O
economista moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco defendeu hoje a diversificação
da base económica de Moçambique, considerando que o modelo atual centra-se na
"especulação de expetativas" sobre o setor energético, nomeadamente o
gás natural recentemente descoberto no país.
"Nós
precisamos mudar a nossa maneira de pensar à volta da economia e daquilo que
são as nossas vantagens e desvantagens. Nós concentramo-nos muito a falar de
recursos e dizemos que somos ricos porque temos gás e carvão, mas eu acho esse
não é o ponto e, pelo contrário, a nossa economia é rica em problemas",
disse à Lusa Carlos Nuno Castel-Branco, à margem da Conferência da Sociedade
Civil sobre o Setor Extrativo em Moçambique, que terminou hoje em Maputo.
Para
o académico, também diretor de Investigação do Instituto de Estudos Sociais e
Económicos, em
qualquer Estado , o motor da economia são os problemas, que
variam consoante o contexto específico de cada realidade social.
"Dentro
de Moçambique há problemas diferentes, colocados por diferentes grupos sociais
em função do seu posicionamento relativamente aos processos de produção e
apropriação de excedentes na economia. Essa sim é a nossa riqueza
económica", declarou académico moçambicano.
De
acordo com os dados apresentados pelo pesquisador, 75% da taxa do crescimento
do Produto Interno Moçambicano (PIB) é desenvolvido à volta do núcleo do setor
extrativo e 95% das exportações vêm também da mesma área, que emprega pouco
mais de 40 mil pessoas.
"É
óbvio que esta não é uma base de luta contra a pobreza como se diz, pelo
contrário, essa base não emprega e nem cria nível de vida crescente para o
grosso da população", afirmou Carlos Nuno Castel-Branco, considerando que
Moçambique vive uma fase de acumulação primitiva de capital, liderada pelos
capitalistas "domésticos", elites políticas internas que vivem na
base do capital externo.
"Este
capital desenvolve-se com dependência de fluxos de capitais externos e acesso
barato a recursos naturais por via da expropriação do Estado", afirmou o
académico, que alerta para a crescente privatização dos serviços públicos no
país.
Para
Carlos Nuno Castel-Branco, o Governo precisa definir prioridades sociais para
uso do dinheiro público a partir de uma análise das necessidades imediatas do
povo moçambicano, destacando, a título de exemplo, o atual problema de
transporte.
"De
ponto de vista imobiliário, os grandes projetos são importantes, mas eles não
resolvem o problema do transporte, da qualidade da educação, do acesso ao
emprego e nem da saúde", adiantou o pesquisador moçambicano.
Com
advento da indústria extrativa em Moçambique, um novo debate surgiu, relativo à
necessidade de formação de quadros para responderem à demanda do setor
extrativo, o que levou instituições de ensino moçambicanas a introduzirem novos
cursos da área dos recursos minerais e que são atualmente muito concorridos
pelos estudantes devido a possíveis oportunidades de emprego.
"Atenção,
quando nós focamos a educação em torno de áreas extremamente afuniladas da
economia, como estas, reproduzimos este afunilamento a longo prazo",
alertou, assinalando a necessidade de se diversificar a formação, como forma de
abrir novas alternativas económicas no futuro.
Por
seu turno, o também economista moçambicano João Mosca, durante a sua
intervenção, voltou ao discurso que vem defendendo sobre a necessidade de
reformulação das estratégias macroeconómicas, considerando que o modelo
económico do país atualmente beneficia apenas elites moçambicanas e as
multinacionais.
"
O problema é que, no fundo, o modelo económico que nós temos persiste, o Estado
moçambicano dá terra barata e benefícios fiscais exagerados aos investidores, e
os moçambicanos dão mão-de-obra barata", lamentou João Mosca.
Cético
quanto à rentabilidade dos recursos minerais, João Mosca entende que o país
devia valorizar o setor agrário, reformulando as suas políticas e adotando
estratégias macroeconómicas que beneficiem a agricultura, principalmente nas
zonas rurais.
"Nós
temos de atacar as raízes do problema e o problema está no modelo que
adotamos", afirmou o professor da Universidade A Politécnica de
Moçambique, exortando para a participação de toda sociedade civil nos processos
de monitorização da atuação do Governo e das multinacionais no país.
Sob
o lema "Por uma Governação Participativa, Transparente e Responsável dos
Recursos Mineiras, a conferência de dois dias em Maputo juntou várias
organizações moçambicanas e internacionais, académicos, empresários e
estudantes.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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