quinta-feira, 25 de junho de 2015

A UNIÃO EUROPEIA OPTA PELA ESPADA



 Martinho Júnior, Luanda

1 – O capitalismo exacerbado das últimas décadas está a esvaziar a “democracia representativa” na União Europeia

As oligarquias apossaram-se da “representatividade” em cada núcleo nacional de poder, de forma a instrumentalizar o sistema executivo e os “ensinamentos” recolhidos desse tipo de processos são“transferidos” para o “nó-cego” de Bruxelas.

O poder financeiro tornou-se vulnerável a processos especulativos, como à lavagem de dinheiro proveniente de todo o tipo de tráficos, à medida que se foi forjando a concentração do capital em poucas mãos e foram surgindo multinacionais, em alguns casos autênticos carteis.

É da “city” de Londres que se controlam todo o tipo de “offshores”.

Os “lobbies” tornaram-se omnipresentes na periferia imediata dos núcleos de poder, influenciando-os e moldando-os à conveniência dos mais poderosos, “até à medula”.

O poder legislativo é inerente à ”representatividade” e tornou-se emanação e espectro das oligarquias, conformando os estados europeus em “democracias burguesas” que excluem alternativas populares e participativas, como cada vez mais menosprezam o que é social.

Uma parte substancial das autarquias não conseguiu vencer o papel dos barões e caciques locais, reflectindo o “stato quo” de sociedades atávicas, com bastas dificuldades de abertura em relação a consensos dilatados, motivadores e que priorizem o social sobre o consumo.

O sistema judicial subsiste com motivações e rituais conservadores, reflectindo as velhas tradições que advêm do feudalismo, tornando-se uma autêntica muleta da orientação que está ser dada ao poder.

O “quarto poder”, a informação pública, foi tomado de assalto pelo capital e passou a fazer o exercício que reflecte o interesse e a conveniência das oligarquias e do espectro de instituições que actuam acima dos poderes de estado nacionais, que o transformaram em mais uma mercadoria.

O poder militar e os serviços de inteligência, que deveriam ser instrumentos do poder nacional, são transferidos por pacto anacrónico, sem qualquer recurso democrático e colocados ao serviço da aristocracia financeira global que compõe o poder dominante de 1% da população universal sobre os outros e instrumentalizados de facto na Organização do Tratado do Atlântico Norte, de forma a gerar doutrinas e ideologias adequadas, de tendência neofascista, ou mesmo neonazi e supra nacional.

2 – O quadro da União Europeia demonstra que a “democracia representativa” subsiste apenas por que serve ao domínio da aristocracia financeira mundial e das oligarquias que lhe são subsidiárias, pelo que o peso da doutrina e das ideologias da NATO condensa o essencial da orientação de recurso, moldando os conceitos ao serviço das oligarquias nacionais, tornando-os“correspondentes” e garantindo a tipologia de relacionamentos internos e externos reveladores do exacerbamento “euro-centrista” das opções.

Nesse sentido, “think tanks” elitistas como o Bilderberg, o Le Cercle, ou a Trilateral, desempenhando funções de estratégia “sublimadora”, implicadas no vértice da pirâmide construída por via do capitalismo pelo poder dominante, são “núcleos duros” que emanam até de algumas casas monárquicas europeias mais conservadoras enquanto residuais do feudalismo.

Num quadro desta natureza, não é de estranhar a polarização entre ricos e pobres, abrangendo regiões inteiras do espaço europeu.

O sul da União Europeia está subalternizado e os “PIGS” (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), sujeitos a uma depressiva austeridade de intensidade variável, quando poucas soluções se encontram para os novos membros dos 28, quase todos eles a Leste.

O primado da NATO, contra toda a expectativa democrática, tolhe os relacionamentos internacionais aos mais diversos níveis da União Europeia e até mesmo potências como a Alemanha e a França são obrigadas a avassalarem-se ao imperioso “diktat norte-americano”.

Um dos resultados é uma constante ambivalência nos procedimentos de relação com outros: os países europeus quando assumem uma linha, não se conseguem desenvencilhar do espectro doutrinário, ideológico e conceptual que é imposto via NATO.

O trabalho de constante lavagem cerebral dos europeus tem sido de tal ordem, que mesmo no exacerbamento das contradições sócio-políticas internas quase nada conduz os oprimidos que este“modelo de democracia representativa” tem engendrado, à consciência completa dos fenómenos repressivos que com a NATO têm sido desencadeados sobre as singulares sociedades nacionais.

As reivindicações públicas, quando as há, raramente se manifestam contra o papel das esferas de inteligência e militar enquanto instituições fora da democracia e eminentemente neo fascistas ou neo nazis, de tão injectadas de propaganda que estão as sociedades, por via da massiva presença dos media de conveniência, dos “vírus formatados” pela NATO.

Está a chegar-se a um empolamento com a Rússia próximo duma nova Guerra Fria, em rescaldo do “diktat norte-americano” e contra os interesses e conveniências europeias, no Árctico, no Báltico, no Mediterrâneo e no Mar Negro, como em relação à própria Rússia, enquanto na Ucrânia se levam a cabo, após o golpe de estado Euro-Maidan, medidas neo fascistas e neo nazis, com recurso até a mercenários, com uma guerra larvar, fruto dos critérios de exclusão que passaram a ser impostos. 

Assim sendo, a União Europeia está pronta à opção pela espada que caracteriza já uma nova Guerra Fria!

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