quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

SE A CHINA SE CONSTIPA MACAU FICA COM GRIPE - economista




Macau, China, 18 dez (Lusa) -- O economista Albano Martins considera que Macau está excessivamente dependente da economia chinesa, ficando vulnerável a qualquer oscilação, como uma eventual redução de turistas ou o combate massivo à corrupção.

"Sempre que a China se constipa nós temos uma gripe", sintetiza o economista Albano Martins, em entrevista à agência Lusa.

"A China fecha a torneira do número de visitantes e os casinos caem, abre o combate contra a corrupção e os casinos caem, portanto, isso é apenas o reflexo da enorme dependência e vulnerabilidade de Macau relativamente ao espaço chinês", sustenta, embora reconheça que "dificilmente poderia ser de outra forma".

Macau depende da China em toda a linha. Do outro lado da fronteira chegam distintos produtos e serviços, desde logo a começar pelos bens alimentares, mas também o simples abastecimento de água e de eletricidade, isto sem falar dos milhares de visitantes nas fronteiras, que injetam gás ao motor da economia local -- o jogo --, permitindo, por sua vez, a Macau encher os cofres públicos, com impostos.

"O que salta à vista [da influência da China na economia] é que Macau está profundamente integrada no espaço chinês e a China é fator de enquadramento externo mais relevante na vida de Macau. Integramo-nos muito rapidamente. A maioria dos nossos empresários são chineses e a China abriu a porta para se integrarem no espaço económico chinês, ao mesmo tempo que facilitou a entrada dos seus nacionais no território", explica o economista.

Por outro lado, "tradicionalmente Macau tinha já uma série de intermediários, de indústrias ou serviços prestados por estatais chinesas que continuam, de certo modo, a dominar grande parte dos circuitos de distribuição ou de produção", assinala Albano Martins, notando, porém, que "dificilmente" haveria alternativas que não viessem da China.

Com efeito, esta 'presença' tem vindo a crescer significativamente, em particular em áreas que poderia ser abertas a todo o mundo, como são o caso do transportes públicos ou a eletricidade.

"O que é mau é que não haja concorrência em muitos casos e que estes tornem Macau ainda mais monolítico do que é. Temos grandes oligopólios do lado da oferta de produtos nomeadamente de consumo e há uma total falta de transparência relativamente à formação de preços nessa área", observa Albano Martins.

Para o economista, tem, por isso, "de haver, da parte do Governo, uma postura muito mais prudente na negociação desses dossiês com as empresas estatais chinesas".

"Nós temos grandes oligopólios do lado da oferta de produtos nomeadamente de consumo e há uma total falta de transparência relativamente à formação de preços nessa área. Estamos convencidos de que as margens de comercialização estão a aumentar e como o Governo defende a tese de que a economia deve ser livre, o que para eles significa desregulada, muito dificilmente se irá encontrar uma solução para todas estas situações que indiciam comportamentos pouco saudáveis", diz o economista, para quem "Macau está a nivelar muita coisa por baixo".

"É de certo modo significativo e pode indiciar que a classe política de Macau não tem coragem suficiente relativamente a decisões económicas, que não têm que passar necessariamente pela China", frisa.

A União Europeia tem pedido, por diversas vezes, a Macau uma maior transparência, instando-a a avançar com uma lei da concorrência e a subscrever o Acordo de Compras Públicas assinado no âmbito da Organização Mundial do Comércio, um repto que Albano Martins subscreve.

"Há claramente um erro no sentido de que não se permite a concorrência", pelo que "os preços vão ser sempre cartelizados, ditados por um ou dois operadores, e isso torna Macau pouco competitiva e [constitui] um perigo para a economia".

DM // PJA

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