O
mês de junho chegou, e com ele, a urgência de um acordo entre Atenas e credores
internacionais. Se o premiê Tsipras não agir em vez de falar, novas eleições
são a solução, opina o correspondente da DW Bernd Riegert.
O
mês de junho pode ser o último
da Grécia na zona do euro, caso a coalizão eurocética de esquerda e direita
– formada pelo Syriza, do premiê Alexis Tsipras, e o partido nacionalista
Gregos Independentes – não se mexer.
Novamente
Atenas está diante de prazos para pagamentos
ao Fundo Monetário Internacional (FMI)e, mais uma vez, ouvimos o concerto
cacofônico de vozes dos ministros, em que ressoam tanto uma falência próxima
quanto um iminente
acordo nas negociações com os credores internacionais. É difícil manter
uma visão geral sobre como realmente está a situação das finanças gregas. Pelo
que parece, o governo radical na Grécia também não sabe.
Em
vez de impulsionar as negociações com o chamado "grupo de Bruxelas"
com propostas concretas e efeitos calculáveis, Tsipras concentra sua energia na
preventiva atribuição de culpados. Ele fareja o trabalho de um bando neoliberal
de conspiradores na União Europeia (UE), que sobrecarrega a Grécia com
exigências absurdas. Absurdas são unicamente as teses ideológicas que Tsipras
expressou ao jornal francês Le Monde. Culpados seriam somente os maus
europeus e o FMI, lamentou o premiê grego.
Deve-se
lembrar que a Grécia concordou, em 20 de fevereiro, em apresentar dentro de
poucos dias uma lista concreta de reformas, que tornariam possível que novos
recursos de resgate fossem desembolsados em abril. Até hoje, a
lista não foi apresentada.
O
governo grego apenas enumerou uma série de reestruturações administrativas em
órgãos fiscais e uma reforma sobre o Imposto sobre o Valor Agregado. Essas
propostas visam à ampliação da base tributária e a um aumento da receita
fiscal. Isso já é um começo, mas as propostas são insuficientes para
reequilibrar o orçamento público e revitalizar a economia grega.
O
desafortunado ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, desperdiçou muito tempo
precioso, principalmente com sua autoafirmação. Agora o tempo está se
esgotando, pois o prazo para novas ajudas à Grécia expira em 30 de junho. Seria
necessário um acordo com os credores no mais tardar até meados de junho, a fim
de manter tecnicamente viável novos pagamentos.
Esse
acordo, no entanto, ainda requer a aprovação dos ministros das Finanças do
Eurogrupo e de vários parlamentares dos Estados-membros da UE. O Parlamento grego
teria de, ao menos, encaminhar algumas reformas legislativas, o que não deve
ser fácil, considerando as brigas internas na coligação da esquerda radical
Syriza.
Mas
o que Tsipras está fazendo? Ao invés de se ater aos processos cristalinos no
Eurogrupo, ele se esforça no aconselhamento por telefone. Quase que
diariamente, ele faz uma ligação à chanceler federal alemã, Angela Merkel, e ao
presidente francês, François Hollande. Ele quer alcançar uma "solução
política" de alto nível.
Porém,
em várias cúpulas europeias foi deixado claro que não falta vontade política
para manter a Grécia na zona do euro. Simplesmente não há o compromisso claro
por parte de Atenas de que cumprirá as condições de novos empréstimos.
Obviamente,
é preciso conversar e negociar sobre o curso de reestruturação da Grécia,
também nos níveis mais altos da política. Mas, primeiramente – e isso Tsipras
deveria saber – a aguda crise financeira no país, que pode excluir os gregos da
zona do euro em poucas semanas, precisa ser solucionada. Algo para o qual até
mesmo os ministros das Finanças do G7 já alertaram, principalmente o dos
Estados Unidos.
A
Grécia precisa de ar para respirar. Tsipras pode se encontrar com Merkel,
Hollande e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, quantas
vezes quiser, mas decisões são tomadas pelo Eurogrupo, por todos os 19 Estados
e por unanimidade.
A
culpa pela cada vez mais grave crise financeira na Grécia é, em grande parte,
da atual liderança em Atenas, que aparentemente não consegue ou não sabe como
lidar melhor com a situação. Desde o começo do mandato, em fevereiro, a
economia grega voltou à recessão, da qual ela tinha acabado de sair. Após a
dedução de dívidas, o excedente orçamental se transformou num déficit
orçamentário. A confiança dos investidores está completamente abalada. O número
de reservas feitas por turistas diminuiu.
A
fim de permanecer solvente, o governo junta os últimos recursos de seguradoras
públicas, universidades e hospitais. Uma conta de reserva do FMI foi usada para
outros fins. Os bancos gregos estão sendo "alimentados a soro" pelo
Banco Central Europeu (BCE), enquanto poupadores e investidores retiram
dinheiro dos bancos e o despacham ao exterior ou colocam debaixo de
travesseiros. Assim não tem como continuar.
Grécia
e Europa precisam de decisões corajosas do governo em Atenas. Ou o governo
grego terá que dar espaço a uma nova equipe capaz de realizar um trabalho
melhor. Até então, a atuação do Syriza foi um fracasso. Mesmo que a Grécia
consiga, de última hora, se manter na zona do euro, não está claro o que pode
vir depois de junho.
A
confiança no governo da Grécia está sustentavelmente comprometida entre
europeus e investidores. Quem negociará e financiará o certamente necessário
terceiro pacote de resgate financeiro para a Grécia a partir de julho?
Atribuições
de culpa em artigos de jornais e chamadas telefônicas simultâneas com outros
chefes de governo, que por outro lado pertencem aos "conspiradores
neoliberais", não servem à causa. A Grécia merece algo melhor. Tsipras
precisa finalmente agir em vez de falar. Se ele não conseguir, novas eleições
são a melhor solução.
Bernd
Riegert – Deutsche Welle, opinião
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