O
advogado de Cabinda Arão Bula Tempo acredita que o rapto do filho, entretanto
libertado, é um sinal claro de que as autoridades pretendem investir contra a
sua família. "Vivo em insegurança total", conta à DW África.
Segundo
o ativista dos direitos humanos e presidente do Conselho Provincial de Cabinda
da Ordem dos Advogados, Arão Bula Tempo, o rapto de um dos seus filhos, durante
algumas horas, ocorreu na última sexta-feira (31.08), por volta do meio-dia,
quando saía da escola. Foi levado por cinco indivíduos desconhecidos, que o
advogado supõe pertencerem ao Serviço de Inteligência e Segurança do Estado
(SINSE), e que se faziam transportar numa viatura Iluxus.
"Não
chegaram a agredi-lo", relata o advogado. "O meu filho contou-me que
lhes pediu perdão e que não lhe fizessem mal. Isso chocou-me bastante".
Segundo Arão Tempo, os raptores só decidiram soltar o seu filho porque um deles
teria receio de que alguém tivesse apontado a matrícula da viatura em que
seguiam.
O
ativista não tem dúvidas de que o rapto do seu filho é um sinal claro de que as
autoridades pretendem agora investir contra a sua família. "Não se pode
entender que, mesmo estando a aguardar pelo processo que está a correr, há
indivíduos que estão proibidos de se aproximar de mim e que vêm meter conversa
comigo e vão mesmo a minha casa para tentar controlar a minha vida, espiar e
até saber da minha família."
O
conhecido advogado e defensor dos direitos humanos em Cabinda foi detido a 14
de março e esteve detido durante dois meses, sob a acusação de crimes contra a
segurança do Estado, aparentemente por estar ligado à realização de uma
manifestação anti-governamental que nem sequer chegou a ser realizada.
Discriminação
e insegurança
O
ativista encontra-se atualmente em liberdade condicional, mas as autoridades
proibiram-no de se ausentar da província. Queixa-se ainda de outras
perseguições por parte do regime de Luanda. "Sofro de discriminação e vivo
em insegurança total, até com a minha própria família. Por vezes tenho insónias
e não consigo dormir".
Arão
Bula Tempo lamenta, no entanto, a "pouca solidariedade" da Ordem dos
Advogados de Angola, que até ao momento continua sem se pronunciar sobre a
perseguição política de que um dos seus membros tem sofrido por parte das
autoridades. "A Ordem devia ser mais ativa", defende o advogado,
lembrando que se trata de um organismo "que vela pela defesa, justiça,
liberdade, direitos e garantias do cidadão".
Arão
Bula Tempo já apresentou uma queixa sobre o sucedido junto das autoridades
policiais. No entanto, contactado pela DW África, a Direção Provincial de
Cabinda dos Serviços de Investigação Criminal recusou-se a prestar quaisquer
declarações sobre o sucedido alegando "razões deontológicas".
Nelson
Sul D'Angola (Luanda) – Deutsche Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário