terça-feira, 7 de julho de 2015

MILITARES DA GUINÉ-BISSAU NÃO SÃO TIDOS NEM ACHADOS NA CRISE PR GOVERNO




OS POLÍTICOS QUEREM BAIXAR O PODER ÀS RUAS DE BISSAU?

No fecho desta edição, fontes bem colocadas falam da remodelação governamental proximamente.  Não se pode descartar essa hipótese tendo em conta que os rumores são quase «institucionalizados» no país, e, também, porque na maioria das vezes correspondem à verdade. Além disso, a ser verdade, o mínimo que se pode dizer é “até que enfim”. 

Todavia a ser verdade a primeira conclusão que se chega é que as partes desavindas podem já estar afinadas pelo mesmo diapasão depois das várias mediações feitas por personalidades nacionais e estrangeiras. A proposta de remodelação governamental terá sido apreciada e discutida “amigável e respeitosamente” antes de se chegar a qualquer conclusão.

Se, de facto, prevaleceu o bom senso em nome dos interesses superiores da Pátria, todos saem a ganhar porquanto a defesa e promoção da paz e estabilidade é tarefa de toda a sociedade. Que desta feita a responsabilidade da composição do elenco governamental seja partilhada pelas partes... No final da história não carece haver vencedor e vencido...

O Primeiro-Ministro pediu Moção de Confiança à Assembleia Nacional Popular duas vezes em menos de um ano. Em ambos os casos obteve o voto maioritário dos Deputados presentes na sessão.Quer dizer, que tem o suporte necessário e bastante para continuar à testa do Governo. 

A iniciativa de Domingos Simões Pereira não foi tomada de ânimo leve,  pelo contrário, terá sido fruto de um cálculo com conta peso e medida. Ao solicitar a ANP a aprovação de um voto de confiança ao Governo, Domingos Simões Pereira sabia de ciência certa que ia sair reforçado politicamente, pois a seu favor conta a coesão e solidariedade da maioria parlamentar que sustenta o seu Governo – PAIGC e PRS. Isso, depois de ter saído também reforçado da reunião do Comité Central onde não só pôs «KO» os seus adversários mas também, foram enviados recados assaz apimentados à Presidência da República para os fins convenientes.

Contudo, já não é segredo. A crispação política despoletada há meses está no auge. O Presidente da República e o Primeiro-Ministro estão de costas viradas e, numa determinada ocasião o presidente da ANP viu-se envolvido. A coabitação pacífica cuja prática tem sido defendida por muitos, e para a qual foram chamadas as partes reiteradas vezes a escolherem como opção, não foi conseguida. Os rumores e as intrigas ganham toada pelo país fora com todas as consequências a inerentes.

Na situação em que o país se encontra, ninguém é indiferente ao que se passa. Se se tiver em conta os resultados eleitorais expressivos de 2014, afirmar que os cidadãos não votaram para em menos de um ano viverem situação de crise institucional não será descabido. Não terá sido por acaso, que não houve grande dispersão de votos; nem terá sido por acaso, que os partidos da oposição, como que unanimemente, deixam andar o país ao “ritmo democrático” do vencedor das eleições gerais; nem sequer é por acaso que, contrariamente ao que se viu no passado recente, os militares não se têm manifestado nem esboçado qualquer gesto que possa ser interpretado como ingerência ou interferência em actos de governação. O choque é entre civis, entre políticos do mesmo Partido, eleitos para incrementar um projecto, um programa de governação cuja execução deve resultar em mudanças substanciais que conduzam o país rumo à paz, tranquilidade, progresso e desenvolvimento.  

Independentemente da filiação partidária ou simpatia político-partidária, com o fim da transição subsequente ao golpe de estado de 12 de Abril de 2012, a preocupação de todos é a preservação da paz e a estabilidade social e política na Guiné-Bissau. Todos consideram esse desiderato o bem maior porquanto dele depende as gerações actuais, o futuro do país e das gerações vindouras.

“Como eu disse, várias vezes, estamos a tratar de vários assuntos, que são sensíveis e são difíceis. Muitas vezes, a nossa posição não tem sido coincidente com a de sua Excelência, o Presidente da República”, esta afirmação do Primeiro-Ministro não encerra nada que vá contra os princípios democráticos aceites universalmente. É normal que em qualquer processo haja opiniões disjuntas relativamente a quaisquer ideias, projectos ou forma de conduzir qualquer processo. Isso é pacífico. O que não se compreende, em primeiro lugar, é a oclusão do acesso aos problemas reais que opõem o Primeiro-Ministro ao Presidente da República. Mais: não se entende, também, o porquê da insistência de parte a parte de que não há crise. É certo que durante os meses que transcorreram o Presidente da República tem sido parco em palavras e as suas observações têm sido inseridas em discursos circunstanciais.

Entretanto, os conselheiros é que têm estado a dar palpites, a fazerem observações alegadamente “em nome pessoal” mas com a clara intenção de manifestar “solidariedade ao chefe”, a sua posição, o seu entendimento, e a forma como se identifica no âmbito da crise. É óbvio que, nesta altura do campeonato, seria descabido que elemento qualquer das partes não defendesse as cores da camisola que o sustenta.

O Presidente JOMAV vai demitir o Governo ou não? O Primeiro-Ministro Domingos Simões Pereira vai propor uma remodelação governamental ou não? Em que ponto está a desavença entre JOMAV e DSP? Porque é que as duas personagens não se entendem? Será por falta de experiência política?

Estas são das questões  que atualmente estão no centro dos debates públicos na Guiné-Bissau e em todas as partes onde existem comunidades guineenses. Por sinal, uma parte pretende e faz tudo para implicar a comunidade internacional na resolução da crise despoletada, cujo desfecho se desconhece em absoluto, enquanto a outra parte quiçá serena e impávida, aguarda que caia a derradeira gota d’água que vai extravasar o copo.
Os sinais que apontamos desde Janeiro de 2015 como sendo reflexos do desaguisado entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, hoje são por demais evidentes ao ponto de não deixarem qualquer dúvida sobre o que se seguirá nos próximos tempos no cenário político nacional.

Já não é mistério para ninguém que as duas figuras não se entendem não obstante a parte mais loquaz estar, insistentemente, a dizer, sempre que ocasião se oferece para tal, que a crispação vigente não se deve a questões pessoais… Quer dizer, o problema vem de outras origens que o grande público ainda desconhece. Mas, quais? Quem ganhará com isso?

As manobras que estão a ser feitas à volta do chamado, desprendidamente, “Governo de inclusão”, dá azo a vária leituras. Mas, sobretudo, provoca indignação por se tratar de manobras que, por não serem mais que pura propaganda, certamente, não levarão a qualquer lado de bom porque em certos casos atentam contra o bom nome de determinadas personalidades.  

Estão em curso exercícios de autêntica manipulação dos cidadãos, através de acções diversas com o objectivo claro de, em vez de procurar entendimento, mostrar as partes negativas, demonstrar que não ajuda o país numa altura em que, tendo em conta o sucesso da mesa redonda de Bruxelas, todas os cenários apontam que melhorias podem não tardar a chegar.

Para não incorrer em exagero, vamos simplesmente dizer que poucas vezes se viveu na Guiné-Bissau dias como os que correm, dias de relativa paz e tranquilidade. Há muito tempo, para não dizer nunca, se viu os militares tão ausentes do exercício do poder, afastados dos políticos e dos partidos políticos...

Efectivamente, o PAIGC, “PRS e companhia” têm condições de governar e de implementar o projecto polítco que conseguiu convencer o eleitorado a votar como votou.

Contudo, observadores atentos consideram que a inexperiência política dos titulares dos principais cargos é a responsável pela situação que se vive. 

Nada justifica o recurso ao Irã ou outros meios sobrenaturais para resolver diferenças de pontos de vista. Defendemos que deve haver respeito mútuo para que possa haver diálogo construtivo para se chegar ao entendimento sobre as grandes questões da vida nacional. 

No passado não muito distante, vimos o governo de Carlos Gomes Júnior ser demitido escassas horas depois da ANP ter aprovado uma expressiva moção de confiança. Portanto, a altura não é adequada ao uso de pressões que podem levar a adopção de medidas contraproducentes aos interesses nacionais.  O importante, de facto, é encontrar meios e formas de entendimento para superar as eventuais clivagens e a crispação política. E, não deixar o PODER desvirtuar-se e cair no descrédito. 

HAJABOM SENSO!

Ibrahim Haidara (Humberto Monteiro) – Gazeta de Notícias (gb)

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