Virgilio Dengua
– Verdade (mz)
Nos
últimos tempos, à semelhança do que acontece nos principais centros urbanos do
país, os vendedores informais têm vindo a invadir os passeios da cidade de
Nampula para exercerem a sua actividade comercial, obstruindo a livre
circulação de peões. Ciente da situação, o Conselho Municipal pretende tirá-los
da calçada para o local que tem acolhido a Feira Dominical, no bairro dos
Belenenses. A decisão está a deixar os comerciantes revoltados, e estes acusam
a edilidade de estar a empurrá-los para a desgraça.
O
fenómeno da venda de produtos nos passeios ao longo das artérias da urbe não é
novo e, muito menos, é um problema exclusivo da cidade de Nampula. Com o
objectivo de descongestionar as calçadas e permitir a passagem de peões, o
Conselho Municipal lançou uma campanha para acabar com o comércio na via
pública. Acções do género já foram implementadas nas cidades como Maputo, mas
não surtiram nenhum efeito.
Para
os vendedores informais, a decisão da edilidade de Nampula vai reduzir, de
forma drástica, os seus rendimentos diários e não só. Aqueles indivíduos são da
opinião de que o espaço onde tem tido lugar a Feira Dominical é distante do
centro da urbe, facto que dificultará a deslocação de potenciais clientes para
a aquisição de artigos como, por exemplo, um par de sapatos ou um carregador de
telemóvel.
Dionísio
António, vendedor informal instalado ao longo da Avenida Paulo Samuel
Khankomba, especificamente nas proximidades do Mercado Central, há quase cinco
anos, disse que a possibilidade de os jovens que exercem as suas actividades
comerciais nas ruas se dirigirem à Feira Dominical é escassa. “Aqui no passeio
aproveitamos aquelas pessoas que saem para fazer compras nas lojas. Caso
saiamos daqui, será difícil vender uma peça sequer, devido à distância",
explicou.
Os
vendedores mostram-se revoltados com a edilidade, uma vez que, aquando da
campanha eleitoral para as eleições autárquicas, Mahamudo Amurane, na altura
candidato a edil pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), havia dito
que, durante a sua gestão, os visados podiam exercer livremente as suas
actividades nos passeios.
Na
verdade, os comerciantes estão preocupados com o prejuízo em que poderão
incorrer com a mudança e afirmam que, actualmente, o lucro é satisfatório,
situação que poderá alterar-se negativamente se forem transferidos para o
bairro dos Belenenses.
“Haverá
boicotes”
O
nosso entrevistado relacionou a situação por que os “chapeiros” estão a passar
e explicou: “Quando chegar a vez de teremos de sair daqui para o local
proposto, alguns comerciantes não vão aderir à decisão. Vamos fazer questão de
boicotar e voltar a ocupar as ruas”, disse António.
Bachir
Francisco, outro jovem que se dedica à venda de vestuário no passeio, lamentou
a situação, não obstante ter reconhecido que a imagem da cidade de Nampula
está, realmente, comprometida devido ao congestionamento dos passeios.
Todavia,
o vendedor não deixou de chamar a atenção às entidades municipais para uma
possível revolta na gestão daquele problema. Segundo Francisco, o que poderá
acontecer nos próximos dias é uma guerra sem precedentes entre os vendedores
informais e a Polícia Municipal que está a ser preparada para tirar os
vendedores dos passeios.
À
semelhança de Francisco, Jamal Assane é da mesma opinião. Porém, ele teme o
calvário a que a sua família será submetida nos próximos dias. Assane afirma
que está ciente de que o local onde exerce as suas actividades comerciais não é
apropriado.
Intransitabilidade
nos passeios é uma realidade
O
cenário a que se assiste nas ruas da cidade de Nampula é de desordem total. Os
cidadãos, quando circulam pelos passeios, são obrigados a contornar o vestuário
estendido no chão e, por vezes, a partilhar a estrada com as viaturas com todos
os riscos daí decorrentes.
Se,
por um lado, a edilidade se mostra preocupada com a situação de mobilidade, por
outro, os vendedores informais afirmam que a medida poderá prejudicá-los
drasticamente, pois o nível de compra e venda, no local para o qual o Conselho
Municipal pretende transferi-los é, supostamente, baixo.
“Recinto
da Feira Dominical é um atentado contra o negócio e a saúde pública”
De
acordo com os comerciantes, o recinto da Feira Dominical não dispõe de
condições satisfatórias para a prática do negócio diário, devido à sua
localização geográfica. Além disso, o espaço debate-se com o problema da falta
de saneamento do meio. A defecação a céu aberto, o depósito de lixo nas
proximidades do um riacho que atravessa o local e o cheiro nauseabundo são
algumas das situações que caracterizam a feira.
“Nós
queremos descongestionar os passeios de Nampula”
O
Conselho Municipal da Cidade de Nampula está, desde a primeira semana do mês em
curso, a estudar a possibilidade de tirar os vendedores ambulantes dos passeios
da urbe para a Feira Dominical.
A
medida, segundo Mahamudo Amurane, edil da chamada capital do norte, surge da
necessidade de descongestionar as ruas daquela urbe para facilitar a
movimentação de pessoas e bens nos passeios.
A
decisão surgiu na sequência da pressão que está a ser feita pelo partido
Frelimo sobre o assunto, na Assembleia Municipal de Nampula.
Amurane
contestou ainda o facto de algumas pessoas estarem a desafiar as ordens da
edilidade sob o pretexto de que o presidente do Município de Nampula ordenou
que os comerciantes informais congestionassem os passeios.
O
edil garantiu que o seu elenco vai continuar a trabalhar em prol da imagem da
cidade de Nampula. Importa referir que, sobre este assunto, Amurane preferiu
não se pronunciar sobre se vai ser preciso o uso de forças policiais ou não,
esperando que haja um possível diálogo entre ambas as partes.
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