terça-feira, 3 de novembro de 2015

Angola. “QUERÍAMOS QUE LUATY COMESSE E DEPOIS A JUSTIÇA FIZESSE A SUA PARTE”



Bento Kangamba critica a forma como se está a pressionar os tribunais angolanos, pedindo a libertação sem julgamento dos activistas.

O general e alto dirigente do MPLA Bento dos Santos Kangamba saudou ontem o fim da greve de fome dorapper Luaty Beirão, afirmando que o tempo é da Justiça, recusando pressões externas no processo dos 15 activistas.

Naquela que foi uma das primeiras reacções de figuras de topo do regime ao fim do protesto de Luaty Beirão, um dos activistas detidos desde Junho sob acusação de rebelião e que cumpriu 36 dias em greve de fome, o general Kangamba assumiu a importância do fim desse protesto, para que a Justiça “siga o seu caminho normal”.

“Isso é que é importante, isso é o que nós queríamos. Queríamos que Luaty comesse e depois a Justiça fizesse a sua parte”, disse o dirigente do MPLA, questionado pelaLusa à margem de uma visita de campo em Benfica, Luanda.

“O que estava a acontecer era a greve de fome e depois as pessoas a pressionar a Justiça para libertar [os activistas, incluindo Luaty Beirão]. Ninguém estava a defender para julgar, mas para libertar, para tirar fora, de imediato”, observou Bento Kangamba, membro do comité central do MPLA.

Também conhecido como Ikonoklasta, Luaty Beirão, de 33 anos, protestava com a greve de fome contra o excesso de prisão preventiva e exigia aguardar julgamento em liberdade, anunciando o fim da greve de fome na passada terça-feira, perante os alertas médicos sobre a sua situação clínica e os sucessivos apelos nacionais e internacionais.

É um dos 17 jovens acusados pela Justiça de actos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o presidente, tendo o início do julgamento sido entretanto marcado para 16 de Novembro, no tribunal de Cacuaco.

“Vamos deixar que a Justiça faça a sua justiça e que os juízes façam o seu juízo. E espero que haja imparcialidade da Justiça no julgamento dos jovens, que quem cometeu apanhe pena, quem não cometeu que seja absolvido. Não pode é haver mais o espectáculo que estávamos a ver sobre esse Luaty”, disse Bento Kangamba.

O dirigente voltou a criticar figuras do Bloco de Esquerda, em Portugal, pelas acusações de violação dos direitos humanos lançadas a Angola, dizendo mesmo que “alguns não são bem-vindos” ao país.

“O Luaty nunca foi preso político. O Luaty é do grupo de jovens que tentou fazer aqui manifestações, a falar mal de quem governa, de quem está próximo do governo, mas isso não quer dizer que é político”, disse, garantindo que Angola é uma democracia onde “não há presos políticos”.

Retomando a crítica aos protestos e acusações desde Portugal, sobre violação de direitos humanos e falta de liberdade de expressão em Angola – que recusa aceitar – Kangamba insiste que “alguns portugueses” ainda tratam os angolanos “como criados” e que acham que “têm de ser chamados pretos”.

Também por isso insiste que, enquanto “país soberano”, Angola deve “resolver os seus problemas internamente” e que “não é Portugal a ensinar o que temos de fazer”.

Retomando as “preocupações” com a indefinição governativa em Portugal, afirma que “nem todos os portugueses são maus”, mas lamenta as “constantes insinuações” sobre o regime angolano.

“Mas esta fase vai passar, confio nas autoridades portuguesas e nos políticos portugueses”, rematou.

Lusa, em Rede Angola - Na foto Bento Kangamba (direita), junto a Higino Carneiro, numa reunião do comité central do MPLA[ Francisco Bernardo/JAImagens

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