sábado, 7 de março de 2015

GOLPES NA AMÉRICA LATINA. CONHECER O PASSADO PARA ENTENDER O PRESENTE




Com o título acima Carta Maior aborda no especial os vários golpes de Estado patrocinados, desenvolvidos e apoiados pelos EUA. A administração Obama considera os países da América Latina como o seu quintal das traseiras e tudo faz para os dominar e explorar seus respetivos povos e recursos. Aos EUA não agrada as melhores condições sociais e justas que governos eleitos pelos povos possam proporcionar. Aos EUA, o fomento da miséria e da exploração dos trabalhadores é o que lhes proporciona lucro e domínio. Aos EUA, melhor educação, saúde, direitos nos países da América Latina nãp é visto com bom grado. Preferem a iletracia, o analfabetismo puro e duro, a repressão, os assassinatos cometidos por terrorismo dos governo de sua eleição. Aos EUA interessa o predomínio de ditaduras com máscaras de democracias. Por isso fomenta os golpes, apoiando aqueles que vestem roupagens democratas mas não passam de autênticos ditadores ao serviço do imperialismo norte-americano. O Brasil está numa encruzilhada em que um dos caminhos conduz a nova ditadura. A tentativa de eleger Aécio Neves por parte dos EUA saiu gorada. Não derrubou Dilma e ela foi reeleita. Mas o rumo que Dilma incute no Brasil é contrário aos interesses dos EUA. Novo golpe com roupagens democráticas está em marcha. Os ataques sucedem-se ao regime democrático brasileiro impulsionado por Lula da Silva e prosseguidos por Dilma. O Brasil que se cuide e defenda. O golpe de Estado está em marcha há tempos e cada vez com maior acuidade. Compete aos brasileiros defenderem seu país, sua democracia. Para isso importa conhecer o passado para melhor entender o futuro. É isso que Carta Maior nos proporciona no seu especial.

Redação PG

ESPECIAL CARTA MAIOR – GOLPES NA AMÉRICA LATINA

Os ingredientes do golpe latino-americano de última geração – à moda paraguaia, como o que derrubou Fernando Lugo ‘institucionalmente’, em junho de 2012 – perambulam na cena política brasileira.

O conservadorismo esquenta o forno. Enquanto vai aspergindo ingredientes no noticiário isento, o juiz Moro vasculha a Petrobras.

Não deu ainda?

Então desloque-se a força tarefa da coação – ou delação premiada – para o setor elétrico. E para onde mais for preciso.

Em algum canto há de se encontrar a brasa dormida capaz de acionar a espoleta no interior do paiol entupido de ‘provas’.

BUM!

As manchetes do dia seguinte estão prontas. Assim como sempre estiveram as sentenças dos julgamentos a que foram e serão – porque o serão – submetidos os integrantes da liderança petista.

Montadas em garrafais inexcedíveis na história do jornalismo pátrio, ofertarão aos anais da profissão um desembaraço golpista sem precedente.

Nem mesmo o entusiasmo junino com o qual a gloriosa mídia democrática recepcionou o golpe de estado de 1964, rivalizará com o que se cozinha agora nas fornalhas dos barões das comunicações.

Essa turma sabe como ninguém dar a um estupro as honras do matrimônio de conveniência liberal.

Que contrapesos poderiam, ou melhor, já deveriam ter sido acionados diante da judicialização da política e da sabotagem midiática que, de forma sintomaticamente desabrida, compõem um corredor polonês asfixiante em torno de um governo democrático e progressista?

Em que medida é realista apostar em um alicerce defensivo ancorado exclusivamente nas instituições existentes, quando o propósito em algumas delas – adornado de toga impoluta – é o de derrubar o que deveriam guarnecer?

No Especial deste fim de semana, Carta Maior convida seus leitores a revisitarem a evolução do golpismo latino-americano. Não por uma curiosidade enciclopédica, mas pela urgência inscrita nos dias que correm.

O convite é para uma leitura militante.

Trata-se de identificar nas lições de cada episódio os flancos em aberto, os equívocos teóricos e organizativos, as omissões e o voluntarismo antecedentes.

Em resumo: aquilo que permitiu – encorajou – o conservadorismo a enclausurar décadas da história latino-americana no túnel sombrio do retrocesso econômico, da brutalidade policial, da tortura aviltante e da censura fascista.

Estamos falando de um arcabouço profissional, não de bravatas, mas de instituições e recursos direcionados a esse fim.

A Escola das Américas, criada em 1946, por exemplo, é um dos braços da sedimentação antiprogressista.  Hoje rebatizada de Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança, vinculada ao Departamento de Defesa norte-americano, treinou mais de 60 mil militares latino-americanos.

Seu currículo inclui disciplinas como ‘contra-insurgência anticomunista’, guerra psicológica, técnicas de tortura, execuções sumárias e outras miudezas do ramo.

Ilustres alunos souberam aplicar com denodo as lições aprendidas na realidade de seus países. Entre eles, figuram o Brigadeiro  Burnier (suspeito de ser responsável pela execução de Rubens Paiva, Stuart Angel e do educador Aníso Teixeira), os ditadores Noriega, Viola e Banzer para citar apenas alguns expoentes do seleto grupo de ex-formandos.

O propósito desse retrospecto, insista-se, é sublinhar que não estamos falando de ontem.

Mas das evocações que esse histórico inspira no Brasil de 2014.

O processo chileno, por exemplo, tem recados a dar ao governo atual do PT?

E aos que se posicionam à esquerda do governo do PT?

É um dever sublinhar: a coragem e a dignidade de Salvador Allende e a de milhares de homens e mulheres que, a exemplo dele, perderam a vida e entes queridos naquele e em outros massacres da história regional, não estão em questão aqui.

O que se busca debater são os equívocos do processo histórico. E, sobretudo, arguir as alternativas – urgentes – que deveriam ser providenciadas à luz da realidade brasileira em curso.

Quando Allende
chegou ao poder em 21 de setembro de 1970, uma contrarrevolução marchava ao redor do mundo.

A luta armada contabilizava derrotas sucessivas na América Latina.

Ditaduras multiplicavam-se. A brasileira já tinha seis anos e inaugurava a fase mais sombria, quando as lições da Escola das Américas ganhavam sangrentas aplicações práticas.

O choque do petróleo abalaria adicionalmente o poder estadunidense, já corroído pelo déficit e a inflação decorrentes dos gastos militares na desastrosa aventura do Vietnam, onde o mais poderoso exército da terra seria derrotado de forma cabal e humilhante.

A emergência de um Chile a bordo de uma sedutora mescla de democracia e socialismo era o lança-chamas solto no paiol de um império inflamável e inflamado.

Allende foi o primeiro governante da história regional a incluir a participação de quatro ministros operários, três comunistas e um socialista em sua equipe.

Enquanto a Unidade Popular evocava estrito respeito à ordem democrática, um programa de desestabilização minava a sociedade e a economia em quatro frentes.

A saber: criando a sensação de caos econômico (‘fazer a economia gritar”, era a diretriz do departamento de Estado norte-americano acusado – entre outros feitos – de financiar uma interminável greve de caminhoneiros chilenos); promovendo o descrédito através dos meios de comunicações (o El Mercúrio pautava diariamente os demais veículos, como a Globo o faz hoje); seduzindo fileiras das Forças Armadas (US$ 8 milhões da CIA estavam disponíveis…) e multiplicando conflitos de rua – manifestações contra  o governo, panelaços e atentados a cargo de grupos paramilitares passaram a ser a rotina do país

O retrospecto enseja variados alertas à latejante atualidade brasileira.

Sem maioria, Allende foi submetido a um esgotante jogo parlamentar, que o obrigou a demitir ministros, retirar projetos, renunciar a iniciativa.

Tudo sob o fogo cerrado da mídia e da sabotagem articulada entre interesses econômicos internos e internacionais.

Não estamos falando da Lava Jato e da desclassificação do rating da Petrobras pela Moody’s.

É do Chile de Allende que se trata aqui...

Pressionado, o governo socialista dispensou 155 rádios oposicionistas de integrarem o guarda-chuva da cadeia nacional, através da qual o presidente ainda falava à Nação.

Foi como instituir uma rede de radiodifusão paralela, autônoma e golpista.

O conjunto martelava diuturnamente a insatisfação popular com a crise.

Qual crise?

Qualquer crise.  Real, virtual, presente ou anunciada.

Ainda é do golpe no Chile que estamos falando.

Em 11 de setembro de 1973, ‘a economia gritava’, como ordenara Washington.

Os decibéis eram amplificados, retransmitidos e repercutidos em escala nacional pela emissão conservadora.

A insuficiente organização popular para defender o governo evidenciaria, então, o preço caro da aposta na democracia representativa (e no Exército profissional) como fiadora exclusiva da governabilidade progressista.

Os textos reunidos no Especial de Carta Maior merecem leitura atenta nos sinais que emitem ao presente.

Como um velho farol solitário, o ano de 1973 lança alertas sobre os rochedos e as armadilhas que hoje, como há quatro décadas, separam os vagalhões da terra firme.

A luz intermitente do farol de 1973 parece dizer que mesmo para quem vai devagar, é necessário ter clareza do porto ao qual se quer chegar.

E dispor de velas – e leme firme – para isso.

Em 2012, poucos dias depois do golpe contra o presidente paraguaio, Fernando Lugo, Carta Maior conversou com a socióloga argentina, Lorena Soler, professora da Universidade de Buenos Aires, especialista em história da América Latina e Caribe.

Profunda conhecedora da política do Paraguai, onde acompanhara de perto o fulminante processo de destituição de Lugo por um legislativo belicosamente conservador, Lorena sintetizou as  mutações e o fio unificador da maioria dos revezes vividos pela esquerda regional.

Sua advertência, infelizmente, vibra uma atualidade inquietante no cenário brasileiro atual:

'O novo golpismo liderado por civis', dizia ela, ‘recorre a formatos constitucionais e mantém uma fachada institucional, sendo o caso mais ilustrativo a substituição “constitucional” de Zelaya em Honduras, em 2009. No entanto, hoje, como sempre, a possibilidade de se apelar a uma legalidade abstrata, profundamente ideológica, disfarçada de imparcialidade, só é plausível quando não há setores mobilizados que disputem esse argumento. Enfim’, advertia a professora, ‘não há revolução – nem resistência – sem sujeito histórico organizado’.


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