Roger
Godwin - Jornal de Angola, opinião
O
Presidente Muhammadu Buhari, num muito aplaudido discurso televisivo, afirmou
que as forças armadas e “o povo da Nigéria” conseguiram infligir ao grupo
terrorista Boko Haram uma “clara vitória técnica”, sublinhando que este grupo
já não representa o mesmo perigo de há dois meses atrás.
De
acordo com o Presidente Buhari, o Boko Haram já não consegue efectuar os mesmos
ataques convencionais que realizava há dois meses atrás, estando agora
devidamente localizadas as suas forças residuais que, a qualquer momento,
“serão neutralizadas”.
O que ainda resta do Boko Haram está cercado no coração do Estado de Borno e usa explosivos improvisados para defender as suas posições das investidas das forças governamentais, disse o Chefe de Estado num discurso especialmente dirigido às forças armadas mas que a população civil seguiu com grande e justificada atenção.
Mas, nem todos têm a mesma visão optimista em relação ao estado em que se encontra o Boko Haram, havendo mesmo quem considere “exageradas” as considerações feitas pelo Presidente Buhari, recordando o que se passou em situações anteriores quando os terroristas, perante avanços das forças militares, resolveram recuar e reorganizar-se para um regresso ainda mais sangrento.
Na verdade, durante os seus seis anos de rebeldia, o Boko Haram tem tido vários “recuos tácticos”, consoante as investidas do exército, refinando sempre os seus métodos quando decidiu retomar as hostilidades.
Durante esses seis anos, de acordo com dados oficiais, o grupo terrorista terá morto cerca de 17 mil pessoas, destruído mais de mil escolas e provocado a deslocação de 1,5 milhões de populares das suas zonas de origem.
Mal tomou posse, há cerca de quatro meses, o Presidente Buhari deu às forças armadas um prazo que termina no final deste ano para desalojar o Boko Haram das zonas que controla.
Por isso muitos acreditam que neste seu discurso, o Presidente nigeriano tenha exagerado nas suas considerações de modo a misturar o seu desejo e a sua promessa com aquilo que, na verdade, se passa no terreno.
E, no terreno, a realidade mostra que o Boko Haram continua a reivindicar uma série de atentados, invertendo, tal como o próprio Presidente reconhece, a sua estratégia para a realização de atentados menos aparatosos mas não menos sangrentos.
De acordo com informações disponibilizadas há pouco tempo pelas forças militares da Nigéria, membros do Boko Haram terão realizado atentados suicidas nas regiões de Adamawa e de Yobe.
Nesses atentados, ocorridos em mercados populares, terão morrido dezenas de pessoas, o que obriga a colocar nesses locais alguns dos efectivos militares que antes estavam em Borno.
Este desvio de meios humanos e militares está a provocar sérias preocupações a alguns oficiais, que temem poder estar-se perante uma estratégia articulada para dispersar as forças que têm por missão e estão preparadas para combater o terrorismo.
Há poucos dias, o chamado “Estado Islâmico” pôs a circular nas redes sociais uma informação de acordo com a qual, nos últimos dois meses, o Boko Haram (seu representante para aquela região africana) efectuou mais de 100 ataques e matou mais de mil pessoas na Nigéria.
Ao mesmo tempo, o próprio Boko Haram ainda esta semana anunciou ter efectuado um raide no Níger, onde terá morto cinco pessoas, além de reivindicar o controlo de algumas posições no Lago Chade.
Independentemente dos sucessos que acaba de reclamar, o Presidente Buhari espera receber em breve um reforço da ajuda proveniente da Inglaterra, Estados Unidos e França.
Essa ajuda, segundo disse, é para agilizar a recuperação de infra-estruturas destruídas pelos terroristas, de modo a possibilitar que os deslocados possam regressar das zonas de onde foram obrigados a fugir.
Em termos de pura cooperação militar, sabe-se que os Estados Unidos estão a colaborar na formação de novos efectivos e no fornecimento de assessoria ligada às tecnologias de informação.
Mas, é evidente que a Nigéria precisa de uma forte ajuda suplementar, não só para a reabilitação das infra-estruturas como, também, para defender as zonas libertadas do controlo do Boko Haram.
Sem essa ajuda, a Nigéria corre o sério risco de ver, mais tarde ou mais cedo, os terroristas regressarem aos locais de onde terão agora sido expulsos, uma vez que a população, por si só, não tem qualquer hipótese de se defender.
Por mais de uma vez as forças armadas nigerianas falharam no teste da coesão e da preparação para o esforço de actuação em locais menos favoráveis, tendo em linha de conta a sua preparação combativa.
Por isso, dois meses parece ser um prazo de tempo demasiado curto para que o Presidente Buhari possa clamar sucessos consolidados e definitivos sobre o grupo Boko Haram.
A história tem-nos ensinado que, tanto na Nigéria como noutros países, a organização e prontidão combativa tende a relaxar quando se lhe atribuem méritos que pouco fizeram por merecer.
Por isso seria mais avisado esperar-se mais um tempo para, então sim, se fazer
um balanço rigoroso sobre o estado em que se encontra o Boko Haram e qual a sua
eventual capacidade para regressar ao terrorismo.
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