifício do cu de
uma agulha que um rico passar e entrar no reino dos céus”. Pois então,
estimados jovens democratas, estimados macaenses, é mais fácil Pequim atender
as vossas legítimas pretensões do que este governo de Portugal contrariar e “provocar”
a China por causa do défice democrático em Macau. É que eles aqui em Portugal
julgam que democracia é pôr, dispor, querer, poder e mandar, empobrecer,
roubar, distribuir pelos ricos e quem não está contente deve emigrar.
Dir-me-ão:
“mas então e as eleições? Em Portugal há sufrágio universal. É isso que em
Macau queremos!” Pois. Jovens ativistas macaenses, chineses. Imaginem que vão a
um supermercado e no rotulo, assim como na publicidade, a embalagem indica que
contém mel. Compram. Porém, quando a abrem ficam a saber que foram ludibriados. Aquilo
contém fel. Assim são as eleições e estes pseudo democratas. Embalam-se
apelativamente “docinhos”, publicitam que vão proporcionar o céu e rios de
abastança aos eleitores, mas quando se apanham nos governos praticam o contrário
daquilo que prometeram. Vendem gato por coelho (lebre) e os portugueses ficam com os olhos em bico… Até se esquecerem e voltarem a cair noutro conto do
vigário nas eleições seguintes.
Perante
este péssimo quadro luso não esperem que os já referidos três cavaleiros do
apocalipse português mexam uma palha que seja a favor do vosso pretendido sufrágio
universal. Aqui, em Portugal, o défice democrático é superior ao endividamento
externo do país. endividamento que beneficiou alguns mas é pago por todos os
portugueses até chegarem, esgotados, à miséria e à fome. Esqueçam, por agora, este
Portugal. Prometemos “fundar” outro. Com verdadeiros democratas, homens e
mulheres de bem. Principalmente que sejam honestos e não roubem a cada passo.
Prossigam
a vossa luta. Até porque sabem tão bem como nós que “água mole em pedra dura tanto bate
até que fura”. (MM / PG)
Jovens
democratas criticam silêncio de Portugal sobre sufrágio universal
Macau,
China, 17 dez (Lusa) - Os jovens líderes do movimento democrático em Macau
defendem que o governo português devia "trazer para cima da mesa" a
questão do sufrágio universal nas conversações com a China.
Sulu
Sou, Rocky Chan e Jason Chao, com idades entre os 23 e 27 anos, estão na linha
da frente na luta pelo sufrágio universal para a eleição do chefe do governo
local, e lamentam que o país que administrou Macau durante mais de 400 anos se
mantenha em silêncio nesta questão.
"Não
vejo o governo português muito interessado no movimento democrático de
Macau", diz em entrevista à agência Lusa o ativista Jason Chao, num
momento em que Hong Kong ,
outra região administrativa especial chinesa, é palco de várias manifestações
pró-democracia, que concentram a atenção do mundo.
O
antigo presidente da Novo Macau, a maior associação pró-democracia do
território, com cerca de meia centena de membros, lembra que a própria União
Europeia emitiu um comunicado encorajando o executivo da Região a fazer a
transição para a plena democracia.
"Não
ouvi nenhuma palavra do governo português", aponta Jason Chao, salientando
que Lisboa tem "uma relação muito boa com Pequim", mas que esta
"não deve ser apenas na cooperação económica, mas também no campo da
proteção dos direitos humanos e da democracia".
Num
momento em que passam 15 anos da passagem de administração, a 20 de dezembro de
1999, Rocky Chan, membro da associação Novo Macau, também reclama um papel mais
ativo de Portugal, que deveria ter uma voz mais ativa sobre Macau, até porque
"há uma Declaração Conjunta luso-chinesa", documento que definiu os
termos da transferência de soberania.
"Temos
um sistema político criado por Portugal, mas que [os portugueses] não
desenvolveram de forma a ser mais justo", considera o jovem de 25 anos.
Para
o atual presidente da Novo Macau, Sulu Sou, é óbvio que esses governantes são
os responsáveis por "trazerem os assuntos democráticos para cima da
mesa".
O
jovem dirigente mostra-se pouco confiante que tal aconteça: "Vejo
dificuldade na promoção da democracia por estados estrangeiros, tendo em conta
o poder económico da República Democrática da China".
Num
registo mais otimista, Rocky Chan diz que Portugal está a tempo de manifestar o
seu apoio ao movimento pró-democracia. "Ter o apoio de mais países é
melhor do que lutarmos sozinhos. Se Portugal nos apoiar, vamos ficar muito
satisfeitos", sublinha.
A
associação queixa-se de algum distanciamento da comunidade portuguesa em
relação ao movimento, mas acredita que seja guiada por valores mais liberais do
que a sociedade chinesa.
Sulu
Sou compara a cobertura noticiosa dos temas pró-democracia na imprensa portuguesa
e chinesa e conclui que influenciam significativamente "a ideologia das
respetivas comunidades".
"Não
acredito que as pessoas nascem para ser conservadoras. Só se tornam
conservadoras depois de expostas às visões da sociedade", conclui.
ISG/FV
// PJA
Interesses
económicos impedem Portugal de falar em democracia – sociólogo
Macau,
China, 17 dez (Lusa) - O sociólogo Boaventura de Sousa Santos considera que
Portugal não deixou tradição democrática em Macau há 15 anos, quando deixou o
território, e hoje está limitado no seu apoio à democracia pelos interesses
económicos que tem com a China.
"Em
termos de democracia não penso que tenha sido significativa essa semente",
afirmou, em entrevista à agência Lusa, o coautor de "Macau: O Pequeníssimo
Dragão", o grande estudo da sociedade de Macau feito em português, lançado
em 1998.
A
primeira razão, segundo o sociólogo, prende-se com o facto de Portugal ter,
acima de tudo, prezado "a estabilidade das relações com a China",
dando sempre "prioridade a uma transição pacífica e pouco agitada"
até para marcar uma diferença em relação à antiga colónia britânica.
"O
governador Rocha Vieira sempre se gostou de se apresentar como alguém que
criava menos dificuldades à China do que o governador de Hong Kong",
lembrou.
O
também diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra recorda,
a propósito, uma recente entrevista à agência de notícias Xinhua do último
governador de Macau, sobre os protestos pró-democracia em Hong Kong : " acima
de tudo é preciso preservar a ordem, é preciso garantir o diálogo e a harmonia,
e qualquer confrontação com a China é malvista".
O
facto de, em 1999, a
democracia em Portugal ser ainda bastante jovem terá contribuído para a
ausência de "um caráter afirmativo na defesa de um sistema político que,
para os portugueses, também era uma relativa novidade", sublinhou.
Portugal
passou, entretanto, de "uma potência administrante com o consentimento da
China" durante mais de 400 anos, para uma situação de dependência
económica do país asiático agravada pela crise financeira europeia.
"A
China é, hoje, um grande investidor em Portugal. Aspetos
estratégicos da vida dos portugueses estão na mão dos chineses, como é o caso
da eletricidade", justificou.
Esta
situação, sublinhou Boaventura de Sousa Santos, "amordaça totalmente"
o governo português, impedindo-o de manifestar apoio a causas contrárias às
posições de Pequim, como é o caso do movimento pró-democrático, "até
porque a China sabe como é que pode controlar qualquer tentativa que seja menos
consentânea com os seus interesses".
Independentemente
do contributo de Portugal e até da vontade da população de Macau, Boaventura de
Sousa Santos acredita que o sufrágio universal só chegará por iniciativa da
China.
"É
evidente que os deputados pró-democratas vão continuar a fazer pressão, talvez
com o mesmo apoio popular que há em Hong Kong , mas é evidente que o que pode vir a
mudar é a própria China", observou.
"Há
sinais de que este desenvolvimento económico pode vir a criar problemas, devido
à discrepância que é ter um sistema económico capitalista e um sistema político
comunista. Os sinais de tensão já estão a surgir", concluiu o sociólogo.
FV/ISG//
PJA
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