Num
estudo intitulado "Eletricidade de Moçambique: mau serviço, falta de
transparência e politizada", o CIP faz várias denúncias, entre elas a
ausência de concursos públicos e a participação nociva das elites polítcas.
O
Centro de Integridade Pública (CIP) revela na sua mais recente pesquisa que as
elites políticas moçambicanas estão envolvidas em negócios de energia elétrica em Moçambique. O estudo
diz ainda que as tarifas de energia de Moçambique são das mais altas da região
austral de África, apesar do país ser um dos maiores produtores. E a fatura
dessas irregularidades é paga pelo consumidor doméstico, enquanto o consumidor
industrial paga menos. A DW África entrevistou o autor da pesquisa e
colaborador do CIP, Borges Nhamire.
DW
África: Quem tira vantagens destes paradoxos?
Borges
Nhamiri (BN): A nossa entrega de distribuição de energia elétrica não tem
capacidade e não tem credibilidade. E por isso, a Hidroelétrica de Cahora Bassa
(HCB), aquando da reversão teve quer ir buscar um cliente credível que pudesse
garantir a compra de eletricidade para pagar a dívida. E neste caso o cliente
credível era a empresa sul-africana ESCOM. Não poderia ser uma de Moçambique.
Então as coisas começam a partir daí a andar de forma torta. O resultado de
tudo isso é que existem acordos comerciais rígidos, que nós desconhecemos o seu
conteúdo, mas segundo dados não oficiais obrigam a HCB a vender energia à ESCOM
até 2029 e enquanto isso a Eletricidade de Moçambique, EDM, vai ter de recorrer
a meios alternativos, meios esses que também tem os seus problemas. Em primeiro
lugar são insuficientes em termos de energia que geram e em segundo lugar essa
eletricidade é muito cara. E ai há os que são beneficiados diretamente, as
elites políticas e económicas em Moçambique que se posicionam para vender essa
eletricidade à EDM a preços muito elevados. Como demonstramos no estudo esse
preço é quatro vezes mais caro do que aquilo que vende a HCB. Neste momento
temos um exemplo concreto do caso da GRECO que está a vender eletricidade à
EDM. A GRECO é uma concessão da Gigawatts e esta empresa tem como presidente do
Conselho de Administração o antigo ministro dos Recursos Minerais e Energia, o
senhor Castigo Langa.
DW
África: E quais são as consequências desta situação?
BN: Moçambique não tem eletricidade disponível para alimentar as suas necessidades. Neste momento, o grande empreendimento que existe no país, que é a MOZAL, consome energia que vem diretamente da África do Sul, porque a Eletricidade de Moçambique não pode fornecer mais. Os grandes projetos de mineração estão no limite do consumo de eletricidade e recorrem à criação das suas próprias centrais termo-elétricas para lhes poder fornecer eletricidade. O cidadão que é indefeso também enfrenta este problema de não ter eletricidade de qualidade e nem em quantidade suficientes. Consequentemente é o país que sofre com toda esta situação: a indústria não produz porque não recebe eletricidade suficiente.
DW África: Seria possível dar alguns exemplos ou comprovar que a Empresa Eletricidade de Moçambique é um instrumento político no país?
BN: Moçambique não tem eletricidade disponível para alimentar as suas necessidades. Neste momento, o grande empreendimento que existe no país, que é a MOZAL, consome energia que vem diretamente da África do Sul, porque a Eletricidade de Moçambique não pode fornecer mais. Os grandes projetos de mineração estão no limite do consumo de eletricidade e recorrem à criação das suas próprias centrais termo-elétricas para lhes poder fornecer eletricidade. O cidadão que é indefeso também enfrenta este problema de não ter eletricidade de qualidade e nem em quantidade suficientes. Consequentemente é o país que sofre com toda esta situação: a indústria não produz porque não recebe eletricidade suficiente.
DW África: Seria possível dar alguns exemplos ou comprovar que a Empresa Eletricidade de Moçambique é um instrumento político no país?
BN: Sim
e em muitas dimensões. A primeira está demonstrada no trabalho que realizamos
onde deixamos claro que as instituições do Estado simplesmente não estão a
pagar as faturas de eletricidade, nomeadamente os serviços de informação e
segurança do Estado, em
Nacala. Mencionamos as 11 faturas que neste momento estão
atrasadas em termos de liquidação, é o caso da FIPAG que é o Fundo de
abastecimento de àgua e que tem mais de 15 milhões de meticais (cerca de 372
mil euros) em faturas atrasadas e a Eletrcidade de Moçambique não pode fazer
cobrança coerciva porque o poder político não deixa. Esta é a primeira
dimensão. A outra, é que existe uma série de empresas que fornece bens e
serviços à Eletricidade de Moçambique, serviços que deveria ser a própria
Eletricidade de Moçambique a executar tais como a eletrificação rural e a
distribuição de cabos eletricos. Essas empresas estão ligadas a pessoas do
poder. Mencionamos no nosso trabalho casos concernentes à Electrotek, ligada ao
Presidente da República, e tantas outras empresas adjudicadas a generais como
Jacinto Veloso, Mariano Matsinhe. Isso é um facto e consta nos documentos da
EDM que estas pessoas estão a fornecer serviços à EDM e que deveria ser a
própria Eletricidade de Moçambique a fazer. Por isso acreditamos que a situação
na EDM beneficia aos decision makers e pelo facto não estão muito
preocupados em reverter a situação.
Nadia
Issufo – Deutsche Welle
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