Santos/SP –
A Delegacia de Santos da Polícia Federal já começou a intimar estudantes da
Universidade Federal do Estado de S. Paulo (UNIFESP) para prestar
esclarecimentos no Inquérito aberto para apurar “depredação do patrimônio
público, desacato a autoridade, injúria e difamação” por causa de pichações que
apareceram nas paredes do campus em que a direção é acusada de racismo.
O
Inquérito é o resultado da posição da diretora Regina Célia Spadari em
represália à pichação da frase “direção racista”, encontrada nas paredes da
Universidade. A pichação ocorreu em novembro passado, logo após a diretora
expulsar duas estudantes negras de uma sala onde ocorria a II Semana da
Consciência Negra, realizada no campus Silva Jardim.
Além
de entregar o caso a PF, acusando depredação do patrimônio público, a diretora
abriu processo administrativo, que está em andamento.
Os
primeiros depoimentos a PF estão marcados para o dia 25 deste mês às 10h e 10h30,
quando serão ouvidos, respectivamente, os estudantes Damiso Ajamu da Silva
Silva Faustino e Maria Clara Pereira Soares. Outros alunos deverão ser ouvidos
“a fim de prestar esclarecimentos no interesse da Justiça”.
Segundo
ativistas e professores da UNIFESP, que acompanham o caso e que falaram para a Afropress sob
a condição de anonimato, “ao colocar a Polícia Federal para investigar
estudantes por conta de um problema menor [pichação de paredes], a direção
demonstra incapacidade para o diálogo, incompreensão sobre o papel da
Universidade que dirige e faz lembrar os piores tempos da ditadura militar”.
Lembrando
o caso
De
acordo com o relato dos estudantes, Spadari, que estava acompanhada de
seguranças, primeiro exigiu a exibição, “de forma abrupta e ofensiva”, dos
crachás de identificação apenas de duas alunas negras – Tatiane de Souza Santos
e Juliana Florentino Carvalho - ignorando outras pessoas presentes. Depois as
expulsou da sala.
Nesta
segunda-feira (03/08), às 19h30, na sala 210 da UNIFESP (Rua Silva Jardim,
136), os estudantes se reúnem para discutir como se defenderão no Inquérito da
PF.
Eles
negam ter pichado a frase “direção racista”, porém, dizem que a diretora, desde
o início, se negou ao diálogo sobre o real papel da universidade e assumiu uma
postura autoritária e de criminalização do alunos, fazendo acusações vagas.
Boletim
de Ocorrência
Na
época, as duas estudantes expulsas também também registraram Boletim de
Ocorrência no 4º DP de Santos pela prática do crime de injúria racial previsto
no parágrafo 3º do art. 140 do Código Penal. O Inquérito, porém, está parado e
ninguém foi ouvido.
Segundo
os estudantes, a atitude da diretora reproduz estereótipos racistas que veem o
negro como suspeito-padrão e, ao instaurar o processo administrativo e levar o
caso a Polícia Federal, Spadari tenta desviar a atenção da sua própria
atitude agressiva e pautada por estereótipos racistas. "A pichação
foi consequência e não causa, como pretende fazer crer a diretora",
afirmam.
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