domingo, 21 de dezembro de 2014

Macau: Marcha pela democracia junta uma centena de pessoas nas ruas




Macau, China, 20 dez (Lusa) - Uma centena de pessoas marchou hoje pelas ruas de Macau para pedir sufrágio universal na eleição do chefe do Executivo, no dia em que se assinalam 15 anos da transferência de administração de Macau de Portugal para a China.

Na marcha viam-se muitos rostos jovens mas não só - homens e mulheres de cabelo grisalho empunhavam cartazes onde se lia "Queremos sufrágio universal" e acompanhavam as palavras de ordem "O colégio eleitoral não nos representa" e "Queremos sufrágio universal em 2019".

Foi a primeira vez que Hester Castilho, uma professora de 29 anos, participou no protesto de 20 de dezembro, habitual nos últimos anos. "Estou aqui porque acredito que, como cidadãos, devemos expressar as nossas opiniões. Há muitos problemas sociais em Macau, em termos de habitação e transportes", apontou.

A professora acredita que os problemas da cidade só serão ultrapassados se a população puder eleger diretamente o chefe do Governo, atualmente escolhido por um colégio de 400 membros. "Acho que um Governo que não nos representa não nos pode ajudar a resolver os problemas. O sufrágio universal não vai resolver todos os problemas mas é um passo necessário para seguir em frente", explicou.

A manifestação foi convocada pela Novo Macau, a maior associação pró-democracia do território, e pela Juventude Dinâmica, atraindo vários estudantes universitários e também professores, no final de um ano que ficou marcado por preocupações com a liberdade académica do território, depois de dois professores de Ciência Política perderem os empregos na Universidade de Macau e na Universidade de São José.

Wilson Hung, docente da Universidade Cidade de Macau, justificou a sua presença no protesto com a "preocupação com a política" do território. "Acho que é tempo de vermos grandes mudanças. Enfrentamos muitos problemas, como nos transportes e habitação. Esta é uma boa oportunidade para expressarmos a nossa opinião de modo a que o Governo nos oiça", disse.

Comentando as palavras que o Presidente chinês, Xi Jinping, endereçou a Macau, Wilson Hung elogiou os apelos à diversificação económica mas lamentou não ter ouvido referências a uma possível reforma política.

O académico também não gostou de ouvir o chefe de Estado incentivar a educação patriótica.

Com as palavras "Precisamos de escolha" pintadas na cara, a jovem de 17 anos Cheong Weng Ien juntou-se à marcha para defender "o futuro de Macau. "Quero dizer ao Governo que temos de poder escolher o chefe do Executivo. Estou preocupada porque há muitos problemas, como a habitação, e o Governo não resolve", comentou.

A influência do movimento democrático de Hong Kong esteve bem presente, com alguns manifestantes a transportarem guarda-chuvas amarelos e outros a exibirem o laço amarelo que ficou associado ao Occupy Central.

Che Hoisan quis lançar uma questão a Xi Jinping, que à hora do protesto estaria a abandonar o território: "Se houvesse um verdadeiro processo de seleção do Presidente, acha que seria escolhido pelos cidadãos da China?". Para a jovem de 18 anos a resposta é "não". "Ele apenas impulsiona a economia mas não faz nada em relação ao desemprego nas zonas rurais, esses cidadãos ainda estão a sofrer", apontou.

No final do percurso, quando a manifestação passava simbolicamente em frente ao Palácio do Governo, surgiu o ativista Lei Kin Iun seguido de mais de uma centena de idosos empunhando cartazes com slogans contra a corrupção, a pedir mais habitações públicas e também sufrágio universal.

A marcha liderada pela Associação Novo Macau terminou na Praça da Amizade, onde foi erguido um palco para acolher discursos e canções de intervenção.

ISG//GC – Foto: Carmo Correia / Lusa

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