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Martinho
Júnior, Luanda
1
– A “Associação Tchiweca de Documentação”, tirando partido dum longo
trabalho que tem vindo a realizar, desde alguns anos também em frutuosa
colaboração com o “Novo Jornal”, a 12 de março de 2015 e no auditório do
Museu Militar em Luanda, lançou o livro “1961 – Memória dum ano decisivo”.
A
iniciativa, que integrou a sinalização dos 50 anos do início da Luta Armada em
prol da independência de Angola (2011) e dos 40 anos da Independência (2015), é
por si um passo que preenche bastas lacunas sobre o conhecimento histórico em
relação a Angola, de tal maneira bem concebido que a sua leitura pode permitir
também abordagens antropológicas, sociológicas e psicológicas indispensáveis
para a compreensão dos fenómenos que se referem a 1961 como “o ano da
grande viragem para Angola”.
A “Associação
Tchiweca de Documentação” consegue transportar o feliz leitor ou estudioso
do compêndio, ao ambiente da época no interior e no exterior de Angola, sempre
com o foco no início da Luta de Libertação, com uma cuidadosa objectividade,
podendo ser considerado nesse aspecto como um trabalho vanguardista no que à
história diz respeito, tendo em conta a existência de tantas sensibilidades!
2
– À capacidade que a ATD possui de utilização de muita documentação, está-se a
juntar um trabalho que resulta do esforço de elaboração do tema “Angola
nos Trilhos da Independência”, traduzido na recolha oral e na 1ª pessoa de
muitos depoimentos sobre a Luta de Libertação em África, recolha essa
acompanhada de visitas reportadas aos locais de muitos acontecimentos
relevantes e dum acervo documental em crescendo, acompanhado de fotos raras,
que testemunham a saga dos africanos e de Angola, em prol da justa Luta de
Libertação contra o colonialismo em África (e também na Ásia, tendo em conta o
caso da derrota do Estado Novo na Índia, de que este compêndio também se
refere, com notável sentido de objectividade histórica).
Nesse
aspecto o compêndio “1961 – Memória dum ano decisivo”, consegue ir além
dos livros já publicados pela ATD, ao transmitir-nos mais elementos sobre o
ambiente da época, ao conferir vida à expressão da torrente daqueles que um dia
partiram para a Luta por que nada mais havia a fazer perante a teimosia
alucinante do fascismo e da colonização.
É
impressionante a decisão de tantos milhares e milhares de jovens de então, que
tornaram a fuga ao colonialismo como um dos seus primeiros actos patrióticos e
revolucionários, o que por si só é ainda hoje muito oportuno lembrar, perante
alguns que procuram “lavar a história” e o papel do Estado Novo na
opressão que se abatia sobre milhões de africanos… em pleno século XX!
3
– Os três acontecimentos que marcam o início da Luta Armada de Libertação
Nacional em Angola, são lembrados todos os anos e por isso abrem o livro: o 4
de janeiro, que se refere à revolta camponesa da Baixa do Cassange, o 4 de
fevereiro, que destaca a revolta urbana em Luanda e o 15 de março, que lembra a
explosão camponesa que se fez sentir em todo o norte de Angola.
O
livro reúne numa primeira parte esses acontecimentos, para depois se debruçar
sobre a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (“CONCP”),
a União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (“UNTA”), o Pan-Africanismo e
Solidariedade com Angola, o caminho da Luta, o Corpo Voluntário Angolano de
Assistência aos Refugiados (“CVAAR”), as organizações estudantis, os primeiros
esforços no sentido de armar a Luta, uma síntese do percurso desde então aberto
e terminando com algo que muito raramente é lembrado, mas tem completo
cabimento: a “maka” de Goa e as ligações afro-asiáticas!
4
– É evidente que o livro não esgota o tema, também por causa do foco que foi
considerado, que é justo, ou seja, a todo o transe não se perder a memória
histórica que recolhe a experiência de tantos intervenientes, na 1ª pessoa e
apesar de se passarem já tantos anos em suas vidas.
Por
exemplo, há um imenso trabalho de pesquisa em relação a todos os que no
exterior, duma forma ou de outra, se relacionaram com o fenómeno do início da
Luta Armada nas então colónias portuguesas, desde arquivos individuais, aos de
várias organizações, aos de muitos estados, incluindo dos seus serviços de
inteligência.
Há
também toda uma perspectiva de luta de classes, a partir duma esteira
sócio-económica, a um dia dar uma melhor atenção…
Os
depoimentos expressos denotam um trabalho de rigor, que não dá margem à subjectividade,
podendo-se considerar que o trabalho que nos transmite a universidade da vida
da geração jovem dos anos 60 do século passado, está de tal maneira sensível no
compêndio, que interessa aos universitários de África duma forma geral e, muito
em particular, àqueles que se debruçam sobre a história contemporânea e ao
papel do Movimento de Libertação, com reflexos nos nossos dias e no futuro!
É
por esta e por outras que Angola se me afigura, apesar dos tremendos
obstáculos, riscos, sacrifícios e vulnerabilidades de toda a ordem,
inequivocamente um país com rumo!!!
Foto
da capa do compêndio “1961 – Memória dum ano decisivo”.
Consultas
obrigatórias:
- “Associação
Tchiweca de Documentação” – ATD – https://sites.google.com/site/tchiweka/
- “Angola
nos Trilhos para a Independência” – http://projectotrilhos.com/pt/home
- “Novo
Jornal” – http://www.novojornal.co.ao/
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