O
alerta é lançado pela ONG ambientalista MARAPA, depois do recente naufrágio ao
largo da costa são-tomense de um navio procurado pela Interpol. A embarcação,
de bandeira nigeriana, é suspeita de prática de pesca ilegal.
O
navio "Thunder" afundou na noite de segunda-feira (06.04) a cerca de
9.500 milhas da costa de São Tomé e Príncipe. Vários membros da tripulação,
formada maioritariamente por indonésios, foram resgatados por ativistas da Sea
Shepherd, uma organização internacional sem fins lucrativos ligada à protecção
do ambiente marinho. A organização não governamental (ONG) seguia há mais de
três meses a embarcação suspeita de pescar ilegalmente na Antártida.
De
acordo com informações da Organização Internacional de Polícia Criminal
(Interpol) citadas pela agência de notícias Lusa, o navio "já mudou várias
vezes da cor, de bandeira e de nacionalidade" e pratica "atividades
ilegais que podem incluir tráfico de drogas".
Segundo
o comandante da Capitania dos Portos de São Tomé, Rui Costa, o objetivo do
"Thunder" era "vir a São Tomé fazer o transbordo da carga, a
mudança de tripulação e posteriormente permanecer em São Tomé para preparar um
novo registo e mudar de atividade de pesca, para assim obter uma nova
licença".
Naufrágio
planeado?
Os
40 tripulantes do navio encontram-se agora à guarda das autoridades
são-tomenses, que prosseguem as investigações. O comandante da guarda costeira,
Idalécio João, congratulou-se com a operação de resgate desencadeada pelos
fuzileiros navais são-tomenses e negou que o país tivesse informação de que o
navio estava a ser procurado pela Interpol. "Não recebi nenhuma carta da
Interpol a dizer que o navio estava a ser seguido", sublinhou.
Entrevistado
pela DW África, o capitão Sid Chakravarty do "Sam Simon", um dos
navios da ONG Sea Sheperd, diz que as provas recolhidas evidenciam que houve
uma intenção deliberada da tripulação em fazer desaparecer o barco.
"O
navio afundou seis horas depois, o que indica que foi planeado. Se o meu barco
fosse atingido e estivesse a entrar água, eu não evacuaria a minha tripulação
enquanto a situação estivesse sob controlo", explicou.
Sid
Chakravarty diz ter ficado surpreendido pelo facto de o navio ter sido
agenciado pela Equador, em São Tomé. Uma prova que, segundo o capitão, alimenta
a tese segundo a qual o proprietário e operador do navio, até ao momento
desconhecidos, planearam e anteciparam esta operação de naufrágio.
"Contactámos
o senhor Wilson Morais, [o funcionário da agência são-tomense Equador, que
agenciou o navio que naufragou] que me disse que tinha sido contactado por uma
agência espanhola para retirar a tripulação. Não lhe foi dito que o barco era
procurado pela Interpol."
Sid
Chakravarty acrescenta que o funcionário da agência são-tomense pensava estar
perante "uma situação comum, em que a tripulação passa pelos controlos
fronteiriços, é enviada para casa num avião e substituída por uma nova
equipa."
"Porto
seguro para piratas"
Para
o ambientalista Bastien Loloum, da ONG MARAPA - Mar, Ambiente e Pesca
Artesanal, o caso tem outras leituras. "O Thunder, que tinha como
objectivo vir para São Tomé para poder descarregar material capturado de forma
fraudulenta, carga ilegal, estava também a usar ferramentas nacionais e locais
para poder continuar a sua atividade com cobertura administrativa",
defende.
Bastien
Loloum encara o episódio com preocupação. "Porque significa que as
autoridades locais não têm tanto domínio daquilo que se passa no nosso porto,
com barcos que vão e vêm - e que se calhar estão envolvidos em atos criminosos
- e não temos capacidade de fiscalização dessas atividades."
Na
opinião do ambientalista, "isso poderá significar que São Tomé pode ser um
porto seguro para barcos piratas".
Esta
foi a primeira que um navio de pesca naufragou em águas territoriais
são-tomenses com tão elevado número de marinheiros.
Ramusel
Graça (São Tomé) – Deutsche Welle
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