Políticos
buscam votos de cidade em cidade. Institutos de pesquisa de opinião preveem
diferença pequena entre o atual governo conservador e a oposição socialista nas
legislativas deste domingo.
Com
bandeirolas coloridas, a juventude partidária espera impaciente na rotatória em
frente ao prédio do corpo de bombeiros; de um estridente alto-falante ouve-se
há mais de uma hora o jingle eleitoral em ritmo de discoteca: "Cada vez
mais somos mais!"
Quem
não tem coisa melhor para fazer se posiciona num canto de rua e espera pelo
primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Às 11h de um dia útil, não se vê um
número elevado de pessoas nas ruas do vilarejo de Arcos de Valdevez.
De
qualquer forma, dá para se perder na multidão. Principalmente depois que o
chefe da equipe de campanha local mandou a juventude partidária com as
bandeiras eleitorais subirem a rua até o mercado. O primeiro-ministro acaba de
chegar, no começo da rua, enquanto a festa organizada acontece a 500 metros de
distância.
Duas
semanas de agitação
Em
Portugal, a campanha eleitoral para as eleições legislativas, realizadas neste
domingo (04/10), é feita de duas semanas de agitação nos bares e nas ruas:
beijinhos para as crianças e senhoras idosas na multidão, bate-papo com
vendedoras de peixe no mercado e longos jantares regados a discursos com
correligionários e simpatizantes. Tudo amplamente acompanhado e relatado pela
mídia. Para os políticos, o que importa é, antes de tudo, fazer uma boa imagem.
No
mais, o governo de orientação liberal de direita da coligação Portugal à Frente
– formada pelo Partido Social-Democrata (PSD), a maior legenda e posicionada
mais para o centro, e pelo decididamente de direita Centro Democrático e
Social-Partido Popular (CDS-PP) – enfatiza os seus êxitos no poder:
principalmente o fato de terem finalizado com sucesso o programa de resgate
financeiro da União Europeia e, supostamente, terem levado Portugal a sair da
crise.
No
entanto, a oposição formada pelo Partido Socialista (PS), cuja orientação é na
verdade social-democrata, afirma que a crise ainda não passou por completo. E
que os custos da controversa política de austeridade econômica teriam afetado
duramente a população. Segundo a oposição, a situação principalmente da classe
média estaria pior do que antes.
Eleitores
pouco entusiasmados
Mas,
nessa campanha eleitoral, o entusiasmo parece não querer tomar conta da
população. "Eu não ganho nem 700 euros por mês, tenho que contar cada
centavo", disse um homem nas ruas de Arcos de Valdevez. "Nada vai
mudar também com um novo governo." Pois não somente o primeiro-ministro
Passos Coelho está comprometido com a austeridade financeira.
Também
o candidato rival António Costa e seu PS apoiam o curso definido pela União
Europeia. Eles querem manter o compromisso com a moeda comum e com a redução do
déficit orçamentário. Somente pequenos partidos de esquerda, que não devem ter
nenhuma influência no resultado final das eleições parlamentares, se
posicionaram claramente contra a política de austeridade econômica.
"Mais
poder de compra para as famílias", exige repetidamente o socialista
António Costa. Apesar do rigor econômico, é possível reduzir impostos, aumentar
os salários cronicamente baixos dos portugueses, defende. No período da manhã,
o candidato socialista visitou uma escola secundária e um conservatório da
cidade industrial de Águeda, criticando durante o almoço o grande déficit orçamentário.
Depois
de paradas nos vilarejos de Oliveira de Azeméis e na cidade do Porto, ele
chamou o primeiro-ministro Passos Coelhos e seu vice Paulo Portas, do partido
de coalizão CDS-PP, de "malabaristas e mentirosos", durante jantar em
Vila do Conde, um bastião socialista. Balançando as suas bandeiras do PS, os
espectadores aplaudiram entusiasmados. Depois foi servido bacalhau.
Governo
de minoria se necessário
Em
entrevista, Costa explicou que todo país tem seus problemas, para os quais tem
de encontrar soluções. Segundo o socialista, Portugal irá, naturalmente,
cumprir os compromissos assumidos. "Mas, como moeda comum, o euro também
deve responder às necessidades de países economicamente mais fracos como
Portugal e Espanha", acrescentou.
Criticando
levemente a política de austeridade econômica, Costa afirmou: "Não pode
haver solução única para problemas de países diferentes."
Se,
após as eleições, o PS sair como a principal força, mas não conseguir a maioria
absoluta, Costa pretende formar um governo de minoria. "Então vamos à
procura de uma maioria no Parlamento que possibilite a realização de nosso
programa de governo."
O
ainda primeiro-ministro Passos Coelho poderá enfrentar o mesmo problema. As
pesquisas de opinião, que em Portugal são tão pouco confiáveis quanto na
Grécia, prometem uma corrida apertada entre o atual governo de coalizão e o
Partido Socialista. É possível que nenhum deles consiga a maioria absoluta no
próximo Parlamento. Então, é a vez dos partidos de esquerda, já que, antes das
eleições, todas as partes descartaram a formação de uma "grande
coalizão".
Para
tolerar um governo do PS, no entanto, os comunistas ainda muito dogmáticos ou
os populistas do Bloco da Esquerda exigem concessões que os socialistas não
deverão poder fazer.
Coalizão
de governo espera nova vitória
Mas
o antigo chefe de governo também pode vir a ser o futuro governante. Passos
Coelho disse que a cada dia sente "uma confiança cada vez maior", em
discurso na pitoresca cidadezinha de Pontes de Lima, na região do Minho, no
norte de Portugual.
O
atual primeiro-ministro, que até algumas semanas atrás era considerado
politicamente derrotado pelos institutos de opinião, triunfou: Diferentemente
da Grécia, segundo o premiê, Portugal teria se transformado numa história de
sucesso durante o seu governo. Enquanto em seu país o desemprego diminui e a
economia volta a crescer, a Grécia entra em seu terceiro pacote de resgate
financeiro, na opinião do político. "Ali é preciso que se economize ainda
mais."
Na
mesa, agricultores e pequenos empresários acenam em concordância enquanto
agitam a bandeira de seu candidato. O norte é muito conservador, ali o governo
de coalizão deverá, certamente, ganhar muitos votos. Ainda não se sabe, no
entanto, se eles serão suficientes para que os conservadores continuem
governando Portugal depois das eleições deste domingo.
Jochen
Faget (ca) – Deutsche Welle
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