O
Democrata (gb), editorial
É
lamentável e insuportável constatar que a Guiné-Bissau, apesar de grande
facilidade de interação no seu rico e diverso mosaico cultural, continua a ser
um país muito dividido. Os políticos são os protagonistas desta divisão que
afeta, cada dia, a sociedade no seu todo. A atual crise, inicialmente de
natureza pessoal, entre o Presidente da República e o Primeiro-Ministro, acabou
por ganhar contornos políticos que não poupam os simples cidadãos. Aliás, já é
uma crise vivida por por todos os guineenses. Nos bairros, nos locais de
serviço, nos transportes coletivos, assiste-se a discussões acesas em torno da
crise vigente. Essas discussões em vez de contribuir para o reforço da
consciência cidadã e consequentemente da massa crítica nacional, só coloca o
nosso querido país no quintal de divisão.
A
consequência direta da divisão provocada pelos impreparados políticos é a
vulnerabilidade do Estado e da sociedade. Um ditado guineense é ilustrativo na
matéria:“moransa ku tchiu djus, futiseru ta entra la”. Os guineenses devem
aprender que são poucos para serem constantemente divididos. Os cidadãos devem
começar a pensar por si mesmos e recusar as “injeções” de políticos habituados
a felicidade na desgraça coletiva.
Após
quatro décadas de uma experiência independentista, duas de experimentação
democrática, já é o tempo de questionar a nossa forma de participar no espaço
público e na gestão da coisa pública. É o momento de questionarmos o nosso
olhar para com o outro, a nossa maneira de ver os nossos adversários. Já é
momento de interrogarmo-nos sobre a nossa responsabilidade nas cíclicas crises
e consequentemente no imperdoável atraso do país.
Sem
um exame profundo de consciência, será muito difícil, quase impossível, ao
nosso ver, edificarmos uma nação próspera alicerçada na unidade e na força de
um olhar comum. Pois, uma nação é produto de visão coletiva projetada no
horizonte de um destino partilhado. A Guiné-Bissau, como país não poderá ser
forte e unida sem a união de todos os seus filhos! Na divisão, nas querelas
estéreis e inúteis, a Guiné-Bissau estará sempre na cauda da fileira de nações
candidatas ao progresso.
É
preciso que o cidadão guineense, a começar pelo político, compreenda que a
divergência, o desentendimento fazem parte da vida coletiva de homens e
mulheres. Sempre existirá conflito enquanto existir a sociedade. Por isso, o
que importa não é necessariamente o conflito em si, mas sim capacidade e
disponibilidade a encontrar soluções.
É
inegável que as diferentes crises vividas neste país tenham sido provocadas em
parte pelo sistema político vigente. Mas é preciso ter a coragem de reconhecer
que a forma de estar do próprio homem guineense é um fator principal de crises.
O egocentrismo, a arrogância e o machismo foram e são vícios que fizeram do
guineense um autêntico refém de conflitualidade, um “menino” face ao desafio de
aceitação doutro enquanto compatriota com quem é condenado a partilhar o mesmo
espaço geográfico, independentemente das suas diferenças.
Para
inverter a lógica, o homem guineense, sobretudo o político, deve apreender a
ser humilde e desenvolver a cultura de dizer a verdade. Em suma, a verdadeira
transição de que necessita este país não é a transição política ou geracional,
mas sim a transição de mentalidade de arrogância, divisão e conflitualidade
para uma mentalidade de humildade, verdade, complementaridade e tolerância.
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