O
Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, disse hoje que pretende dialogar com o
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para devolver a estabilidade ao país,
"mas não está a ser possível".
"Estou
a fazer o esforço de conversar com ele [Afonso Dhlakama], mas não está a ser
possível", declarou o chefe de Estado, citado pela Agência de Informação
de Moçambique, durante um encontro em Maputo com bispos da Conferência
Episcopal moçambicana.
O
líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da
oposição em Moçambique, não é visto em público há um mês, depois uma operação
policial na sua residência na Beira, província de Sofala, que visava a recolha
de armas, e após vários outros incidentes entre a sua guarda e as forças de
defesa e segurança na província de Manica.
No
encontro com os líderes religiosos, que hoje apelaram ao Governo e à Renamo
para o abandono das armas e início imediato do diálogo, Nyusi rejeitou um
cenário de mediação internacional.
"Acho
que este é um assunto que pode ser resolvido dentro de casa. É uma conversa de
quarto. Não vejo motivo para se escolher um país para resolver isso. Estou a
fazer tudo para ter o diálogo", afirmou.
Moçambique
vive momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em
reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e
pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob
ameaça de tomar o poder pela força.
As
últimas semanas têm sido marcadas por confrontos entre as partes, estando a
decorrer uma operação policial de recolha de armas da Renamo em vários pontos
do país, num dos momentos de maior tensão política e militar desde o Acordo
Geral de Paz, que selou, em 1992 em Roma, 16 anos da guerra civil, então sob
mediação da organização católica Comunidade de Santo Egídio.
Aos
bispos católicos, o Presidente da República pediu que ajudem o Governo com
soluções e não apenas com a identificação de problemas, reiterando que a causa
da instabilidade do país reside na pobreza.
"Trata-se
de desentendimento entre duas pessoas e apenas uma questão de um sair e entrar
outro não vai resolver nada", sustentou o chefe de Estado, para quem,
"enquanto existirem pessoas que não têm comida, gente que não tem saúde,
gente que não tem educação, a estabilidade vai faltar".
Nyusi
também se referiu às ameaças financeiras e económicas que o país atravessa,
traduzidas pela forte depreciação do metical face ao dólar, queda do
investimento estrangeiro e do apoio externo, redução de divisas e aumento da
dívida.
"Não
tenho remorsos de afirmar que estamos a principiar um novo ciclo de governação
com a menor disponibilidade de divisas, que decorre também da redução dos
níveis de ajuda externa ao nosso país", afirmou, retomando o discurso
proferido no dia 29 de outubro, na cerimónia de 20 anos do banco Millennium
bim, quando resistiu a uma atitude de desespero e avisou que o Governo tenciona
"implementar reformas estruturais do tecido produtivo".
A
Igreja Católica moçambicana apelou hoje ao Governo e à Renamo para que
abandonem as armas e retomem de imediato o diálogo, deplorando "a
incoerência entre o que se diz e o que se faz".
"Apelamos
ao Governo e à Renamo para o abandono absoluto das armas, a retomada imediata
do diálogo eficaz entre as partes em conflito, envolvendo outras forças vivas
da sociedade", disse o arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio, no encontro
com o Presidente moçambicano.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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