sábado, 27 de junho de 2015

Angola. PRESOS POLÍTICOS ESTÃO INCOMUNICÁVEIS POR DEZ DIAS




Procuradoria emite comunicado oficial sobre detenção política dos quinze activistas

Os 15 detidos pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC) acusados ontem pela Procuradoria-Geral da República de estarem a preparar um atentado contra o Presidente da República e outros membros dos órgãos de soberania, estão impedidos de comunicar-se com os seus advogados.

De acordo com Walter Tondela, membro da equipa de advogados dos presos políticos, a decisão foi tomada pela Procuradoria-Geral que decidiu manter os jovens sem contactos com o exterior num período de dez dias a partir de ontem. Em declarações à rádio Voz da América, o advogado diz não haver qualquer indício de crime, depois dos interrogatórios levados a cabo pelos procuradores nos SIC, onde se encontram os jovens integrantes do chamado Movimento Revolucionário.

“O que sabemos apenas é que os jovens serão transferidos para uma cadeia com melhores condições porque aqui tem baratas e mosquitos”, revelou.

No entanto, ontem, através de um comunicado, a PGR refere que o Ministério Público validou a detenção dos 15 jovens activistas, pois a conduta dos detidos configurava actos preparatórios para o cometimento do crime de rebelião. (Ouça o áudio)

O documento adianta que foi decretada a prisão preventiva “por inconveniência da liberdade provisória”. Para Walter Tondela, ainda em declarações à VOA, os investigadores continuam à procura de provas para incriminar os activistas. “Não querem soltá-los mesmo sem provas e dizem que eles têm computadores e cadernos com provas”, explicou.

O advogado de defesa mostrou-se ainda preocupado pelo facto de vários dos jovens detidos serem estudantes universitários e alguns já falharam alguns exames.

Também em declarações à Voz da América, Neusa Sedrick, esposa do jornalista do bissemanário Folha 8 preso no sábado, Sedrick de Carvalho, lamentou o facto e revelou que a família tem tido muitas dificuldades.

“Temos vivido muitos problemas porque ele é o cabeça de casa”, lamentou.

SIC terá recebido denúncia 

O comunicado da Procuradoria Geral detalha ainda o processo de investigação levado a cabo pelo Serviço de investigação Criminal, que culminou com a detenção, na tarde do sábado passado, de 13 jovens em flagrante delito, e posteriormente de outros dois membros do grupo.

De acordo com a PGR, o SIC recebeu uma denúncia escrita que dava conta da realização de encontros de um grupo de cidadãos, que se reuniam aos sábados à tarde, desde 16 de Maio deste ano, numa sala adaptada para ministrar aulas numa residência no bairro Vila Alice.

Os encontros tinham como objectivo a formação de formadores para mobilizar a população de Luanda para uma insurreição e desobediência colectiva, com a colocação de barricadas nas principais artérias da cidade capital e a queima de pneus em locais de maior afluência de cidadãos estrangeiros, nomeadamente o aeroporto internacional 4 de Fevereiro.

Acrescenta a PGR, que confirmados os factos constantes da denúncia pelo SIC e face à sua gravidade, foram emitidos mandados para buscas, revistas e apreensões no local das reuniões, tendo sido encontrado na posse do grupo manuais de instruções e outros documentos, bem como escritos em cadernos com teores comprovativos das suas intenções criminosas.

Acrescenta ainda que durante as buscas e revistas, foram apreendidos na posse dos detidos, computadores portáteis, pen drives, telemóveis, entre outros objectos “com conteúdo suspeito”.

“De realçar que entre os documentos apreendidos consta a composição de todos os Órgãos do Estado que seriam criados pelos insurrectos, desde o presidente e o Vice-Presidente da República, o presidente da Assembleia Nacional, os Tribunais Constitucional, Supremo, de Contas e Supremo Militar, entre outras instituições do Estado e os governos provinciais”, lê-se no comunicado.

A nota refere ainda que os “insurrectos” pretendiam denominar os novos órgãos do Estado por “Governo de Salvação Nacional”, tendo já a indicação dos nomes de futuros titulares dos cargos públicos, constando igualmente os nomes de alguns cidadãos ora detidos.
PGR “informa” deputados .

Ontem, o Procurador-geral da República,João Maria de Sousa, o ministro do Interior, Ângelo Veiga Tavares, e o director do Serviço de Investigação Criminal, comissário chefe Eugénio Pedro Alexandre, estiveram reunidos com os presidentes dos grupos parlamentares do MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS e FNLA.

O encontro teve como objectivo informar oficialmente os deputados sobre a detenção dos 15 jovens. De acordo com a Angop, os mesmos teriam recebido garantias do procurador-geral “de que o processo vai ser conduzido com todo respeito pelo princípio da legalidade”.

Rede Angola, com Agência Lusa 26.06.2014

O Rede Angola ouviu a sociedade sobre a prisão dos activistas. Conheça as opiniões aqui.

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