Nenhum
partido político se fez representar oficialmente no acto em solidariedade com o
activista, em greve de fome há 18 dias.
Eram
18 horas quando os primeiros participantes chegaram junto da igreja da Sagrada
Família, em Luanda. O ambiente estava calmo. Nas horas seguintes o grupo
aumentou bastante (ao longo da vigília deve ter ultrapassado as 200 pessoas),
cada participante pegou numa vela, acendeu-a e a partir dali sobrou a
solidariedade e as palavras de ordem. Liberdade já – foi este o repto lançado
às autoridades judiciais do país. Luaty Beirão luta pela vida após 18 dias em
greve de fome.
O
grupo de cidadãos incluía familiares e amigos de Luaty Beirão e dos restantes
detidos, gente anónima, activistas dos direitos humanos, jornalistas e alguns
nomes ligados à política, como Nélson Pestana “Bonavena”, Alexandra Simeão ou
Justino Pinto de Andrade. Nenhum membro de algum partido político se fez
representar oficialmente. Nem mesmo os partidos da oposição se associaram à
vigília. Também não foram vistas outras figuras públicas.
Segundo
Pedro Beirão, irmão de Luaty, que se foi desdobrando e ouvindo as pessoas
presentes, a saúde do activista e rapper (também conhecido no meio
artístico por Ikonoclasta ou Brigadeiro Mata Frakuz) está a deteriorar-se e
“até beber água o faz sentir-se mal”.
A
reunião, que tinha sido originalmente marcada para o Largo 1.º de Maio, em
Luanda, foi à última hora transferida para a Sagrada Família. Às 17h45m já a
Polícia tinha encerrado os acessos à praça central do Largo 1.º de Maio. Vários
agentes fardados controlavam o acesso ao interior e ninguém circulava no
perímetro junto à estátua de Agostinho Neto.
Já
na Sagrada Família o cenário estava completamente livre. Normal. A igreja
funcionava na sua liturgia católica, por vezes estridente, por vezes alheia ao
que se passava cá fora, preocupada apenas com os seus pecados e com as suas
virtudes. Na vigília também se entoaram preces, rezas católicas e universais,
cantou-se o hino nacional e o poder popular. E gritou-se “Liberdade já e
agora”. E as velas levantaram-se e os presentes repetiram em uníssono na noite
escura. “Liberdade já e agora”.
Os
15+1 activistas estão detidos desde 20 de Junho, na sua maioria, enquanto Rosa
Conde e Laurinda Gouveia, entretanto constituídas arguidas no mesmo processo,
aguardam julgamento em liberdade. Nas últimas duas semanas, vários presos
assumiram o início de uma greve de fome, em protesto pelo excesso de prisão
preventiva (já passaram mais de 100 dias em cativeiro quando a lei apenas prevê
um máximo de 90 dias, sem acusação formada). Mas, neste momento, apenas Luaty
Beirão continua a manter a decisão de não aceitar quaisquer alimentos.
O
despacho de acusação (que o Rede Angola consultou) foi, entretanto,
enviado às partes interessadas. Mesmo que não cumpra os prazos previstos na
lei, o Ministério Público (MP) acusa os activistas de “actos preparatórios de
golpe de Estado”. Segundo a acusação, a reunião numa casa do bairro Vila Alice
(era a sexta vez que realizavam este tipo de encontros), em Luanda, tinha como
objectivo final a criação de um clima de instabilidade no país, rumo à
destituição de José Eduardo dos Santos.
As
provas apresentadas pelo MP cingem-se a uma suposta falsificação de documentos
por alguns dos detidos (Nito Alves e Luaty Beirão), ao livro do autor
norte-americano Gene Sharp com o título Da ditadura à democracia e a
uma suposta associação da obra aos eventos da Primavera Árabe. Os advogados e
familiares dos detidos continuam a afirmar que a suspeita não é motivo
suficiente para a privação da liberdade por mais de 100 dias. E afirmam que
todo o processo poderia ser instruído com os suspeitos em liberdade.
A vigília
mantinha-se com muitos participantes agrupados, com velas na mão, junto à
entrada principal da igreja da Sagrada Família, em Luanda, até depois das 22h.
Miguel
Gomes Rede Angola – Foto Ampe Rogério/RA
Leia
mais em Rede Angola
Sem comentários:
Enviar um comentário