Há
56 dias sem Governo, a população guineense começa a dar sinais de desespero com
o agravamento das carências provocadas pela crise. Há falhas na distribuição de
água e luz e o início do ano lectivo teve de ser adiado.
Enquanto
os políticos discutem as divisões das pastas ministeriais, as competências das
instituições do Estado e a fórmula mais sensata para ultrapassar o diferendo
que opõe a Presidência da República e o Partido Africano para a Independência
da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), liderado por Domingos Simões Pereira,
primeiro-ministro demitido a 12 de agosto, o sofrimento dos guineenses tem
aumentado.
O
fornecimento de luz e água tem vindo a ser reduzido, o comércio ressente-se do
fraco poder de compra dos guineenses e os ministérios estão a funcionar a meio
gás.
Também
o ano letivo vai começar com atraso devido à crise política. "As aulas não
começaram até agora porque não temos um Governo. Quem vai decidir? Até hoje,
não se encerrou o ano lectivo 2014/2015", afirma o presidente do Sindicato
Nacional dos Professores (Sinaprof).
Segundo
Luís Nancassa, "as consequências são gravíssimas porque o país tornou-se
ingovernável e está tudo parado".
Há
quase dois meses que o Serviço de Migração e Fronteiras não está a emitir
passaportes devido à falta de energia eléctrica com que aquela instituição se
tem deparado desde o início da crise. A situação tem dificultado os
pretendentes que precisam dessa peça de identificação para motivos de viagens
sejam eles de bolsas de estudo, ou mesmo os pretendem viajar apenas para o
estrangeiro.
"ONU
deve gerir Guiné-Bissau"
Perante
este cenário, um grupo de cidadãos lançou uma petição que defende que a
governação do país deve ser entregue às Nações Unidas, explica Tony Góia,
jornalista da televisão pública e ativista dos direitos humanos que iniciou a
campanha de recolha de assinaturas.
"É
uma guerra infernal. [Os líderes do país] já mostraram a sua incapacidade. Só
querem enriquecer. Ninguém presta contas", critica. A única alternativa,
defende, é "as Nações Unidas assumirem a gestão da Guiné-Bissau durante 20
anos, à semelhança do que aconteceu com Timor-Leste".
Tony
Góia lembra que os sucessivos governos só pensam em interesses particulares,
deixando de lado as preocupações do povo. "É uma morte lenta. É horrível o
que está a acontecer. Em termos de educação estamos mal e no sector da saúde
nem se fala".
A
troca de acusações entre os titulares dos órgãos públicos e o braço-de-ferro
entre o Presidente da República, José Mário Vaz, e o presidente do PAIGC,
Domingos Simões Pereira, fará voltar esta quinta-feira (08.10) ao país o antigo
Presidente nigeriano Olusegun
Obasanjo, mediador da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO)
para a crise política guineense.
Braima
Darame (Bissau) – Deutsche Welle
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