Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Os
tempos não estão para euforias. O Bloco obteve um resultado histórico, a
coligação de Direita foi a candidatura com mais votos, mas perdeu a maioria
absoluta. O campo de ação para a Esquerda existe - e deve ser explorado.
Foquemo-nos
em primeiro lugar no que pode ser travado. Sem o poder absoluto, a Direita não
tem legitimidade para privatizar a Segurança Social, ou seja o que for, ou para
fazer novos cortes nas pensões. Se o presidente da República insistir, para
salvar os seus, em dar posse a um Governo cujo programa foi rejeitado nas urnas
pela maioria dos portugueses, é pois nosso dever travar essa possibilidade.
Passemos
depois ao que pode ser construído. Uma alternativa de corte profundo com a
austeridade, que ultrapasse de vez as suas falsas premissas: a baixa do salário
gera competitividade; a facilitação do despedimento cria emprego; o ataque aos
salários e pensões consolida as contas públicas.
Essas
premissas devem ser substituídas por outras: o salário para combater a pobreza,
o investimento para produzir e criar emprego, e ambos para, em conjunto com uma
reestruturação da dívida, porem as contas públicas em ordem.
Criar
as condições para esta alternativa é o desafio de hoje. Requer coragem, clareza
e determinação. Este é o desafio que se coloca ao PS: escolher uma verdadeira
rotura com a austeridade para um novo caminho que precisamos de iniciar
urgentemente, em vez das velhas ideias de governabilidade
"responsável" ao centro, dentro dos parâmetros impostos pelas instituições
europeias, ao sabor dos mercados financeiros.
Responsabilidade
é garantir ao país que o plano de urgência que necessita para renascer da
austeridade é possível. O desafio está lançado, faz-se tempo de nos pormos ao
caminho.
*
Deputada do BE
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