quinta-feira, 2 de abril de 2015

Angola. LUANDA “RESPIRA” RAIVA



Faustino Diogo – Novo Jornal (ao)

É um dos piores surtos de raiva dos últimos tempos em Luanda. Falta de condições técnicas e humanas para recolher e tratar dos animais contribuem para este mal que soma e segue. Autoridades da capital mobilizam-se para mais uma campanha de vacinação animal para tentar reduzir o número de óbitos na província.

Trinta e quatro mortes humanas e mais de 600 casos por semana fizeram disparar os alertas da sociedade e da direção provincial de saúde pública de Luanda que não teve outra alternativa senão reconhecer a existência de um surto de raiva animal na capital do país.

Em quase três meses, ou seja, até ao dia 23 de Março, morreram mais pessoas vítimas de raiva do que nos 12 meses do ano passado. "Desde Janeiro até à semana finda morreram trinta e quatro pessoas com raiva e isto é uma preocupação porque, no ano passado, tivemos sessenta mortes e já chegámos aos trinta e quatro. Quer dizer que estamos já com mais de metade dos casos registados em relação ao ano passado", confirmou a chefe de departamento provincial de saúde pública Regina António.

Os casos de mordeduras animais foram aumentando ao longo destes primeiros meses do ano. De menos de cem casos semanais passou-se para mais de seiscentos, o que originou até agora mais de cinco mil casos de ataques a pessoas. "Nos últimos dias registámos semanalmente mais de seiscentas mordeduras por animais como cães, gatos ou macacos, embora a maioria dos casos seja de cães. De Janeiro até agora temos mais de cinco mil casos de mordeduras", com às crianças entre as principais vítimas.

"O grupo mais atingido envolve crianças menores de 14 anos do sexo masculino, com mais de 82% dos casos de mordedura e mortes registados" disse a médica. Vacinação urgente Para contornar a actual situação deste surto na capital do país, começa hoje uma campanha de vacinação animal na zona mais endémica de Luanda, Viana, procurando evitar uma ainda maior propagação da doença.

"Neste momento, a realidade é bastante preocupante. Temos vindo a registar um número considerável de óbitos que quando comparados com o ano passado, o que representa uma preocupação. Para não atingirmos situações mais graves, achou-se por bem reforçar as medidas que a Comissão Interministerial de Combate à Raiva estabeleceu, a ver se conseguimos contornar a situação", avançou Edgar Dombolo, chefe do departamento provincial dos serviços veterinários de Luanda do ministério da Agricultura.

Segundo o responsável, a campanha de vacinação animal vai arrancar no município de Viana que é o município com o maior número de óbitos e vai envolver 31 equipas para que possam percorrer os 31 bairros existentes nesta localidade durante os sete dias previstos.

Com esta acção, os serviços veterinários esperam imunizar mais de 50 mil animais entre cães, gatos e macacos.

"Teremos um equipa em cada bairro durante os sete dias da campanha tentando vacinar o maior número possível dos animais. A nossa meta é atingir mais de 50 mil animais, e se conseguirmos chegar aos 100 mil, melhor para todos. As brigadas serão móveis devido à grande dimensão dos bairros e porque nos queremos aproximar da maior percentagem da população possível. Por isso é que a campanha se vai desenvolver durante sete dias, de modo a permitir que as equipas possam circular por toda a extensão do município. Queremos vacinar todos os animais que Viana tem", disse Edgar Dombolo.

Para que isto aconteça é necessário que haja condições não apenas físicas, mas sobretudo técnicas, e aqui estamos a falar das vacinas que em alguns centros de vacinação animal têm sido uma "dor de cabeça" para os proprietários de animais. "Temos vacinas animais suficientes para cobrir o município. Temos mais de 80 mil doses, porque sabemos que nas zonas fronteiriças com outros municípios, as pessoas vão também querer trazer os seus animais. Por isso estamos prevenidos em relação a isso", garante o responsável do ministério da Agricultura.

Embora esta campanha tenha o seu começo em Viana, vai ser estendida a outras zonas de Luanda, em função da gravidade do quadro epidemiológico de cada município. Assim os próximos serão os municípios de Cacuaco e Cazenga, por serem onde se registam mais casos a seguir a Viana.

"Estamos a trabalhar para reverter o quadro do surto. Para isso, estamos a iniciar pelo município que tem o maior número de casos e de óbitos. Depois de Viana vamos trabalhar em Cacuaco e no Cazenga, que são por ordem decrescente os municípios que mais nos preocupam neste momento", explica Edgar Dombolo. Embora o ideal fosse mesmo vacinar toda a província em simultâneo para se poder conferir uma imunidade de grupo e mais facilmente conseguir controlar-se a transmissão da doença aos humanos.

"O ideal seria vacinar toda a província de uma só vez porque a história diz-nos que quando vacinamos em campanha num curto período de tempo vacinamos um grande número de animais. Quando vacinamos nos nossos postos fixos, não atingimos a mesma dimensão. Se conseguirmos conferir uma imunidade de rebanho, mais facilmente controlaremos a transmissão da doença", garante.

De acordo com o chefe de departamento provincial dos serviços veterinários do ministério da Agricultura, na campanha que hoje começa, serão vacinados cães, gatos e macacos por ser a forma mais eficaz de prevenir casos de raiva nas pessoas.

Por isso é que as autoridades estão a desenvolver um programa que prevê realizar em Luanda campanhas sucessivas, durante cinco anos, com o objectivo de se reduzir consideravelmente o número de óbitos.

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