OS
POLÍTICOS QUEREM BAIXAR O PODER ÀS RUAS DE BISSAU?
No
fecho desta edição, fontes bem colocadas falam da remodelação governamental
proximamente. Não se pode descartar essa hipótese tendo em conta que os rumores
são quase «institucionalizados» no país, e, também, porque na maioria das vezes
correspondem à verdade. Além disso, a ser verdade, o mínimo que se pode dizer é
“até que enfim”.
Todavia
a ser verdade a primeira conclusão que se chega é que as partes desavindas
podem já estar afinadas pelo mesmo diapasão depois das várias mediações feitas
por personalidades nacionais e estrangeiras. A proposta de remodelação
governamental terá sido apreciada e discutida “amigável e respeitosamente”
antes de se chegar a qualquer conclusão.
Se,
de facto, prevaleceu o bom senso em nome dos interesses superiores da Pátria,
todos saem a ganhar porquanto a defesa e promoção da paz e estabilidade é
tarefa de toda a sociedade. Que desta feita a responsabilidade da composição do
elenco governamental seja partilhada pelas partes... No final da história não
carece haver vencedor e vencido...
O
Primeiro-Ministro pediu Moção de Confiança à Assembleia Nacional Popular duas
vezes em menos de um ano. Em ambos os casos obteve o voto maioritário dos
Deputados presentes na sessão. Quer
dizer, que tem o suporte necessário e bastante para continuar à testa do
Governo.
A
iniciativa de Domingos Simões Pereira não foi tomada de ânimo leve, pelo
contrário, terá sido fruto de um cálculo com conta peso e medida. Ao solicitar
a ANP a aprovação de um voto de confiança ao Governo, Domingos Simões Pereira
sabia de ciência certa que ia sair reforçado politicamente, pois a seu favor
conta a coesão e solidariedade da maioria parlamentar que sustenta o seu
Governo – PAIGC e PRS. Isso, depois de ter saído também reforçado da reunião do
Comité Central onde não só pôs «KO» os seus adversários mas também, foram
enviados recados assaz apimentados à Presidência da República para os fins
convenientes.
Contudo,
já não é segredo. A crispação política despoletada há meses está no auge. O
Presidente da República e o Primeiro-Ministro estão de costas viradas e, numa
determinada ocasião o presidente da ANP viu-se envolvido. A coabitação pacífica
cuja prática tem sido defendida por muitos, e para a qual foram chamadas as
partes reiteradas vezes a escolherem como opção, não foi conseguida. Os rumores
e as intrigas ganham toada pelo país fora com todas as consequências a
inerentes.
Na
situação em que o país se encontra, ninguém é indiferente ao que se passa. Se
se tiver em conta os resultados eleitorais expressivos de 2014, afirmar que os
cidadãos não votaram para em menos de um ano viverem situação de crise
institucional não será descabido. Não terá sido por acaso, que não houve grande
dispersão de votos; nem terá sido por acaso, que os partidos da oposição, como
que unanimemente, deixam andar o país ao “ritmo democrático” do vencedor das
eleições gerais; nem sequer é por acaso que, contrariamente ao que se viu no
passado recente, os militares não se têm manifestado nem esboçado qualquer
gesto que possa ser interpretado como ingerência ou interferência em actos de
governação. O choque é entre civis, entre políticos do mesmo Partido, eleitos
para incrementar um projecto, um programa de governação cuja execução deve
resultar em mudanças substanciais que conduzam o país rumo à paz,
tranquilidade, progresso e desenvolvimento.
Independentemente
da filiação partidária ou simpatia político-partidária, com o fim da transição
subsequente ao golpe de estado de 12 de Abril de 2012, a preocupação de todos é
a preservação da paz e a estabilidade social e política na Guiné-Bissau. Todos
consideram esse desiderato o bem maior porquanto dele depende as gerações
actuais, o futuro do país e das gerações vindouras.
“Como
eu disse, várias vezes, estamos a tratar de vários assuntos, que são sensíveis
e são difíceis. Muitas vezes, a nossa posição não tem sido coincidente com a de
sua Excelência, o Presidente da República”, esta afirmação do Primeiro-Ministro
não encerra nada que vá contra os princípios democráticos aceites
universalmente. É normal que em qualquer processo haja opiniões disjuntas
relativamente a quaisquer ideias, projectos ou forma de conduzir qualquer
processo. Isso é pacífico. O que não se compreende, em primeiro lugar, é a
oclusão do acesso aos problemas reais que opõem o Primeiro-Ministro ao
Presidente da República. Mais: não se entende, também, o porquê da insistência
de parte a parte de que não há crise. É certo que durante os meses que
transcorreram o Presidente da República tem sido parco em palavras e as suas
observações têm sido inseridas em discursos circunstanciais.
Entretanto,
os conselheiros é que têm estado a dar palpites, a fazerem observações
alegadamente “em nome pessoal” mas com a clara intenção de manifestar
“solidariedade ao chefe”, a sua posição, o seu entendimento, e a forma como se
identifica no âmbito da crise. É óbvio que, nesta altura do campeonato, seria
descabido que elemento qualquer das partes não defendesse as cores da camisola
que o sustenta.
O
Presidente JOMAV vai demitir o Governo ou não? O Primeiro-Ministro Domingos
Simões Pereira vai propor uma remodelação governamental ou não? Em que ponto
está a desavença entre JOMAV e DSP? Porque é que as duas personagens não se
entendem? Será por falta de experiência política?
Estas
são das questões que atualmente estão no centro dos debates públicos na
Guiné-Bissau e em todas as partes onde existem comunidades guineenses. Por
sinal, uma parte pretende e faz tudo para implicar a comunidade internacional
na resolução da crise despoletada, cujo desfecho se desconhece em absoluto,
enquanto a outra parte quiçá serena e impávida, aguarda que caia a derradeira
gota d’água que vai extravasar o copo.
Os
sinais que apontamos desde Janeiro de 2015 como sendo reflexos do desaguisado
entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, hoje são por demais
evidentes ao ponto de não deixarem qualquer dúvida sobre o que se seguirá nos
próximos tempos no cenário político nacional.
Já
não é mistério para ninguém que as duas figuras não se entendem não obstante a
parte mais loquaz estar, insistentemente, a dizer, sempre que ocasião se
oferece para tal, que a crispação vigente não se deve a questões pessoais… Quer
dizer, o problema vem de outras origens que o grande público ainda desconhece.
Mas, quais? Quem ganhará com isso?
As
manobras que estão a ser feitas à volta do chamado, desprendidamente, “Governo
de inclusão”, dá azo a vária leituras. Mas, sobretudo, provoca indignação por
se tratar de manobras que, por não serem mais que pura propaganda, certamente,
não levarão a qualquer lado de bom porque em certos casos atentam contra o bom
nome de determinadas personalidades.
Estão
em curso exercícios de autêntica manipulação dos cidadãos, através de acções
diversas com o objectivo claro de, em vez de procurar entendimento, mostrar as
partes negativas, demonstrar que não ajuda o país numa altura em que, tendo em
conta o sucesso da mesa redonda de Bruxelas, todas os cenários apontam que
melhorias podem não tardar a chegar.
Para
não incorrer em exagero, vamos simplesmente dizer que poucas vezes se viveu na
Guiné-Bissau dias como os que correm, dias de relativa paz e tranquilidade. Há
muito tempo, para não dizer nunca, se viu os militares tão ausentes do
exercício do poder, afastados dos políticos e dos partidos políticos...
Efectivamente,
o PAIGC, “PRS e companhia” têm condições de governar e de implementar o
projecto polítco que conseguiu convencer o eleitorado a votar como votou.
Contudo,
observadores atentos consideram que a inexperiência política dos titulares dos
principais cargos é a responsável pela situação que se vive.
Nada
justifica o recurso ao Irã ou outros meios sobrenaturais para resolver
diferenças de pontos de vista. Defendemos que deve haver respeito mútuo para
que possa haver diálogo construtivo para se chegar ao entendimento sobre as
grandes questões da vida nacional.
No
passado não muito distante, vimos o governo de Carlos Gomes Júnior ser demitido
escassas horas depois da ANP ter aprovado uma expressiva moção de confiança.
Portanto, a altura não é adequada ao uso de pressões que podem levar a adopção
de medidas contraproducentes aos interesses nacionais. O importante, de
facto, é encontrar meios e formas de entendimento para superar as eventuais
clivagens e a crispação política. E, não deixar o PODER desvirtuar-se e cair no
descrédito.
HAJA BOM SENSO!
Ibrahim
Haidara (Humberto Monteiro) – Gazeta de Notícias (gb)
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