Macau,
China, 17 mar (Lusa) -- O especialista em assuntos sociais Richard Welford
defendeu hoje que quando o tema é tráfico humano, os casinos de Macau
"estão em completa negação", defendeu hoje.
Welford,
presidente da Corporate Social Responsability in Asia eum dos oradores da
conferência "Liderança empresarial para acabar com o tráfico humano e com
a escravatura dos tempos modernos", que hoje decorreu no casino MGM,
afirmou que a indústria do jogo "cria uma procura" por jovens para
redes de prostituição.
"Falei
com vários casinos em Macau que estão em completa negação sobre esta situação.
Posso sair de um casino e ser abordado por três raparigas, mas eles dizem-me
'Não é nosso problema, isso é fora do casino,", descreveu.
Para
o especialista, seria desejável que os hotéis e casinos de Macau trabalhassem
mais com as organizações não-governamentais e, antes de tudo, tomassem posições
públicas: "Têm de tomar uma posição. Gostava de os ver sentarem-se com o
chefe do executivo e dizerem 'Isto está errado'".
Para
Welford, que vive em Hong
Kong , a prostituição decorrente de tráfico humano prejudica o
negócio. "Não quero ser abordado por raparigas à saída do casino. Viria a
Macau muito mais vezes se os casinos fossem mais limpos", comentou.
Na
conferência esteve também o assessor do secretário para a Segurança, Cheang Kam
Va, que garantiu que o executivo está comprometido em combater o tráfico humano
no território.
Cheang
Kam Va avançou que as autoridades de Macau identificaram 107 vítimas de tráfico
humano desde 2010, ano a partir do qual foram condenadas oito pessoas pela sua
exploração.
Em
2010, indicou o responsável, 29 vítimas foram identificadas em Macau, número
que desceu para 11 em 2011 e subiu em 2012 para 25. Em 2013 verificou-se um
"pico" de 38 vítimas, 17 das quais menores. No ano passado, as
autoridades registaram apenas quatro vítimas.
Apesar
dos números elevados, desde 2010 os condenados por tráfico humano foram apenas
oito. Cheang Kam Va justificou o número reduzido com as dificuldades inerentes
a estes casos: "Algumas vítimas passaram por traumas e não estão dispostas
a colaborar com a polícia, não querem testemunhar em tribunal".
Para
Henk Werson, adido regional da polícia da Embaixada da Holanda em Banguecoque e
um dos oradores da conferência, bastou uma tarde em Macau para conseguir
encontrar vítimas.
"Nunca
tinha estado em Macau antes. Ontem quis ir comer batatas fritas e entrei em
dois casinos. Vi imediatamente algumas pessoas a moverem-se que eram
provavelmente prostitutas, foi possível vê-las a procurar 'o peixe graúdo'. Sou
polícia, olho para as coisas com outros olhos, e consegui identificá-las logo.
Em 20 minutos vi três ou quatro mulheres que entraram em contacto com
jogadores. Estou certo que lhes foram oferecer serviços sexuais",
descreveu, sem querer especificar em que casinos esteve.
De
acordo com a sua experiência de mais de duas décadas, o holandês acredita que a
maioria das mulheres não oferece estes serviços sozinha e é obrigada a entregar
a outra pessoa grande parte do dinheiro que faz com os clientes.
Para
Henk Werson é essencial envolver as operadoras de jogo no combate ao tráfico
humano, já que a próspera indústria funciona como um grande atrativo para os
exploradores. "É preciso envolver os operadores de jogo porque é
necessário definir políticas. Se alguém não está a jogar durante duas horas, o
que está a fazer? Os operadores têm de se envolver, não o fazerem não é uma
opção", concluiu.
ISG
// VM
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