segunda-feira, 13 de abril de 2015

Portugal. PROCRIEMOS PARA O AVÔZINHO TRABALHAR A MEIO TEMPO



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Lembro aquele Verão de 2010 em que o governo anunciava que tudo ia mudar na forma de acesso ao abono de família. Os beneficiários teriam de, “voluntariamente”, levantar o sigilo bancário ou abdicar da benesse. A cereja no topo do bolo chegou a três dias da entrega da documentação, quando Teixeira dos Santos anuncia “novas medidas”, entre as quais o corte integral do abono às famílias integradas nos quarto e quinto escalões de rendimento. Da nunca cumprida promessa eleitoral do cheque-bebé, o PS acabava a retirar o abono à maioria das famílias com filhos.

Mas a estória repete-se sempre que nela quisermos acreditar. Com o aproximar da hora eleitoral, o PSD e o CDS disponibilizam-se para fazer tudo o que não fizeram nos últimos quatro anos para, dizem, “incentivar a natalidade”. O anunciado pacote de incentivos é de fina ironia: o aumento em cinco dias da licença de paternidade; a possibilidade de o trabalhador com filhos até três anos poder exercer a actividade em regime de teletrabalho desde que autorizado (como se isto, actualmente, não pudesse acontecer); a possibilidade de funcionários públicos com filhos ou netos até 12 anos trabalharem meio dia por 60% do salário (não se perdendo uma oportunidade para reduzir serviços públicos e salários); ou a consagração da vacina pneumocócica no respectivo plano nacional (“incentivo” prometido para Janeiro último). De permeio, a alfinetada ao PS, com a promessa de repor, na próxima legislatura, o abono às famílias que Teixeira dos Santos retirou e a ajuda à indústria automóvel, ao consagrar a isenção de 50% do imposto sobre veículos automóveis com lotação superior a cinco lugares.

Na verdade, nenhuma das medidas descritas incentiva a natalidade ou pretende atacar os problemas de fundo. A maior parte das famílias em idade fértil vive sem margem orçamental, em situação precária e com a firme noção de que um espirro de Bruxelas anula todas as promessas eleitorais. 

Escreve à segunda-feira

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