O
grande desafio de Angola nos próximos anos é "fazer mais e melhor com
menos", adaptando as políticas públicas à descida das receitas, disse à
Lusa o representante permanente do Fundo Monetário Internacional no país.
"O
grande desafio de Angola é fazer mais e melhor com menos. Num contexto de uma
menor receita por causa da quebra do preço do petróleo, um melhor uso dos
recursos disponíveis é necessário para atingir os grandes objetivos de criar
uma base para o crescimento forte sustentado, aumentando o papel do setor
privado; diminuir a dependência do petróleo apostando na diversificação da
economia; e também reduzir a pobreza", disse Max Alier.
Em
entrevista à Lusa a propósito dos 40 anos da independência de Angola, que se
assinala a 11 de novembro, Max Alier concretizou que "são precisas
reformas estruturais para diminuir os custos do setor não petrolífero, através
de uma melhoria do ambiente de negócios e uma diminuição da burocracia, para
além de aumentar a produtividade do capital e do trabalho: o primeiro
continuando a construção de infraestruturas críticas, e o segundo através de
investimentos fortes na saúde e na educação".
Max
Alier lembrou que nestas últimas quatro décadas Angola reconstruiu rapidamente
as infraestruturas críticas e conseguiu reduzir a pobreza, num processo que se
acelerou bastante com o fim da guerra civil, em 2002, e com o início da
produção de petróleo.
"Isto
foi possível porque o país aumentou significativmente a receita do petróleo,
não só pelo preço, mas também pelo aumento da produção a seguir ao fim da
guerra civil, e também porque houve um crescimento muito rápido do setor não
petrolífero", acrescentou o costa-riquenho que lidera a delegação do FMI
em Angola desde junho.
Em
Angola, o petróleo ocupa uma parte central da vida, mas Max Alier diz que isso
tem aspetos positivos e negativos: "A existência de grandes quantidades de
petróleo é uma bênção porque permitiu que a reconstrução da economia e a
redução da pobreza nos anos seguintes ao conflito fosse mais rápida, mas por
outro lado, como acontece noutros países produtores de matérias-primas e que
dependem delas, a velocidade com que fazem as reformas para diversificar a
economia é mais lenta e tornam-se complacentes e ficam expostas às flutuações
dos preços".
A
dependência do petróleo foi sendo disfarçada pelos altos níveis de produção e
pelo preço alto, que permitia que o Governo construísse reservas e ao mesmo tempo
fosse apostando em infraestruturas, mas sem apostar decisivamente noutros
setores da economia, o que deixou Angola completamente vulnerável à crise
petrolífera de 2008 e 2009.
"Angola
sofreu muito com a quebra do preço do petróleo em 2009 e a crise financeira
mundial, mas as políticas macroeconómicas seguidas na altura foram as adequadas
e isso, combinado com a rápida subida dos preços no pós-crise, permitiu que o
país mantivesse as finanças públicas em ordem e, chegados a 2014, tinham o
nível mais baixo de inflação da história (6,5%) e quantidades expressivas de
reservas internacionais", diz Max Alier.
Desde
então, acrescenta, o país tem melhorado e ganhou consciência de que a
diversificação é mesmo uma necessidade imperativa: "Após as eleições de
2012 foi aprovado o Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017, que está
focado diretamente em criar as condições para a diversificação da
economia".
O
problema, aponta, é que "o Plano foi preparado quando o petróleo estava
acima dos 100 dólares, por isso o grande desafio é fazer grandes esforços para
melhorar a eficiência da despesa pública para fazer mais e melhor com menos,
porque têm de cumprir os objetivos, mas têm muito menos recursos para os
atingir".
Como
vai Angola conseguir fazer isso, então, num contexto de menores receitas? Max
Alier diz que os angolanos agora acordaram: "A crise de 2009 deu o
primeiro toque para se focarem na diversificação, mas com a quebra do preço do
petróleo no último ano, acordaram; as autoridades estão determinadas a diversificar,
e já fizeram várias reformas, como a lei do investimento privado e o guichet
único, mas há muito para fazer ainda".
Assim,
conclui, "saber como vão emergir no pós-crise vai depender
fundamentalmente de conseguirem ou não fazer as reformas que consigam diversificar
a economia, reduzindo os custos e aumentando a produtividade".
MBA
// PJA / Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário