terça-feira, 27 de janeiro de 2015

CONTINENTE AFRICANO TEM NA CHINA UMA AMIZADE SÓLIDA E SOLIDÁRIA



Roger Godwin – Jornal de Angola, opinião

O assunto não é novo mas, nesta altura de acentuada crise financeira internacional, nunca é demais sublinhar a importância que têm tido no continente africano as ajudas económicas que chegam da China e que fazem deste país um bom amigo que não nos vira as costas nos momentos mais difíceis.

Tem sido graças às ajudas chinesas que muitos países africanos têm conseguido construir as infra-estruturas necessárias para cimentar o seu progresso e desenvolvimento a favor das populações, apesar das dificuldades estruturais colocados à economia mundial e que são geradas pela corrupção e má governação no Ocidente.

 Das potências ocidentais, em vez de compreensão e aceitação da vontade expressa por nações soberanas, frequentemente, chegam críticas – umas veladas outras nem tanto – à forma como os países africanos estabelecem parcerias com empresas e com o próprio governo chinês, como se fosse um pecado mortal garantir a ajuda junto daqueles que mais condições e vontade têm em disponibilizá-la a quem dela mais precisa.

 Portugal, que se arvora em bússola orientadora dos bons costumes e da boa governação, recorre aos préstimos da China para despachar empresas públicas e agora pisca o olho a Pequim para ocupar a base das Lajes, no arquipélago dos Açores, à qual os norte-americanos viraram as costas, afectados também eles pela tal “crise económica mundial”.

As críticas com que o Ocidente frequentemente quer manchar o bom relacionamento de África com a China, tentam, atabalhoadamente, disfarçar a sua incapacidade de levar por diante uma agenda que vise a neo-colonização das suas anteriores “pérolas” e, também, travar o seu desenvolvimento de modo a evitar que se tornem potencialmente fortes e até superiores a si próprios. São birras ciumentas mas que, felizmente, têm sido olimpicamente ignoradas por países cujos governos estão bem mais interessados em resolver os problemas dos seus povos, do que em se vergar perante quem tarda em reconhecer a sua real situação de penúria, tanto económica como financeira e até mesmo de índole política.

Dados recentemente divulgados pela Câmara de Comércio da China referem que as exportações chinesas para África, na última década, rondaram os 160 mil milhões de dólares anuais. Também nos últimos dez anos, de acordo com os mesmos dados, um milhão de chineses, entre trabalhadores, empresários e comerciantes, viajaram para o continente africano.

Mas, em vez de ciúmes, o ocidente também se devia mostrar grato pelos efeitos práticos do bom relacionamento económico e político entre África e a China, pois a criação de melhores infra-estruturas no continente têm-se revelado fundamentais para a captação de um número crescente de investidores europeus e americanos, que as aproveitam para delas retirar um melhor rendimento em função dos sectores visados pelos seus interesses financeiros.

A construção de pontes e estradas é fundamental. É pelas redes viárias que rolam muitos dos interesses económicos do Ocidente no continente africanos e isso só tem sido possível graças, precisamente, à boa ajuda que chega da China.

 A Índia, que aponta para o investimento global em todo o continente africano para 2015 um valor total de 100 mil milhões de dólares, é um dos países que mais tem beneficiado com o bom relacionamento que o continente tem com a China mas, contrariamente ao que se passa em relação ao Ocidente e talvez por não ter um passado embrutecido pelo colonialismo, tem-se mostrado pragmaticamente agradada, pois sabe que assim pode retirar importantes dividendos em termos de comércio e de investimento directo.

E, certamente também devido aos efeitos da tão malfadada crise, países como o Brasil e a Turquia conseguiram já ultrapassar alguns dos principais países europeus em termos de volume de dinheiro envolvido no seu relacionamento económico e financeiro com o continente africano. Em 2014, desfasados por escassos dias, os presidente dos Estados Unidos e da China visitaram alguns Estados africanos e aquilo que mais marcou o seus discursos e encontros com os seus homólogos, foi o facto de enquanto Barak Obama dizia que ia estudar as possibilidades de investimento no continente, o presidente Xi Jinping anunciava o montante que o seu país ia disponibilizar para os investimentos nos países visitados.

Este diferente comportamento  no modo como encara o seu relacionamento com África tem feito toda a diferença entre a intenção e a decisão de concretizar acordos previamente estabelecidos ou, no mínimo, antecipadamente abordados. Torna-se claro como a água que, perante este cenário, tudo leva a crer que o futuro imediato e o médio prazo continuem a ser marcados pelo reforço do relacionamento económico e financeiro entre a China e o continente africano, por muito que isso possa custar a certos puritanos de barriga bem cheia. Contrariamente ao que a propaganda Ocidental tentou fazer crer às populações africanas, têm sido mínimos os problemas criados pela comunidade chinesa que se instala em África, seja composta por empresários ou trabalhadores.

Embora de hábitos e costumes diferentes, a integração chinesa em África tem-se desenvolvido pacificamente afastando os “demónios” e os “terrores” que muitos quiseram agitar de modo a impedir o reforço da amizade entre os dois povos. Um outro preconceito que afecta muito seriamente a lucidez dos países que mais criticam a presença chinesa em África, é o receio que eles têm do poder económico e político que pode ser gerado através de uma estratégia comum de desenvolvimento sustentado, que faça com que o continente africano deixe de recorrer à ajuda do Ocidente para resolver alguns problemas, pois isso significaria a morte de todas as suas ambições, mais ou menos evidentes, de um regresso ao antigamente através da aplicação de uma estratégia neo-colonial.

Sem comentários:

Mais lidas da semana