terça-feira, 4 de agosto de 2015

ATIVISTA ANGOLANO DENUNCIA RAPTO DO FILHO E PERSEGUIÇÕES




O advogado de Cabinda Arão Bula Tempo acredita que o rapto do filho, entretanto libertado, é um sinal claro de que as autoridades pretendem investir contra a sua família. "Vivo em insegurança total", conta à DW África.

Segundo o ativista dos direitos humanos e presidente do Conselho Provincial de Cabinda da Ordem dos Advogados, Arão Bula Tempo, o rapto de um dos seus filhos, durante algumas horas, ocorreu na última sexta-feira (31.08), por volta do meio-dia, quando saía da escola. Foi levado por cinco indivíduos desconhecidos, que o advogado supõe pertencerem ao Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), e que se faziam transportar numa viatura Iluxus.

"Não chegaram a agredi-lo", relata o advogado. "O meu filho contou-me que lhes pediu perdão e que não lhe fizessem mal. Isso chocou-me bastante". Segundo Arão Tempo, os raptores só decidiram soltar o seu filho porque um deles teria receio de que alguém tivesse apontado a matrícula da viatura em que seguiam.

O ativista não tem dúvidas de que o rapto do seu filho é um sinal claro de que as autoridades pretendem agora investir contra a sua família. "Não se pode entender que, mesmo estando a aguardar pelo processo que está a correr, há indivíduos que estão proibidos de se aproximar de mim e que vêm meter conversa comigo e vão mesmo a minha casa para tentar controlar a minha vida, espiar e até saber da minha família."

O conhecido advogado e defensor dos direitos humanos em Cabinda foi detido a 14 de março e esteve detido durante dois meses, sob a acusação de crimes contra a segurança do Estado, aparentemente por estar ligado à realização de uma manifestação anti-governamental que nem sequer chegou a ser realizada.

Discriminação e insegurança

O ativista encontra-se atualmente em liberdade condicional, mas as autoridades proibiram-no de se ausentar da província. Queixa-se ainda de outras perseguições por parte do regime de Luanda. "Sofro de discriminação e vivo em insegurança total, até com a minha própria família. Por vezes tenho insónias e não consigo dormir".

Arão Bula Tempo lamenta, no entanto, a "pouca solidariedade" da Ordem dos Advogados de Angola, que até ao momento continua sem se pronunciar sobre a perseguição política de que um dos seus membros tem sofrido por parte das autoridades. "A Ordem devia ser mais ativa", defende o advogado, lembrando que se trata de um organismo "que vela pela defesa, justiça, liberdade, direitos e garantias do cidadão".

Arão Bula Tempo já apresentou uma queixa sobre o sucedido junto das autoridades policiais. No entanto, contactado pela DW África, a Direção Provincial de Cabinda dos Serviços de Investigação Criminal recusou-se a prestar quaisquer declarações sobre o sucedido alegando "razões deontológicas".

Nelson Sul D'Angola (Luanda) – Deutsche Welle

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