Ex-primeiro
ministro incentivou o advogado Proença de Carvalho a comprar o grupo
Controlinveste, que detém o DN, o JN e a TSF, noticia o Correio da Manhã. Foi
ele quem escolheu o director do JN.
O
ex-primeiro-ministro, José Sócrates, foi escutado a falar com um dos seus
advogados, Daniel Proença de Carvalho, sobre o negócio de compra da
Controlinveste – o grupo que detém o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias e
a TSF. Das escutas, no âmbito do processo que pôs Sócrates em prisão
preventiva, percebe-se que foi o ex-governante quem escolheu o actual director
do JN, Afonso Camões. E que Proença de Carvalho chegou a reunir com o
presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social para tentar travar
as primeiras notícias sobre as suspeitas da casa de Paris, ainda em 2013.
A
notícia é avançada pela edição deste sábado do jornal Correio da Manhã, um dos
que começou a publicar notícias sobre as suspeitas da casa onde Sócrates vivia
em Paris, ainda corria o ano de 2013. Já na sexta-feira, o editorial do CM
falava num ataque “à liberdade de imprensa”. E anunciou que iria constituir-se
assistente no processo.
Nas
escutas que constam no processo, que levaram à detenção de Sócrates, indiciado
corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais, há várias conversas com o
advogado de Proença Carvalho (também advogado do ex-presidente do BES, Ricardo
Salgado). O advogado que preside ao conselho de administração da Controlinveste
desde a saída do empresário Joaquim Oliveira, foi uma das principais peças na
negociação, em 2013, com os bancos BES e BCP, que são agora accionistas da
Controlinveste – a par do empresário angolano António Mosquito.
Nas
conversas entre Proença de Carvalho e Sócrates, as autoridades registaram que o
advogado chegou a reunir-se com Carlos Magno, presidente da Entidade Reguladora
para a Comunicação Social (ERC) para tentar travar as notícias que o CM
publicara sobre a vida de Sócrates em Paris e sobre a sua ligação à Octapharma.
Magno nada terá feito. E no conselho da ERC reconheceu que Sócrates “tinha
direito a sentir-se perseguido”, mas que o jornal também tinha “o direito de
informar”. Carlos Magno afirma que só foi uma vez ao escritório de Proença e
nada teve a ver com este caso.
Sócrates
terá incentivado Proença de Carvalho com o negócio da Controlinveste e chegou
mesmo, segundo o CM, a admitir ajudar a encontrar capital para o negócio. Por
outro lado, viria a ter um “papel decisivo” na escolha do director do Jornal de
Notícias, Afonso Camões.
Afonso
Camões, que também foi interceptado nas escutas a Sócrates, transitou do
conselho de administração da Controlinveste para a administração da Agência
Lusa em 2005, logo a seguir a José Sócrates tomar posse como primeiro-ministro.
Depois da venda da Controlinveste, foi nomeado director do Jornal de Notícias.
Segundo
o CM, Afonso Camões foi interceptado nas escutas em maio de 2013, ainda antes
de a revista Sábado e o jornal CM avançarem com a notícias de que Sócrates
estava a ser investigado. Afonso Camões estava em Macau, numa visita oficial do
Presidente da República Cavaco Silva, e avisou o amigo Sócrates de possíveis
notícias sobre o processo.
Assim
que Sócrates foi detido, o próprio Afonso de Camões preveniu o Conselho de
Administração da Controlinveste para essas conversas. Outra das conversas
escutadas dá conta de Afonso Camões a dizer a Sócrates que preferia ser
director do Diário de Notícias. O ex-governante, agora em prisão preventiva,
disse-lhe que era melhor ser diretor do JN, para poder concorrer directamente
com o CM. Assim foi.
Um
dia depois de o Correio da Manhã anunciar que se iriam seguir notícias sobre o
negócio da Controlinveste, o Jornal de Notícias fez capa com o caso Sócrates,
onde revela que a investigação ao ex-governante recua ao período em que era
ainda ministro do Ambiente, entre 2000 e 2005 – altura da aprovação do Freeport
que originou um processo. Neste caso, Sócrates chegou a ser referido, mas nunca
foi inquirido ou constituído arguido.
Sónia
Simões - Observador
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