domingo, 20 de setembro de 2015

Portugal. DIA 4 ANDA À RODA



Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

Ameaçam governar-nos sem nos dizer patavina do que realmente interessa. Os senhores do PaF dizem-nos que é preciso poupar 600 milhões na Segurança Social e os do PS 255 milhões por ano. 
Dizem-nos isto e acham que não é preciso explicar mais nada. Não tenho dificuldade nenhuma em pôr-me de acordo com eles sobre a necessidade de cortar despesa, para um dia destes começarem a baixar a carga fiscal, mas já agora preciso que me digam onde vão cortar para eu poder fazer uma opção. E digam-me com números, 35 aqui, 27 acolá... São bons a fazer contas e a defender o rigor, mas não se querem chatear com "miudezas". É na Segurança Social, com as reformas e pensões à cabeça, mas também na política de emprego, que se joga o futuro próximo do país, mas a campanha prossegue como se fosse natural haver uma espécie de programa escondido. Na expressão feliz do Paulo Ferreira, no Observador, "esta é uma eleição entre o cheque em branco que a coligação pede e o cheque de cobertura duvidosa do PS".

Feitos os dois frente-a-frente entre Passos Coelho e António Costa pode dizer-se que Passos ganhou o segundo e Costa o primeiro. Estas vitórias são mais para consumo interno, para dar combustível (ânimo) às máquinas partidárias do que para convencer eleitores. Mas as derrotas deixam marcas no eleitorado, porque elas resultam de uma demonstração de fragilidades. Quem perdeu, perdeu porque ficou com a batata quente nas mãos. Passos com o programa VEM que "vale zero", Costa com a poupança dos mil milhões que "ninguém sabe de onde vem". O caso de cada um dos debates, mais do que determinar um vencedor, determinou um derrotado.

Como se não chegasse existirem coisas nos programas para as quais se exigem mais e melhores explicações, quem nos vai governar nem sequer nos dá o direito de conhecer as suas preferências para o casamento que se vai seguir. Porque só se governa com apoio maioritário e isso ninguém vai conseguir sozinho. A senhora eleitora e o senhor eleitor já perceberam como é que eles nos vão governar? Eles também não! É para onde o vento os levar.

Há muito tempo que os portugueses já não escolhem quem querem no governo, decidem quem não querem. A bipolarização que, involuntariamente, a comunicação social ajuda a perpetuar começa a tornar-se artificial. A velha confusão do interesse público com o interesse do público leva-nos a estas coisas. Os debates que importa fazer são entre quem pode ganhar as eleições, porque são esses que as pessoas querem ver e, assim, eles vão de novo para o poder e, da próxima, o debate que importa fazer é outra vez com eles, porque são eles que dão audiências... É o público quem mais ordena e o povo quem paga a fava.

Sem comentários:

Mais lidas da semana