Paulo
Baldaia – Diário de Notícias, opinião
Ameaçam
governar-nos sem nos dizer patavina do que realmente interessa. Os senhores do
PaF dizem-nos que é preciso poupar 600 milhões na Segurança Social e os do PS
255 milhões por ano.
Dizem-nos isto e acham que não é preciso explicar mais
nada. Não tenho dificuldade nenhuma em pôr-me de acordo com eles sobre a
necessidade de cortar despesa, para um dia destes começarem a baixar a carga
fiscal, mas já agora preciso que me digam onde vão cortar para eu poder fazer
uma opção. E digam-me com números, 35 aqui, 27 acolá... São bons a fazer contas
e a defender o rigor, mas não se querem chatear com "miudezas". É na
Segurança Social, com as reformas e pensões à cabeça, mas também na política de
emprego, que se joga o futuro próximo do país, mas a campanha prossegue como se
fosse natural haver uma espécie de programa escondido. Na expressão feliz do
Paulo Ferreira, no Observador, "esta é uma eleição entre o cheque em
branco que a coligação pede e o cheque de cobertura duvidosa do PS".
Feitos
os dois frente-a-frente entre Passos Coelho e António Costa pode dizer-se que
Passos ganhou o segundo e Costa o primeiro. Estas vitórias são mais para
consumo interno, para dar combustível (ânimo) às máquinas partidárias do que
para convencer eleitores. Mas as derrotas deixam marcas no eleitorado, porque
elas resultam de uma demonstração de fragilidades. Quem perdeu, perdeu porque
ficou com a batata quente nas mãos. Passos com o programa VEM que "vale
zero", Costa com a poupança dos mil milhões que "ninguém sabe de onde
vem". O caso de cada um dos debates, mais do que determinar um vencedor,
determinou um derrotado.
Como
se não chegasse existirem coisas nos programas para as quais se exigem mais e
melhores explicações, quem nos vai governar nem sequer nos dá o direito de
conhecer as suas preferências para o casamento que se vai seguir. Porque só se
governa com apoio maioritário e isso ninguém vai conseguir sozinho. A senhora
eleitora e o senhor eleitor já perceberam como é que eles nos vão governar?
Eles também não! É para onde o vento os levar.
Há
muito tempo que os portugueses já não escolhem quem querem no governo, decidem
quem não querem. A bipolarização que, involuntariamente, a comunicação social
ajuda a perpetuar começa a tornar-se artificial. A velha confusão do interesse público
com o interesse do público leva-nos a estas coisas. Os debates que importa
fazer são entre quem pode ganhar as eleições, porque são esses que as pessoas
querem ver e, assim, eles vão de novo para o poder e, da próxima, o debate que
importa fazer é outra vez com eles, porque são eles que dão audiências... É o
público quem mais ordena e o povo quem paga a fava.
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