segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Portugal: Sócrates apanhado nas escutas a falar sobre a venda da Controlinveste




Ex-primeiro ministro incentivou o advogado Proença de Carvalho a comprar o grupo Controlinveste, que detém o DN, o JN e a TSF, noticia o Correio da Manhã. Foi ele quem escolheu o director do JN.

O ex-primeiro-ministro, José Sócrates, foi escutado a falar com um dos seus advogados, Daniel Proença de Carvalho, sobre o negócio de compra da Controlinveste – o grupo que detém o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias e a TSF. Das escutas, no âmbito do processo que pôs Sócrates em prisão preventiva, percebe-se que foi o ex-governante quem escolheu o actual director do JN, Afonso Camões. E que Proença de Carvalho chegou a reunir com o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social para tentar travar as primeiras notícias sobre as suspeitas da casa de Paris, ainda em 2013.

A notícia é avançada pela edição deste sábado do jornal Correio da Manhã, um dos que começou a publicar notícias sobre as suspeitas da casa onde Sócrates vivia em Paris, ainda corria o ano de 2013. Já na sexta-feira, o editorial do CM falava num ataque “à liberdade de imprensa”. E anunciou que iria constituir-se assistente no processo.

Nas escutas que constam no processo, que levaram à detenção de Sócrates, indiciado corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, há várias conversas com o advogado de Proença Carvalho (também advogado do ex-presidente do BES, Ricardo Salgado). O advogado que preside ao conselho de administração da Controlinveste desde a saída do empresário Joaquim Oliveira, foi uma das principais peças na negociação, em 2013, com os bancos BES e BCP, que são agora accionistas da Controlinveste – a par do empresário angolano António Mosquito.

Nas conversas entre Proença de Carvalho e Sócrates, as autoridades registaram que o advogado chegou a reunir-se com Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) para tentar travar as notícias que o CM publicara sobre a vida de Sócrates em Paris e sobre a sua ligação à Octapharma. Magno nada terá feito. E no conselho da ERC reconheceu que Sócrates “tinha direito a sentir-se perseguido”, mas que o jornal também tinha “o direito de informar”. Carlos Magno afirma que só foi uma vez ao escritório de Proença e nada teve a ver com este caso.

Sócrates terá incentivado Proença de Carvalho com o negócio da Controlinveste e chegou mesmo, segundo o CM, a admitir ajudar a encontrar capital para o negócio. Por outro lado, viria a ter um “papel decisivo” na escolha do director do Jornal de Notícias, Afonso Camões.

Afonso Camões, que também foi interceptado nas escutas a Sócrates, transitou do conselho de administração da Controlinveste para a administração da Agência Lusa em 2005, logo a seguir a José Sócrates tomar posse como primeiro-ministro. Depois da venda da Controlinveste, foi nomeado director do Jornal de Notícias.

Segundo o CM, Afonso Camões foi interceptado nas escutas em maio de 2013, ainda antes de a revista Sábado e o jornal CM avançarem com a notícias de que Sócrates estava a ser investigado. Afonso Camões estava em Macau, numa visita oficial do Presidente da República Cavaco Silva, e avisou o amigo Sócrates de possíveis notícias sobre o processo.

Assim que Sócrates foi detido, o próprio Afonso de Camões preveniu o Conselho de Administração da Controlinveste para essas conversas. Outra das conversas escutadas dá conta de Afonso Camões a dizer a Sócrates que preferia ser director do Diário de Notícias. O ex-governante, agora em prisão preventiva, disse-lhe que era melhor ser diretor do JN, para poder concorrer directamente com o CM. Assim foi.

Um dia depois de o Correio da Manhã anunciar que se iriam seguir notícias sobre o negócio da Controlinveste, o Jornal de Notícias fez capa com o caso Sócrates, onde revela que a investigação ao ex-governante recua ao período em que era ainda ministro do Ambiente, entre 2000 e 2005 – altura da aprovação do Freeport que originou um processo. Neste caso, Sócrates chegou a ser referido, mas nunca foi inquirido ou constituído arguido.

Sónia Simões - Observador

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