quarta-feira, 4 de março de 2015

Portugal. NÃO É PERFEITO. É PRIMEIRO-MINISTRO



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Passos não é um "cidadão perfeito". Ele próprio esboça o retrato, mas erra o alvo. Ninguém lhe exige a perfeição (que é coisa do divino), mas esperávamos ver nele um cidadão cumpridor das suas obrigações com o Estado. Neste autorretrato acossado, premonitório de dura campanha eleitoral, falta-lhe força para diluir todos os problemas políticos com que poderá vir a ser confrontado. Que não é cidadão perfeito, já o sabemos. O mais importante, porém, surge na outra face: ele é o primeiro-ministro, e deve assumir as consequências das suas atitudes imperfeitas.

É insuficiente ao primeiro-ministro justificar as acusações que lhe são feitas - verdadeiras como o próprio reconhece - a uma "chicana política" em pré-campanha eleitoral para as legislativas. O governante de "os sacrifícios são para todos" tem, agora, de explicar claramente porque num determinado período se esqueceu de pagar à Segurança Social, como todo e qualquer cidadão, perfeito ou imperfeito, faz. Mas tal passo o primeiro-ministro não o dará, o significado político dessa honestidade seria demasiado alto.

De todo o modo, os portugueses perceberam. Não pagou, na altura certa, porque terá sido esse o caminho seguido pelo cidadão imperfeito. O facto ganha, contudo, outro significado: Pedro Passos Coelho é o primeiro-ministro de um Governo que se orgulha da sua eficiência na cobrança de impostos. Malha apertada, máquina cega que à primeira falta pressiona os imperfeitos cidadãos a pagar as dívidas, caso contrário penhora-se seja o que for - independentemente do que sobrar para responder às necessidades básicas.

E confrontado com casos concretos que não desmente, antes confirma, parece pouco ético Pedro Passos Coelho usar como defesa o ataque a José Sócrates, sem o nomear, estando o ex-primeiro-ministro preso e sem possibilidade de, também aqui, se defender.

O primeiro-ministro, também o líder do PSD, a lutar por uma vitória nas legislativas, dá-nos o sinal inequívoco de que o caminho até às eleições vai ser duro (das pedras, como dizia Seguro) e todas as armas sairão a terreiro - mesmo que os alvos não tenham qualquer possibilidade de os rebater.

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