domingo, 8 de novembro de 2015

Angola. PAÍS VAI TER DE FAZER MAIS E MELHOR COM MENOS DINHEIRO - FMI



O grande desafio de Angola nos próximos anos é "fazer mais e melhor com menos", adaptando as políticas públicas à descida das receitas, disse à Lusa o representante permanente do Fundo Monetário Internacional no país.

"O grande desafio de Angola é fazer mais e melhor com menos. Num contexto de uma menor receita por causa da quebra do preço do petróleo, um melhor uso dos recursos disponíveis é necessário para atingir os grandes objetivos de criar uma base para o crescimento forte sustentado, aumentando o papel do setor privado; diminuir a dependência do petróleo apostando na diversificação da economia; e também reduzir a pobreza", disse Max Alier.

Em entrevista à Lusa a propósito dos 40 anos da independência de Angola, que se assinala a 11 de novembro, Max Alier concretizou que "são precisas reformas estruturais para diminuir os custos do setor não petrolífero, através de uma melhoria do ambiente de negócios e uma diminuição da burocracia, para além de aumentar a produtividade do capital e do trabalho: o primeiro continuando a construção de infraestruturas críticas, e o segundo através de investimentos fortes na saúde e na educação".

Max Alier lembrou que nestas últimas quatro décadas Angola reconstruiu rapidamente as infraestruturas críticas e conseguiu reduzir a pobreza, num processo que se acelerou bastante com o fim da guerra civil, em 2002, e com o início da produção de petróleo.

"Isto foi possível porque o país aumentou significativmente a receita do petróleo, não só pelo preço, mas também pelo aumento da produção a seguir ao fim da guerra civil, e também porque houve um crescimento muito rápido do setor não petrolífero", acrescentou o costa-riquenho que lidera a delegação do FMI em Angola desde junho.

Em Angola, o petróleo ocupa uma parte central da vida, mas Max Alier diz que isso tem aspetos positivos e negativos: "A existência de grandes quantidades de petróleo é uma bênção porque permitiu que a reconstrução da economia e a redução da pobreza nos anos seguintes ao conflito fosse mais rápida, mas por outro lado, como acontece noutros países produtores de matérias-primas e que dependem delas, a velocidade com que fazem as reformas para diversificar a economia é mais lenta e tornam-se complacentes e ficam expostas às flutuações dos preços".

A dependência do petróleo foi sendo disfarçada pelos altos níveis de produção e pelo preço alto, que permitia que o Governo construísse reservas e ao mesmo tempo fosse apostando em infraestruturas, mas sem apostar decisivamente noutros setores da economia, o que deixou Angola completamente vulnerável à crise petrolífera de 2008 e 2009.

"Angola sofreu muito com a quebra do preço do petróleo em 2009 e a crise financeira mundial, mas as políticas macroeconómicas seguidas na altura foram as adequadas e isso, combinado com a rápida subida dos preços no pós-crise, permitiu que o país mantivesse as finanças públicas em ordem e, chegados a 2014, tinham o nível mais baixo de inflação da história (6,5%) e quantidades expressivas de reservas internacionais", diz Max Alier.

Desde então, acrescenta, o país tem melhorado e ganhou consciência de que a diversificação é mesmo uma necessidade imperativa: "Após as eleições de 2012 foi aprovado o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, que está focado diretamente em criar as condições para a diversificação da economia".

O problema, aponta, é que "o Plano foi preparado quando o petróleo estava acima dos 100 dólares, por isso o grande desafio é fazer grandes esforços para melhorar a eficiência da despesa pública para fazer mais e melhor com menos, porque têm de cumprir os objetivos, mas têm muito menos recursos para os atingir".

Como vai Angola conseguir fazer isso, então, num contexto de menores receitas? Max Alier diz que os angolanos agora acordaram: "A crise de 2009 deu o primeiro toque para se focarem na diversificação, mas com a quebra do preço do petróleo no último ano, acordaram; as autoridades estão determinadas a diversificar, e já fizeram várias reformas, como a lei do investimento privado e o guichet único, mas há muito para fazer ainda".

Assim, conclui, "saber como vão emergir no pós-crise vai depender fundamentalmente de conseguirem ou não fazer as reformas que consigam diversificar a economia, reduzindo os custos e aumentando a produtividade".

MBA // PJA / Lusa

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