A
semana começou com imagens de revolta a chegarem de Luanda. Multidões na rua,
fazendo fogueiras e gritando “MPLA – FORA”. Apresentadas como um protesto
contra o aumento dos combustíveis, estas manifestações vão muito além disso.
Para os “taxistas” das Hiaces os combustíveis são apenas um pretexto, a causa
próxima, já que em Angola se vivem tempos difíceis, com fome e carências de
todo o tipo.
Pneus
a arder na rua e gritos de “MPLA-FORA” significa um descontrolo muito grave.
Quer se queira ou não, o MPLA é a única força política que tem capacidade para
controlar uma revolta popular, que, a acontecer pode signficar um banho de
sangue sem dimensão.
E
tudo porque não há distribuição de riqueza – por pouco que seja.
O
economista Filomeno Vieira Lopes, no último “Quintas de Debate”, uma iniciativa
da Associação Omung, considerou que há uma excessiva retenção de fundos na
Sonangol, com o propósito de garantir o processo da acumulação primitiva de
capitais.
Ora,
segundo Vieira Lopes estes fundos deveriam estar ao serviço da maioria dos
angolanos. E não estão. Garantem a sobrevivência das elites, entretanto
constituídas durante a gestão do poder politico-militar em quarenta anos.
“A
grande intenção é garantir que os excedentes sirvam um processo para formar as
grandes elites, mas são recursos que deveriam estar a ser administrados directamente
para o bem de todos os angolanos”. Mas não são, diz Filomeno Vieira Lopes , que
acrescenta: as empresas públicas “servem os interesses destas elites, com obras
para casas de ministros, importação de viaturas e outros exemplos de acumulação
primitiva de capitais”.
Para
este economista, há uma maldição do petróleo porque “quando a Inglaterra ou a
Noruega descobrem petróleo, têm instituições estáveis”, ao contrário do que se
passa em Angola.
“Temos
sistemas que caminham para o enqiquecimento das elites, o que cria guerras e
assassinatos, o petróleo é do Presidente, há uma balbúrdia nacional”, acusa
Filomeno Lopes.
Chegados
aqui, podemos recordar um incidente que aconteceu durante o governo de
transição de Angola em que Portugal esteve representado pelo Prof. Vasco Vieira
de Almeida como ministro da economia.
Como
ministro das Finanças, pelo MPLA, Saydi Mingas. Ambos tentaram fazer o
orçamento de Angola, que geriria as finanças do território, cuja independência
seria proclamada brevemente.
Um
dos ministros da FNLA, o da Saúde, Samuel Abrigada, quis – conta Vasco Vieira
de Almeida em entrevista ao Jornalista do Expresso, José Pedro Castanheira – o
seu “bago”.
Mingas
pediu a Vieira de Almeida que explicasse como é que o sistema funcionava.
Samuel Abrigada não quis saber: assaltou o Banco de Angola e levou o “bago”
Durante
a realização de um conselho de ministro extraordinário convocado para resolver
a questão, Abrigada recusou devolver o dinheiro e recebeu de um dos presentes a
propostas de dividir o “bago” com todos os outros.
Este
foi o primeiro processo de acumulação primitiva de capitais. Como ainda não
dominavam as empresas, as armas eram uma boa maneira de ir buscar o dinheiro.
Agora,
as elites dominam toda a economia e já não precisam de levar armas para as
reuniões dos conselhos de ministros; é tudo feito através dos bancos, das leis,
dos despachos. Fica tudo entre amigos.
Os
outros, a maioria do povo angolano não têm direito a partilhar coisa nenhuma e
começam a perceber que há que lutar para que a riqueza seja distribuída e não
apenas acumulada.
Na
verdade não há nenhuma distribuição da riqueza. Ela está concentrada numa
elite, pequena mas muito poderosa, que controla as polícias e que, por consequência,
não deixa que manifestações como estas aconteçam.
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