Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Passos
não é um "cidadão perfeito". Ele próprio esboça o retrato, mas erra o
alvo. Ninguém lhe exige a perfeição (que é coisa do divino), mas esperávamos
ver nele um cidadão cumpridor das suas obrigações com o Estado. Neste
autorretrato acossado, premonitório de dura campanha eleitoral, falta-lhe força
para diluir todos os problemas políticos com que poderá vir a ser confrontado.
Que não é cidadão perfeito, já o sabemos. O mais importante, porém, surge na
outra face: ele é o primeiro-ministro, e deve assumir as consequências das suas
atitudes imperfeitas.
É
insuficiente ao primeiro-ministro justificar as acusações que lhe são feitas -
verdadeiras como o próprio reconhece - a uma "chicana política" em
pré-campanha eleitoral para as legislativas. O governante de "os
sacrifícios são para todos" tem, agora, de explicar claramente porque num
determinado período se esqueceu de pagar à Segurança Social, como todo e
qualquer cidadão, perfeito ou imperfeito, faz. Mas tal passo o
primeiro-ministro não o dará, o significado político dessa honestidade seria
demasiado alto.
De
todo o modo, os portugueses perceberam. Não pagou, na altura certa, porque terá
sido esse o caminho seguido pelo cidadão imperfeito. O facto ganha, contudo,
outro significado: Pedro Passos Coelho é o primeiro-ministro de um Governo que
se orgulha da sua eficiência na cobrança de impostos. Malha apertada, máquina
cega que à primeira falta pressiona os imperfeitos cidadãos a pagar as dívidas,
caso contrário penhora-se seja o que for - independentemente do que sobrar para
responder às necessidades básicas.
E
confrontado com casos concretos que não desmente, antes confirma, parece pouco
ético Pedro Passos Coelho usar como defesa o ataque a José Sócrates, sem o
nomear, estando o ex-primeiro-ministro preso e sem possibilidade de, também
aqui, se defender.
O
primeiro-ministro, também o líder do PSD, a lutar por uma vitória nas
legislativas, dá-nos o sinal inequívoco de que o caminho até às eleições vai
ser duro (das pedras, como dizia Seguro) e todas as armas sairão a terreiro -
mesmo que os alvos não tenham qualquer possibilidade de os rebater.
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