Francisco
Mandlate – O País
Em
entrevista exclusiva ao O País e Stv
Como
está e onde?
Estou
em Moçambique, na província de Manica, em particular no distrito de Gondola,
onde houve aquela tentativa de me assassinar, no dia 25 de Setembro. Aliás,
antes, houve outra tentativa, a 12 de Setembro, naquela zona de Zimbata, em
Vandúzi. Em menos de um mês, tentaram acabar com a minha vida, mas, porque Deus
é grande, não foi possível, porém, morreram meus seguranças. Estamos aqui para
continuarmos a missão de trabalhar em prol da paz e democracia no nosso país. É
a missão que recebemos há anos, décadas e décadas, não é hoje que nos impedirão
de assumir as nossas responsabilidades, porque há gente de má-fé que quer
acabar connosco.
Desde
25 de Setembro, não saiu mais de Gondola. continua em Gondola?
É
quase isso. por razões de segurança, estou em Gondola, não posso andar para
nenhum sítio. quando digo Gondola, não estou na vila...
Naquele
ataque, foi ferido ou não?
Não,
estou bem. embora esse ataque fosse dirigido a mim, felizmente - digo
felizmente porque não fui atingido - estou bem. Embora haja feridos ou mortes,
alguém estava a telefonar-me ontem, porque teria recebido informação de que fui
atingido numa das partes do meu corpo. Mas disse que não, que estava bem e que
não havia razões de esconder, caso estivesse ferido. Por acaso não fiquei
ferido, estou bem!
Gostava
de saber se desde o dia 25 houve algum contacto do governo ou há alguma
negociação?
Temos
o governo que existe. O governo da Frelimo é responsável por isto, embora tente
desmentir. mas é uma pouca vergonha, porque todo o mundo vê, o povo moçambicano
evoluiu muito, já não é o povo de 1975. hoje, com facebook, internet, as
pessoas filmam; um miúdo qualquer filma o combate e põe na internet, nas redes
sociais de todo o mundo. Respondendo à sua pergunta, sim, estamos em contacto.
E há um grupo que nós criámos aí em Maputo. Está incluso o chefe do meu
gabinete, o Mateus Augusto, outras pessoas que estão em contacto com o governo,
assim como os mediadores, aqueles facilitadores grupo de Dom Dinis Sengulane, o
Lourenço, Chembeze, Padre Couto, e vamos convidar também alguns jornalistas,
como da Stv, para testemunharem a minha saída. Estou bem e preparado para
continuar a trabalhar, é a missão que tenho. Ainda ontem, estavam a encher mais
efectivos no interior de Gondola, saíam de Chimoio com mais viaturas, e isto
fez com que, de facto, atrasasse mais, porque já havia um dia indicado em que
eu poderia sair com mediadores, jornalistas e outros... Não é por ter medo, é
bom que haja testemunhas a ver-me sair, porque também não sou um miúdo
qualquer, sou uma pessoa que escapa à morte duas vezes em menos de 30 dias. Eu
sou um ser humano, tenho direito à vida e preciso também que as pessoas sintam
que algo estava para correr mal. mas por causa dos efectivos que andaram aqui
das Forças Armadas, FADM, Intervenção Rápida, alguns escondidos nas esquinas,
achei (melhor) dizer que não, vamos estudar outras vias, mas dentro em breve
estarei na cidade, para continuarmos o nosso trabalho. Mas dentro em breve, Mandlate,
dentro em breve, porque não há guerra, é uma coisa que você deve gravar e pôr
em cheio, para os moçambicanos se sentirem tranquilizados. Eu não estou aqui no
mato a planificar a guerra. Depois daquele ataque, para evitar o pior e tudo, e
porque os meus membros podiam enervar-se e começar a reagir de uma
maneira descontrolada, decidi não continuar a viagem a Nampula ou a Beira e
entrei no mato, isto é, sempre estrategicamente, para evitar o perigo. não é
porque estava a fugir da morte, porque o combate começou às 11h00 e até às
18h00 e eu estava no sítio, tranquilamente, a comandar os nossos homens para
contra-atacarem os das FADM, para capturar armas. Houve muitos mortos, nós
perdemos um número de 14 pessoas, tanto motoristas como os meus seguranças, e
eles perderam centenas. Embora estejam a esconder, havia alguns coronéis
feridos da Frelimo, aí de Maputo mesmo. Mas, pronto, a responsabilidade é
deles. Dentro em breve estarei aí, deixe as pessoas ouvirem a minha voz, é o
Dhlakama que está a falar e disposto, como sempre. não estou no mato a fazer a
guerra, isto podem tirar mesmo da cabeça, tirar mesmo. Se eu quisesse,
Moçambique já estaria a arder, não há interesse nisso. A minha idade... já não
sou jovem. Cresci na guerra, esta democracia dependeu de luta e de sacrifício.
Sinto-me muito emocionado, já há liberdade de um povo, já há parlamento a
funcionar, existe investimentos, já há economia de mercado, já há partidos
novos, a pena da morte acabou, as aldeias comunais acabaram, guias de marcha
acabaram, campos de reeducação... tudo desapareceu, pelo menos há um bocado de
liberdade de imprensa. Isto deveu-se também ao sacrifício da minha juventude.
Portanto, Mandlate, eu quero dizer-te: não tenho intenção de me vingar desses
ataques, claro que tenho que ser prudente, sou um ser humano, tenho família,
tenho filhos, os meus filhos, por eu estar no mato, ligam todos os dias a
chorar. Mas eu não sou escravo da Frelimo. Quero garantir que eu, entanto que
Dhlakama, embora seja líder da rebeldia moçambicana e de tudo, não vou
vingar-me com guerra, mas com a luta pacífica, com discursos, comícios,
diálogo, palestras e tudo. Entanto que um líder, eu vou continuar, porque é
preciso que Moçambique continue a ter um homem como Dhlakama.
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