Faustino Diogo – Novo Jornal (ao)
É
um dos piores surtos de raiva dos últimos tempos em Luanda. Falta de
condições técnicas e humanas para recolher e tratar dos animais contribuem para
este mal que soma e segue. Autoridades da capital mobilizam-se para mais uma
campanha de vacinação animal para tentar reduzir o número de óbitos na
província.
Trinta
e quatro mortes humanas e mais de 600 casos por semana fizeram disparar os
alertas da sociedade e da direção provincial de saúde pública de Luanda que não
teve outra alternativa senão reconhecer a existência de um surto de raiva
animal na capital do país.
Em
quase três meses, ou seja, até ao dia 23 de Março, morreram mais pessoas
vítimas de raiva do que nos 12 meses do ano passado. "Desde Janeiro até à
semana finda morreram trinta e quatro pessoas com raiva e isto é uma
preocupação porque, no ano passado, tivemos sessenta mortes e já chegámos aos
trinta e quatro. Quer dizer que estamos já com mais de metade dos casos registados
em relação ao ano passado", confirmou a chefe de departamento provincial
de saúde pública Regina António.
Os
casos de mordeduras animais foram aumentando ao longo destes primeiros meses do
ano. De menos de cem casos semanais passou-se para mais de seiscentos, o que
originou até agora mais de cinco mil casos de ataques a pessoas. "Nos
últimos dias registámos semanalmente mais de seiscentas mordeduras por animais
como cães, gatos ou macacos, embora a maioria dos casos seja de cães. De
Janeiro até agora temos mais de cinco mil casos de mordeduras", com às
crianças entre as principais vítimas.
"O
grupo mais atingido envolve crianças menores de 14 anos do sexo masculino, com
mais de 82% dos casos de mordedura e mortes registados" disse a médica.
Vacinação urgente Para contornar a actual situação deste surto na capital do
país, começa hoje uma campanha de vacinação animal na zona mais endémica de
Luanda, Viana, procurando evitar uma ainda maior propagação da doença.
"Neste
momento, a realidade é bastante preocupante. Temos vindo a registar um número
considerável de óbitos que quando comparados com o ano passado, o que
representa uma preocupação. Para não atingirmos situações mais graves, achou-se
por bem reforçar as medidas que a Comissão Interministerial de Combate à Raiva
estabeleceu, a ver se conseguimos contornar a situação", avançou Edgar
Dombolo, chefe do departamento provincial dos serviços veterinários de Luanda
do ministério da Agricultura.
Segundo
o responsável, a campanha de vacinação animal vai arrancar no município de
Viana que é o município com o maior número de óbitos e vai envolver 31 equipas
para que possam percorrer os 31 bairros existentes nesta localidade durante os
sete dias previstos.
Com
esta acção, os serviços veterinários esperam imunizar mais de 50 mil animais
entre cães, gatos e macacos.
"Teremos
um equipa em cada bairro durante os sete dias da campanha tentando vacinar o
maior número possível dos animais. A nossa meta é atingir mais de 50 mil
animais, e se conseguirmos chegar aos 100 mil, melhor para todos. As brigadas
serão móveis devido à grande dimensão dos bairros e porque nos queremos
aproximar da maior percentagem da população possível. Por isso é que a campanha
se vai desenvolver durante sete dias, de modo a permitir que as equipas possam
circular por toda a extensão do município. Queremos vacinar todos os animais
que Viana tem", disse Edgar Dombolo.
Para
que isto aconteça é necessário que haja condições não apenas físicas, mas
sobretudo técnicas, e aqui estamos a falar das vacinas que em alguns centros de
vacinação animal têm sido uma "dor de cabeça" para os proprietários
de animais. "Temos vacinas animais suficientes para cobrir o município.
Temos mais de 80 mil doses, porque sabemos que nas zonas fronteiriças com
outros municípios, as pessoas vão também querer trazer os seus animais. Por
isso estamos prevenidos em relação a isso", garante o responsável do
ministério da Agricultura.
Embora
esta campanha tenha o seu começo em Viana, vai ser estendida a outras zonas de
Luanda, em função da gravidade do quadro epidemiológico de cada município.
Assim os próximos serão os municípios de Cacuaco e Cazenga, por serem onde se
registam mais casos a seguir a Viana.
"Estamos
a trabalhar para reverter o quadro do surto. Para isso, estamos a iniciar pelo
município que tem o maior número de casos e de óbitos. Depois de Viana vamos
trabalhar em Cacuaco e no Cazenga, que são por ordem decrescente os municípios
que mais nos preocupam neste momento", explica Edgar Dombolo. Embora o
ideal fosse mesmo vacinar toda a província em simultâneo para se poder conferir
uma imunidade de grupo e mais facilmente conseguir controlar-se a transmissão
da doença aos humanos.
"O
ideal seria vacinar toda a província de uma só vez porque a história diz-nos
que quando vacinamos em campanha num curto período de tempo vacinamos um grande
número de animais. Quando vacinamos nos nossos postos fixos, não atingimos a
mesma dimensão. Se conseguirmos conferir uma imunidade de rebanho, mais
facilmente controlaremos a transmissão da doença", garante.
De
acordo com o chefe de departamento provincial dos serviços veterinários do
ministério da Agricultura, na campanha que hoje começa, serão vacinados cães,
gatos e macacos por ser a forma mais eficaz de prevenir casos de raiva nas
pessoas.
Por
isso é que as autoridades estão a desenvolver um programa que prevê realizar em
Luanda campanhas sucessivas, durante cinco anos, com o objectivo de se reduzir
consideravelmente o número de óbitos.
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