Macau,
China, 18 dez (Lusa) -- O economista Albano Martins considera que Macau está
excessivamente dependente da economia chinesa, ficando vulnerável a qualquer
oscilação, como uma eventual redução de turistas ou o combate massivo à
corrupção.
"Sempre
que a China se constipa nós temos uma gripe", sintetiza o economista
Albano Martins, em entrevista à agência Lusa.
"A
China fecha a torneira do número de visitantes e os casinos caem, abre o
combate contra a corrupção e os casinos caem, portanto, isso é apenas o reflexo
da enorme dependência e vulnerabilidade de Macau relativamente ao espaço
chinês", sustenta, embora reconheça que "dificilmente poderia ser de
outra forma".
Macau
depende da China em toda a linha. Do outro lado da fronteira chegam distintos
produtos e serviços, desde logo a começar pelos bens alimentares, mas também o
simples abastecimento de água e de eletricidade, isto sem falar dos milhares de
visitantes nas fronteiras, que injetam gás ao motor da economia local -- o jogo
--, permitindo, por sua vez, a Macau encher os cofres públicos, com impostos.
"O
que salta à vista [da influência da China na economia] é que Macau está
profundamente integrada no espaço chinês e a China é fator de enquadramento
externo mais relevante na vida de Macau. Integramo-nos muito rapidamente. A
maioria dos nossos empresários são chineses e a China abriu a porta para se
integrarem no espaço económico chinês, ao mesmo tempo que facilitou a entrada
dos seus nacionais no território", explica o economista.
Por
outro lado, "tradicionalmente Macau tinha já uma série de intermediários,
de indústrias ou serviços prestados por estatais chinesas que continuam, de
certo modo, a dominar grande parte dos circuitos de distribuição ou de
produção", assinala Albano Martins, notando, porém, que
"dificilmente" haveria alternativas que não viessem da China.
Com
efeito, esta 'presença' tem vindo a crescer significativamente, em particular
em áreas que poderia ser abertas a todo o mundo, como são o caso do transportes
públicos ou a eletricidade.
"O
que é mau é que não haja concorrência em muitos casos e que estes tornem Macau
ainda mais monolítico do que é. Temos grandes oligopólios do lado da oferta de
produtos nomeadamente de consumo e há uma total falta de transparência
relativamente à formação de preços nessa área", observa Albano Martins.
Para
o economista, tem, por isso, "de haver, da parte do Governo, uma postura
muito mais prudente na negociação desses dossiês com as empresas estatais
chinesas".
"Nós
temos grandes oligopólios do lado da oferta de produtos nomeadamente de consumo
e há uma total falta de transparência relativamente à formação de preços nessa
área. Estamos convencidos de que as margens de comercialização estão a aumentar
e como o Governo defende a tese de que a economia deve ser livre, o que para
eles significa desregulada, muito dificilmente se irá encontrar uma solução
para todas estas situações que indiciam comportamentos pouco saudáveis",
diz o economista, para quem "Macau está a nivelar muita coisa por baixo".
"É
de certo modo significativo e pode indiciar que a classe política de Macau não
tem coragem suficiente relativamente a decisões económicas, que não têm que
passar necessariamente pela China", frisa.
A
União Europeia tem pedido, por diversas vezes, a Macau uma maior transparência,
instando-a a avançar com uma lei da concorrência e a subscrever o Acordo de
Compras Públicas assinado no âmbito da Organização Mundial do Comércio, um
repto que Albano Martins subscreve.
"Há
claramente um erro no sentido de que não se permite a concorrência", pelo
que "os preços vão ser sempre cartelizados, ditados por um ou dois
operadores, e isso torna Macau pouco competitiva e [constitui] um perigo para a
economia".
DM
// PJA
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