terça-feira, 28 de julho de 2015

Angola. QUANDO O MAIS-VELHO DEIXAR O PODER




Kalaf Epalanka – Rede Angola (ao), opinião

Há quem questione quando será que o presidente José Eduardo dos Santos irá deixar o poder. Outros, mais calculistas, preocupados com questões práticas, interrogam-se “Quem será o próximo presidente da república?” Longe de mim menosprezar quem se entregue a tão importante raciocínio, mas ao invés de me perder nesse exercício hipotético de adivinhar o quem e o quando, prefiro antes apontar a minha curiosidade para tentar imaginar que tipo de país o próximo líder irá governar.

Essa é pergunta que todos devemos ter a coragem de formular e arriscar responder até. Todos temos responsabilidades, jovens e velhos, sociedade civil e classe política. Não nos podemos deixar sucumbir à ideia de que está tudo perdido e qualquer mudança está fora do nosso alcance. Muitas das regras e das leis sobe as quais nos regemos em sociedade não são mais velhas do que a maioria dos cidadãos deste país, ou, para termos uma ideia mais concreta, não são mais velhas do que o jornalista e activista Rafael Marques de Morais. As leis em vigor durante o reinado de Ngola Kiluanji ou Ekwikwi II não sobreviveram aos séculos de ocupação portuguesa. Nós enquanto nação independente, não temos o dobro da idade da maioria dos jovens activistas detidos em Viana, Calomboloca e Caquila. Se somos ainda candengues, porque não usar isso a nosso favor? Porque não aproveitar a pujança, vitalidade de uma nação jovem nesse continente que todos consideram o futuro? Evitando os erros cometidos por outras nações bem mais experientes nas lides democráticas, que entre outras barbaridades, tardaram a reconhecer o direito ao voto das mulheres e dos negros. Podíamos aproveitar essa pujança e vitalidade juvenil e liderar em pontos como igualdade de género, não fossem elas, nossas mães e irmãs, verdadeiras heroínas num continente onde os homens mais fortes e capazes foram continuamente sacrificados, deportados para as Américas ou então enviados para uma frente de combate.  Quem melhor do que nós, africanos, para descrever o verdadeiro significado da palavra liberdade?

Antes que o cansaço nos vença a todos, o que podemos fazer?  Os que reclamam mudanças aqui e agora, mas também os que estão dispostos a esperar, e até os cínicos que teimam em não entender que prosperidade económica e estabilidade política têm como inimigo maior a desigualdade social. São estes últimos que sentem que todos os angolanos conspiram contra, questionam a sua decência e invejam o seu sucesso financeiro. Esta é uma não questão, pelo menos diante daquela que todos já se colocaram de uma forma ou de outra – por quanto mais tempo o país vai conseguir esticar essa corda. Se nós, angolanos, acreditamos nas nossas capacidades, deveríamos aprender a deixar de concluir todos os argumentos sobre o nosso futuro com a questão: quem será o próximo presidente quando José Eduardo dos Santos deixar o poder? Angola vai precisar muito mais do que um presidente. Precisa dos que acreditam em sonhos – que se lhes dê voz. Acredito que não nos vamos arrepender.

Angola. MÃOS LIVRES DIZ QUE “KALUPETEKAS” CONTINUAM A SER




Organização acusa as autoridades de estarem a promover uma acção coordenada para que os fiéis não se reorganizem.

Segundo aquela associação de activistas e advogados, as novas prisões efectuadas em Julho – apontando casos no Huambo, Bié, Huila e Benguela – decorrem da “deliberação dos órgãos superiores da Polícia Nacional e da Procuradoria Geral da República [PGR]”, mas “fora” do âmbito do flagrante delito.

Esta posição surge depois de advogados da Mãos Livres terem realizado visitas de campo em várias províncias, com o objectivo de reconhecer as condições dos fiéis daquela seita, tendo concluído, além da detenção de novas dezenas destes elementos, também casos de casas de seguidores destruídas, torturas, buscas policiais não autorizadas e outras alegadas violações dos direitos humanos.

“As autoridades prisionais têm impedido que os advogados e membros da Mãos Livres tenham contacto com os presos, e, desta forma, não se conheça o número real de cidadãos nas cadeias por razões religiosas. Todavia, dos números que nos chegam, podemos afirmar que mais de uma centena de fiéis da igreja ‘A luz do mundo’ encontram-se encarcerados”, escreve a associação.

A Mãos Livres defende que é necessário que a PGR “se pronuncie de forma clara quanto às prisões ilegais”, que diz serem “realizadas por perseguição religiosa”, apelando à comunidade internacional “para que se empenhe na proteção” destes seguidores, “vítimas de perseguição religiosa”.

No acampamento em que aconteceram os incidentes de Abril, no monte Sume (Huambo), estariam concentrados milhares de seguidores.

Lusa, em Rede Angola

ANGOLA É EPICENTRO DE ESCRAVIDÃO E TRÁFICO




Um relatório do departamento de Estado dos EUA aponta Angola como país de “origem e destino” para tráfico de homens, mulheres e crianças para sexo e trabalhos forçados, também para Portugal, mas admite esforços governamentais.

De acordo com o Relatório Global de Tráfico de Pessoas – 2015, há angolanos “forçados a trabalhar” na agricultura, pesca, construção, serviços domésticos e exploração artesanal de diamantes no país.

Acrescenta o documento, de 27 de Julho, que cidadãos chineses “exploram crianças angolanas” em “fábricas de tijolos, construção e actividades agrícolas” em Angola e que meninas a partir dos 13 anos são forçadas à prostituição.

Refere ainda que rapazes angolanos são levados para a Namíbia (fronteira sul) para trabalhar no “pastoreio de gado”, enquanto outros são “forçados” a servir como “mensageiros” em redes ilegais de importação no comércio transfronteiriço.

“Mulheres angolanas e crianças são submetidas a servidão doméstica e escravidão sexual na África do Sul, Namíbia e países europeus, incluindo a Holanda e Portugal”, lê-se no documento.

No sentido inverso, o departamento de Estado norte-americano reconhece que mulheres do Vietname e do Brasil são alvo de tráfico para prostituição em Angola, juntamente com chinesas e congolesas, estas também para trabalhos forçados no país e alvo de vários tipos de violência.

“O Governo de Angola não cumpre totalmente com os padrões mínimos para a eliminação do tráfico [de seres humanos], no entanto, está a fazer esforços significativos para tal. Durante o período do relatório (2014), o Governo demonstrou maior interesse sobre questões de tráfico de pessoas e fez esforços para melhorar a sua capacidade para lidar com este crime”, refere ainda o relatório norte-americano.

Referindo-se a acções de formação de 400 agentes, policiamento e campanhas de sensibilização, o Governo norte-americano melhorou o nível da classificação angolana nesta matéria.

As autoridades angolanas identificaram 17 potenciais vítimas de tráfico humano entre crianças em 2014, mas os esforços para identificar e proteger vítimas adultas foram “insuficientes”, observa ainda o relatório.

Além disso, acrescenta, nunca foi condenado um “ofensor” por tráfico, “apesar de anos de relatórios” sobre “empresas de construção envolvidas no trabalho forçado” e sem que o Governo investigue os “abusos no sector da construção em Angola” ou “responsabilize” os promotores do trabalho forçado a que são sujeitos angolanos e estrangeiros.

Nas recomendações a Angola, o relatório exorta à utilização das disposições do código penal revisto “para investigar e reprimir as infracções” no trabalho e no “tráfico sexual”, bem como a “continuar a formar a polícia” e a “investigar sistematicamente o tráfico de trabalho no sector da construção”.

Ainda a “desenvolver procedimentos sistemáticos para a identificação e encaminhamento das vítimas de tráfico”, a formar funcionários governamentais, além de fornecer abrigo, aconselhamento e assistência médica para as vítimas, crianças e adultos, “directamente ou em parceria com as Organizações Não Governamentais (ONG)”, entre outras medidas.

Folha 8 (ao)

EM ANGOLA É PROIBIDO PENSAR



Mariana Mortágua – Jornal de Notícias, opinião

Em Angola quem manda é José Eduardo dos Santos, a sua família, os seus ministros e os seus generais. Há um saque a um povo e a um país, organizado por uma oligarquia no poder há 37 anos.

A fortuna que os mantém e o poder que lhes dá a fortuna, não lhes pertencem. Vem dos diamantes, arrancados à custa da exploração e violação de direitos humanos. Vem do petróleo, que concessionam como se fosse seu. É dinheiro desviado do saneamento básico, do investimento em serviços públicos e em direitos humanos.

O país que o Governo português, com a cumplicidade do PS, vê como um Dubai lusófono, mais uma meca financeira para reverenciar, é um extremo de desigualdade e corrupção. Os generais e milionários que o Governo português se esforça por "atrair" como "investidores" respondem por um regime cleptocrático, em busca de uma melhor reputação.

Da pose diplomática destes governantes, faz parte o fechar de olhos à arbitrariedade, à violência e à punição política dos democratas angolanos. Por isso é possível a Luanda prender 13 jovens pela magna ofensa de "desobediência pacífica", encarcerados e proibidos de contactar outros factores de subversão como a obra do escritor Pepetela, que, reza a Imprensa angolana, não pode entrar nas celas do regime. Não são os primeiros - e outros já pagaram com a vida pecados semelhantes.

Em Portugal, quem leva a sério a fraternidade com Angola, não pode suportar o silêncio dos negócios que cala e esconde a repressão.

PASSOS “QUIS FAZER DE NÓS TOLOS”




Socialistas açorianos queixam-se de terem ficado sem resposta do Governo a um conjunto de questões essencias para a região. “O tempo tem estado bom e Passos Coelho decidiu vir aos Açores em campanha eleitoral”

S/Açores considerou hoje ser "inaceitável" que o líder do PSD queira "fazer os açorianos de tolos", deixando sem resposta questões como a quem compete a gestão dos recursos do mar açoriano.

"O tempo tem estado bom e Passos Coelho decidiu vir aos Açores em campanha eleitoral. Que venha, porque é muito bem-vindo, como são, aliás, todos os que vêm por bem. Mas que queira fazer os açorianos de tolos é que é inaceitável", declarou o dirigente André Bradford em conferência de imprensa, na sede do PS/Açores, em Ponta Delgada.

No âmbito da apreciação da proposta de Lei de Bases da Gestão e Ordenamento do espaço marítimo português, a maioria socialista, que sustenta o Governo dos Açores, defende, na gestão do mar dos Açores, a necessidade de garantir uma gestão partilhada dos recursos marinhos. "Por que razão Passos Coelho não quer que sejam os açorianos a gerir todos os recursos do mar dos Açores?", questionou.

O porta-voz da Comissão Permanente do PS/Açores questionou ainda "por que razão Passos Coelho recusou a solidariedade aos açorianos aquando das calamidades de março de 2013 nos Açores", tendo, de acordo com o dirigente socialista, dito ao Governo dos Açores que, se queria ajuda, que "pedisse aos bancos".

André Bradford interrogou o líder nacional dos sociais-democratas sobre a decisão de 67 milhões de euros de transferências do Orçamento do Estado, a título de solidariedade, aos Açores, aquando da alteração da Lei de Finanças das Regiões Autónomas. Os socialistas insulares queriam ainda ver respondido o corte no financiamento à Universidade dos Açores, sem atender à sua natureza arquipelágica e especificidades no contexto das universidades portuguesas.

O PS/Açores questionou ainda, através do deputado André Bradford, as razões pelas quais Passos Coelho não quer que seja a região a gerir os recursos do mar dos Açores. Os socialistas questionaram também o líder do PSD sobre por que razão os açorianos pagam os tratamentos de saúde que têm de realizar no continente quando esses não estão disponíveis na região.

O líder do PSD e chefe do Governo, Pedro Passos Coelho, esteve na segunda-feira nos Açores, designadamente nas ilhas de São Miguel e Terceira, onde deixou a promessa de que se irá empenhar na defesa do setor do leite dos Açores, face à liberalização do mercado da UE, caso venha a ser reeleito.

Lusa, em Expresso

Portugal. "Maioria é o elo mais fraco do embuste que quer deixar tudo na mesma"




O deputado do Bloco de Esquerda defendeu a ação do seu partido no caso do enriquecimento ilícito e acusou a maioria de nada ter feito

Pedro Filipe Soares reagiu, em nome do Bloco de Esquerda, à decisão do Tribunal Constitucional (TC) sobre a proposta do enriquecimento ilícito e reforçou a ideia de que a “maioria nunca quis ter um combate à corrupção na legislação”.

“O Bloco de Esquerda tinha avisado que esta situação ia acontecer”, começou o líder do grupo parlamentar dos bloquistas. Contudo, diz Pedro Filipe Soares que a maioria não teve em conta os avisos do seu partido, o que leva a “concluir que todo este processo foi uma encenação de quem nunca quis combater a corrupção”, garante.

O bloquista frisou ainda que, após o primeiro chumbo do TC, o Bloco apresentou uma proposta constitucional, mostrando aprendizagem com os erros, acusando a maioria de não o ter feito.

“A maioria é o elo mais fraco deste embuste de quem quer deixar tudo na mesma”, conclui Pedro Filipe Soares.

Notícias ao Minuto

Portugal. Declarações de Passos são uma "farsa" e maioria esteve num "fingimento"




O PCP não concorda com o rumo da medida sobre o enriquecimento ilícito e coloca as culpas nos partidos da maioria.

João Oliveira, deputado do Partido Comunista Português, acredita que a maioria PSD/CDS não estava verdadeiramente interessada em combater o enriquecimento ilícito e a corrupção, acusando a oposição de “fingimento”.

“As declarações do primeiro-ministro e de dirigentes do PSD relativamente ao chumbo do Tribunal Constitucional na lei do enriquecimento ilícito são uma farsa”, garante o dirigente comunista.

Na opinião do PCP, “tanto o PSD como o CDS sabiam que estavam a aprovar uma lei inconstitucional e limitaram-se a fingir que estavam preocupados com o combate ao enriquecimento injustificado e com a corrupção”, acusando-os de rejeitarem a proposta apresentada pelo PCP.

O deputado comunista lembra esta foi uma matéria trazida pela primeira vez à Assembleia da República pelo PCP e que foi muito estudada ao longo dos últimos anos.

Quanto à medida agora rejeitada tratou-se de “uma operação de fingimento”. “PSD e CDS estiveram a fingir que estavam interessados em combater o enriquecimento injustificado e a corrupção”, acusa o deputado.

Notícias ao Minuto

Portugal. OS PASSOS EM VOLTA DO MESMO



Paula Ferreira – Jornal de Notícias, opinião

Voltaremos a ser felizes. É o que nos propõe todos os dias Pedro Passos Coelho, primeiro-ministro, em campanha eleitoral. Ou alguém por ele. De cada vez, um bocadinho mais longe. Primeiro, acenaram com a devolução de uma parte da sobretaxa de IRS; agora, todos os rendimentos que nos foram tirados ao longo dos últimos quatro anos - à revelia das regras de um Estado de direito e de qualquer sensibilidade social - ser-nos-ão devolvidos. Os mais pobres não são esquecidos, para eles há promessas douradas: o salário mínimo tem de aumentar. Claro. É pegar ou largar, as eleições aproximam-se.

E não há maior vantagem que essa. Para quem vai a votos e para os eleitores. A promessa é do primeiro-ministro, límpida e apetecível: "Vamos recuperar os nossos rendimentos nos próximos quatro anos. Este ano, já não há cortes nenhuns nas pensões [inferiores a 4600 euros]". Se o atual Governo promete, caso seja eleito, devolver todos os rendimentos, cabe ao atual primeiro-ministro, e cabeça de lista da coligação PSD/CDS, explicar como conseguirá a proeza.

Vai prosseguir o caminho trilhado até agora, ou vai mudar de rumo e iniciar, finalmente, a Reforma do Estado há tanto prometida e nunca sequer ensaiada? Nos últimos quatro anos, baseou toda a política no aumento da receita, através de um brutal aumento de impostos e de um trabalho quase pidesco da Autoridade Tributária. Do lado da despesa, tudo se mantém inalterável: continua a subir, sem parar, como provam os dados mais recentes da execução orçamental, publicados na última sexta-feira. Citando o próprio boletim do Ministério das Finanças, ficamos a saber. "As despesas de investimento aumentaram, no primeiro semestre, 315,7 milhões de euros, sobretudo justificado pelo efeito dos encargos associados às subconcessões rodoviárias". As famigeradas PPP continuam a pesar nas contas do Estado.

Era precisamente aí que Passos Coelho nos devia garantir que iria cortar. Os credores abandonaram Lisboa e nada, afinal, de estrutural mudou. Passos Coelho promete devolver os cortes que fez nos salários dos funcionários públicos e nas pensões, mas não nos diz que vai reformar o Estado. Portanto, teremos mais do mesmo. Quem paga impostos vai continuar a pagar o "êxito" das políticas desta maioria. E quando isso já não for mais possível, porque algum dinheiro de salários os trabalhadores têm de levar para casa, a troika lá estará para aceitar um novo pedido de resgate.

Passos Coelho bem pode querer que acreditemos na sua diabolização de António Costa. Não é preciso tanto. Se ganhar as eleições de outubro, e não mudar de rumo, será ele a levar-nos de regresso ao passado.

Portugal. Crise tirou 3,6 mil milhões aos salários e deu 2,6 mil milhões ao capital




Três economistas, entre eles um perito em contas nacionais, dizem que políticas da crise "expropriaram" rendimentos dos trabalhadores

Luís Reis Ribeiro

Entre o início da crise financeira de 2007/2008 e o final de 2013 assistiu-se, em Portugal, a uma transferência de riqueza do factor trabalho para o capital de grandes proporções, indicam vários economistas.

Pedro Ramos, professor catedrático da Universidade de Coimbra e antigo director do departamento de contas nacionais do Instituto Nacional de Estatística (INE), fez os cálculos e apurou que o peso do trabalho por conta de outrem e por conta própria desceu de 53,2% do produto interno bruto em 2007 para 52,2% em 2013.

Já o excedente de exploração (rubrica que reflete a remuneração do factor capital) - apesar da grave crise que se abateu sobre o Estado, os bancos e as pequenas e médias empresas - aumentou o peso na economia de 27,8% para 29,7% do PIB. As rendas, que traduzem grosso modo o valor da remuneração do imobiliário, avançaram de 5,8% para 6,2%.

Cálculos do Dinheiro Vivo com base naqueles dados, evidenciam que, em termos nominais, o factor trabalho (no qual até já está contabilizado o enorme aumento de impostos dos últimos anos) conseguiu perder 3,6 mil milhões de euros. Já o excedente do capital engordou 2,6 mil milhões de euros.

As contas do economista foram apresentadas em primeira mão, esta semana, no colóquio "A transferência de rendimentos do trabalho para o capital", organizado pelo Observatório sobre Crises e Alternativas, ligado à Universidade de Coimbra.

Nesse encontro, Pedro Ramos, especialista em contabilidade nacional, avançou com esta análise "pouco comum": o PIB na ótica dos rendimentos. As abordagens normais publicadas pelo INE (óticas da procura e da oferta) não permitem este tipo de análise mais fina.

O ojectivo, disse o ex-quadro do INE, é tentar dar pistas mais sólidas sobre o que já há muito se suspeitava: a crise, e em especial o programa de ajustamento da troika, permitiu extrair valor ao factor trabalho ao mesmo tempo que enriqueceu o capital. "Estranho", um "fenómeno novo", referiu.

"Sabemos que nas crises económicas as empresas têm prejuízos, as crises atingem os acionistas. Existe portanto perda de valor ao nível dos excedentes de exploração", observou o académico.

Não foi o que aconteceu. "É especialmente estranho que exista, nesta crise, um aumento do peso do excedente de exploração, rubrica que no fundo reflete a remuneração do capital na economia", observou. Mais: também as rendas do imobiliário reforçaram o peso seja em proporção do PIB, sem em termos nominais. O ganho foi de quase 451 milhões entre 2007 e 2013.

O catedrático de Coimbra recuperou também as estatísticas relativas a 2010 para ter uma noção daquilo que aconteceu durante o programa de ajustamento. Os resultados são ainda mais cristalinos: o peso do factor trabalho na economia caiu dois pontos percentuais; o do factor capital subiu dois pontos.

Para Pedro Ramos, todos estes factos reforçam a convicção de que "está a acontecer uma transferência de riqueza do trabalho para o capital".

Como? Através do desenho de políticas com esse objetivo, diz aquele economista, que foi acompanhado no diagnóstico por outros especialistas.

O factor capital está tão imparável que, em 2013 atingiu um peso recorde (29,7% do PIB) na série histórica compilada por Ramos, que remonta a 1995.

José Castro Caldas, investigador do Centro de Estudos Sociais de Coimbra, e Eugénio Rosa, economista da CGTP, também provam que as políticas seguidas durante os anos do ajustamento extraíram valor ao trabalho de forma pronunciada.

Castro Caldas estima que "as alterações ao Código do Trabalho tenham levado a uma transferência de valor do trabalho para o capital na ordem dos dois mil milhões de euros.

Eugénio Rosa fez contas à função pública e concluiu que este grupo de trabalhadores foi "expropriado" em cerca de oito mil milhões de euros no período em análise por via de cortes remuneratórios, perdas de regalias, aumentos de descontos, etc.

Dinheiro Vivo, em 21.06.2014

“Enquanto a banca for privada, qualquer governo é refém do capital financeiro”




Num pavilhão cheio de simpatizantes da ala esquerda do Syriza, Lafazanis defendeu a saída da Grécia do euro, criticou a estratégia de Tsipras e respondeu à “campanha de difamação” na imprensa, que diz ter como alvo o conjunto do partido e toda a esquerda grega.

“Esta é a altura de apresentar todo o programa da alternativa, que estava escrito no programa do Syriza e que foi em grande medida abandonado pelo governo”, afirmou o ex-ministro da Energia perante uma plateia repleta na sessão pública organizada pela revista da Plataforma de Esquerda em Atenas. Num recado para a imprensa, “que vai apresentar este encontro como um ponto de partida para construir um novo partido”, Panagiotis Lafazanis disse que ele é antes “uma mensagem poderosa de unidade no quadro da nossa diversidade”, sublinhando a urgência dos órgãos partidários se pronunciarem e devolverem ao partido “as suas raízes anti-memorando”.

“O grande argumento que nos deram para justificar a aceitação do memorando é que não havia alternativa. Isto não vos faz lembrar alguma coisa?”, perguntou Lafazanis, recordando que foi a mesma justificação dos anteriores governos quando assinaram os seus memorandos com a troika. “Então porque é que reagimos nessa altura? Porque é que os condenámos nas ruas e prometemos aboli-los? Então afinal não tínhamos uma alternativa?”, prosseguiu. “Ou, pior ainda, teríamos nós a ilusão de que era com súplicas e votos de lealdade ao euro que íamos negociar o abandono das políticas desses memorandos? A saída da catástrofe do memorando foi abandonada para evitar a ‘catástrofe da bancarrota’?”

O que faltou ao governo, diz Lafazanis, foi vontade política para conceber um caminho de saída da zona euro, deixando esgotar as reservas de dinheiro do país enquanto apostava nas negociações que iam de impasse em impasse ao longo de meses, tornando-se na prática uma “presa dos credores”.

Lafazanis defendeu o controlo público da banca da Grécia para desempenhar o papel de apoio à economia. “Enquanto os bancos permanecerem sob controlo e gestão privada, os governos, quaisquer governos, só poderão ser reféns do capital financeiro”, argumentou, lembrando que só agora estão a ser investigados a fundo os escândalos que envolvem alguns dos principais bancos gregos das últimas décadas.

O líder da Plataforma de Esquerda falou também da importância de manter na esfera pública as empresas estratégicas do país, reafirmando a “recusa das privatizações previstas no novo memorando”, nomeadamente dos portos do Pireu e Salónica, dos aeroportos regionais, dos terrenos do anterior aeroporto internacional e da rede elétrica. Uma reforma fiscal que comece a combater a evasão e medidas que garantam a transparência na propriedade dos media foram outras propostas apresentadas por Lafazanis, em ambiente de comício pré-eleitoral.

“A UE e a zona euro viraram as costas à democracia”

Questionando os presentes sobre se esta alternativa à austeridade poderia ser posta em prática dentro da moeda única, Lafazanis não deixou espaço para dúvidas: “É óbvio que isto entra em conflito com as forças que dominam a zona euro e não pode existir sem vontade política e um plano político de saída da zona euro”.

“Esta posição que a Plataforma de Esquerda defendeu desde sempre é agora entendida por cada vez mais gente”, prosseguiu o ex-ministro e atual deputado do Syriza, concluindo que “não podemos desafiar os memorandos e a austeridade, muito menos o neoliberalismo, se não pusermos em causa ao mesmo tempo a zona euro e a presença do nosso país nela”.

Respondendo à propaganda que apresenta a saída do euro como “uma entrada no inferno”, Lafazanis deu os exemplos de economistas como Krugman e Stiglitz, que defendem que a decisão de regressar à moeda nacional não conduz ao desastre. Pelo contrário, sugere Lafazanis, “se for acompanhada das medidas progressistas que defendemos”, poderá rapidamente suplantar os efeitos negativos na economia, aumentando as exportações e a substituição de importações, impulsionar o setor do turismo, aumentar a liquidez na economia necessária à reconstrução produtiva e ao crescimento.

“Recomendamos este passo abertamente ao Syriza e à sociedade grega”, anunciou Lafazanis, propondo um debate interpartidário “livre, sóbrio, sem preconceitos, demonizações nem alarmismos”.

Esta sessão pública organizada pela revista Iskra contou também com intervenções de outras figuras da Plataforma de Esquerda e do ex-eurodeputado e herói da resistência ao nazismo Manolis Glezos e foram recebidas mensagens de solidariedade do escritor Tariq Ali, os economistas Claudio Katz e Samir Amin, dos deputados Fabio de Masi (Die Linke/Alemanha) e Dov Khenin (PC/Israel), do PSOL brasileiro e da Marea Socialista venezuelana.

InfoGrécia

A TROIKA VOLTOU A ATENAS… E FICOU PRESA NO ELEVADOR – com vídeo




O vídeo documenta a situação em que se viram envolvidos dois dos funcionários da troika (que passou a quarteto, com a entrada dos representantes do Mecanismo de Estabilidade Europeu) que inspecionavam uma instituição das finanças gregas. Durante meia hora ficaram presos no elevador e foi preciso chamar os bombeiros para resolver a situação.

InfoGrécia


A TURQUIA EM PERIGO



Thierry Meyssan*

Enquanto a imprensa ocidental saúda a autorização dada pela Turquia aos Estados Unidos afim de utilizar as suas bases militares para combater o Daesh, Thierry Meyssan analisa as tensões internas no país. Segundo ele, a manutenção de Erdoğan no poder, junto com a ausência de nova maioria aquando das próximas eleições parlamentares, conduzirá, de imediato, à guerra civil.

Desde há uma quinzena de anos que George Friedman, o fundador da agência de privada de inteligência Stratfor, tenta persuadir os dirigentes ocidentais que os BRICS não jogarão papel importante no XXIº século, mas, que a Turquia islâmica o fará [1]. Friedman é um antigo colaborador de Andrew Marshall, o estratega do Pentágono de 1973 a 2015 [2].

A propaganda a favor do islamismo turco, como modelo económico e político, foi reforçada pelo patronato islâmico turco, via certas personalidades francesas que se deixaram corromper (Anne Lauvergeon, Alexandre Adler, Joachim Bitterlich, Hélène Conway-Mouret, Jean Francois Cope, Henri de Castries, Augustin de Romanet, Laurence Dumont, Claude Fischer, Stéphane Fouks, Bernard Guetta, Elisabeth Guigou, Hubert Haenel, Jean-Pierre Jouyet, Alain Juppé, Pierre Lellouche, Gérard Mestrallet, Thierry de Montbrial, Pierre Moscovici, Philippe Petitcolin, Alain Richard, Michel Rocard, Daniel Rondeau, Bernard Soulage, Catherine Tasca, Denis Verret, Wilfried Verstraete, para só citar estes).

No entanto, a Turquia está agora à beira da implosão, a ponto da sua sobrevivência como Estado estar directamente ameaçada.

O projecto de desmantelamento da Turquia

Em 2001, os estrategas straussianos do departamento da Defesa delineavam uma remodelação do «Médio-Oriente Alargado», que previa a divisão da Turquia em benefício de um Curdistão independente, reunindo os curdos da actual Turquia com os do Iraque e do Irão. Este projecto supunha a saída da Turquia da Otan, a reconciliação entre as tribos curdas, a quem tudo separa— aí incluindo a língua —e consideráveis deslocamentos de população. O Coronel Ralph Peters evocou este plano num artigo da Parameters, logo em 2001, antes de a publicar em mapa, em 2005. Peters é um discípulo de Robert Strausz-Hupé, o antigo embaixador dos Estados Unidos em Ancara, e o teórico do Novus orbis terranum (a «Nova Ordem Mundial») [3].

Este projecto insano ressurgiu, há um mês atrás, com o acordo israelo-saudita, estabelecido à margem dos negociadores dos 5+1 sobre o nuclear iraniano [4]. Telavive e Riade contavam com a Turquia para derrubar a República Árabe Síria. Na realidade, Ancara tinha-se firmemente empenhado neste sentido, logo que a Otan completara a transferência do Landcom (comando conjunto das Forças Terrestres) para Esmirna, em julho de 2013 [5]. Sentindo-se de mãos atadas pela passividade norte-americana, Erdoğan havia, então, organizado o bombardeamento químico, sob falsa bandeira, da Ghouta (zona rural dos arredores de Damasco- ndT), para forçar a Otan a intervir. Mas em vão. Ele repetiu um ano mais tarde, prometendo usar a Coligação Internacional anti-Daesh para tomar Damasco. Israel e a Arábia Saudita, que têm suportado os custos destas promessas, não cumpridas, não terão qualquer escrúpulo em provocar a guerra civil na Turquia.

A mudança de política em Washington

No entanto, dois factores parecem opôr-se ao desmantelamento da Turquia.

Primeiro, o próprio secretariado da Defesa. A entrada do novo estratega, o coronel James H. Baker, que não é um straussiano, na saída de Andrew Marshall. Ele raciocina no quadro dos princípios da paz de Westfália e orienta o Pentágono para uma confrontação de tipo Guerra fria [6]. A visão de Baker corresponde à da nova National Military Strategy(Estratégia Nacional Militar- ndT) [7]. Além disso, ela é partilhada pelo novo chefe de estado-maior inter-armas, o general Joseph Dundord [8]. Por outras palavras, o Pentágono teria abandonado a «estratégia do caos» [9] e desejaria agora apoiar-se, de novo, na acção dos Estados.

Em segundo lugar, preocupada pelo possível deslocamento do Emirado islâmico («Daesh») do Levante para o Cáucaso, a Rússia negociou —com a concordância de Washington— um acordo entre 

• a Síria (actualmente atacada pelo Daesh),
• a Arábia saudita (actual principal financiadora da organização terrorista)
• e a Turquia (que assegura o comando operacional da organização).

Este plano foi apresentado, a 29 de junho, pelo presidente Vladimir Putin ao ministro sírio dos Negócios Estrangeiros, Walid Mouallem, e à conselheira especial do presidente Bachar el-Assad, Bouthaina Shaaban [10]. Ele foi imediatamente seguido de trocas entre as partes.

• A 5 de julho, uma delegação dos serviços secretos sírios foi recebida pelo príncipe herdeiro saudita, Mohamad ben Salman.
• A Turquia recebeu um emissário oficial de Damasco, e, depois enviou o seu a Damasco. 
Após a assinatura do acordo dos 5+1, parou o seu apoio ao Daesh e prendeu 29 passadores [11].

Dois tipos de desenvolvimento são, pois, actualmente possíveis: seja uma deslocação da guerra da Síria para a Turquia, seja uma coordenação regional contra o Daesh.

A situação na Turquia

Seja como fôr, a Turquia transformou-se no decurso destes últimos quatro anos.

Primeiramente, a sua economia afundou-se. O seu envolvimento na guerra contra a Líbia privou-a de um dos seus principais clientes, e ela não tirou daí nenhum benefício porque esse cliente se tornou insolvente. O seu envolvimento na guerra contra a Síria foi menos dramático, porque o mercado comum sírio-iraniano-turco estava ainda em fase embrionária. Mas, o efeito acumulado destas duas guerras quebrou o crescimento do país, que está a ponto de tornar-se negativo. Por outro lado, uma parte da economia da Turquia está actualmente baseada na venda de produtos fabricados para as grandes marcas europeias, que são desviados dos circuitos comerciais legais sem o conhecimento dos seus comanditários. Esta pirataria maciça traz, agora, dano à economia da União Europeia.

Em segundo lugar, para conservar o poder Recep Tayyip Erdoğan preveniu-se de um golpe militar prendendo oficiais superiores e acusando-os de conspirar contra o Estado. Numa primeira fase, ele atirou-se à rede Gládio da Otan (Ergenekon na sua versão turca) [12]. Depois, numa segunda etapa, ele mandou prender os oficiais que, com o fim da Guerra Fria, encaravam uma mudança de alianças e tinham estabelecido contactos com o Exército Popular Chinês, acusando-os de pertencer ao mesmo grupo do Ergenekon, o que não fazia qualquer sentido [13]. Em última análise, como resultado destas purgas, a maioria dos oficiais superiores foi presa e encarcerada. Com o golpe, os exércitos turcos ficaram enfraquecidos e perderam a sua atração no âmbito da Otan.

Em terceiro lugar, a política islamista da administração Erdogan dividiu profundamente o país e fez nascer um ódio, primeiro entre laicos e religiosos, depois entre as comunidades sunitas, os curdos e alevitas. De tal modo que o paralelo com o cenário egípcio, que eu evoquei há mais de um ano, torna-se hoje em dia possível [14]. A Turquia tornou-se um barril de pólvora. Bastará uma faísca para fazer rebentar uma guerra civil que ninguém poderá parar, e que devastará o país de forma permanente.

Em quarto lugar, a rivalidade entre o clã islamita Erdoğan, o Millî Görüş (criado nos anos 70 pelo antigo primeiro-ministro Necmettin Erbakan), e o Hizmet de Fethullah Gülen destruiu o partido no poder, o AKP. As duas escolas partilham a mesma visão obscurantista do Islão (Islã-br), mas, Fethullah Gulen (que agora vive nos Estados Unidos) foi recrutado para a CIA, por Graham E. Fuller, e prega uma aliança de crentes em redor da Otan cristã e de Israel, enquanto o Millî Görüş defende o supremacismo muçulmano. Além disso, não se percebe como os seguidores do ex-presidente Turgut Özal (igualmente islamistas, e como tal membros do AKP, mas favoráveis ao reconhecimento do genocídio arménio, à igualdade em direito dos curdos, e a uma federação de estados turcófonos da Ásia Central) iriam continuar a vincular o seu futuro ao de Erdoğan.

Em quinto lugar, ao aceitar a proposta do presidente Vladimir Putin para a construção do gasoduto Turkish Stream, o presidente Erdoğan atacou directamente a estratégia global dos Estados Unidos. Na realidade, este gasoduto, se for para a frente, abrirá uma via de comunicação continental e ameaçará a doutrina do «contrôlo de espaços comuns», através da qual Washington mantém a sua supremacia sobre o resto do mundo [15]. Ele permitirá à Rússia contornar o caos ucraniano e, por outro lado, ultrapassar o embargo europeu.

A Otan não quer mais continuar o jogo

Se os laços pessoais de Erdoğan com a al-Qaida foram demonstrados pela Justiça turca, não resta mais a menor dúvida que ele dirige pessoalmente o Daesh. De facto : A organização terrorista é, oficialmente, comandada por Abu Bakr al-Baghdadi. Mas este personagem só é colocado à cabeça porque é um membro da tribo de Qurays e, portanto, um descendente do Profeta. O comando executivo foi confiado a Abu Alaa al-Fadel e Fadel al-Hayali (chamado Abu Muslim al-Turkmani), dois Turcomenos agentes do MIT (serviços secretos turcos). Os outros membros do estado-maior são originários da antiga URSS. As exportações de petróleo em bruto, que foram recentemente retomadas, em violação da Resolução 2701 do Conselho de Segurança da Onu, não são mais asseguradas pela Palmali Shipping & JSC, a companhia do bilionário turco-azeri Mubariz Gurbanoğlu, mas pela BMZ Ltd., a empresa de Bilal Erdoğan, o filho do presidente. Os importantes cuidados aos jiadistas feridos do Daesh são fornecidos pelo MIT, na Turquia, num hospital clandestino situado em Sanliurfa e colocado sob a supervisão de Sümeyye Erdoğan, a filha do presidente [16].

Foi por isso que, no dia 22 de julho, o presidente Barack Obama telefonou ao seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdoğan, e o ameaçou a sério. Segundo as nossas informações, o presidente norte-americano disse ter acordado com o Primeiro-ministro britânico, David Cameron, a exclusão da Turquia da Otan – o que implica a guerra civil e a divisão em dois Estados— se a Turquia.

1. não rompe imediatamente o acordo sobre o gaz com a Rússia ;
2. não participa, de imediato, na coligação internacional anti-Daesh.

O presidente Erdoğan que tem uma formação islâmica, mas não uma política [17], reagiu ao mesmo tempo tentando acalmar Washington e prosseguindo os seus caprichos. 

1. A Turquia autorizou a Otan a utilizar as suas bases em território turco para a luta contra o Daesh, prendeu os passadores do Daesh, e participou de bombardeios simbólicos contra o Daesh na Síria;
2. Mas, por outro lado, Erdoğan empreendeu esforços bem mais importantes contra a sua oposição curda que contra o Daesh, bombardeando maciçamente as posições do PKK no Iraque e prendendo membros do PKK na Turquia. O PKK respondeu com um comunicado lacónico registando que o Governo acabava de reiniciar, unilateralmente, as hostilidades;
3. Ignoramos, de momento, as decisões relativas ao gasoduto Turkish Stream.

Chegamos, agora, ao limite dos 45 dias de prazo constitucional, no termo do qual o chefe do principal grupo parlamentar deverá constituir um governo. Como os três principais partidos da oposição, aconselhados pela embaixada dos Estados Unidos, se recusaram juntar com o AKP, Ahmet Davutoglu não teve êxito. Novas eleições legislativas deverão ser convocadas. Tendo em conta, por um lado a divisão do AKP (islamitas) e por outro, o ódio entre o MHP (conservadores) e o HPD (esquerda e curdos), será difícil encontrar uma maioria. Se for este o caso, ou se o AKP conseguir manter-se no poder, a Turquia entrará em guerra civil.

Thierry Meyssan* - Tradução Alva - Voltaire.net

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Na foto: R.T.Erdoğan perdeu o contrôlo da situação

Notas
[1] The Next 100 Years: A Forecast for the 21st Century (Ing- « Os Próximos Cem Anos : Uma Projecção para o Século 21»- ndT), George Friedman (2009).
[2] “Depois de 42 anos, Andy Marshall deixa o Pentágono”, Tradução Alva,Rede Voltaire, 26 de Janeiro de 2015.
[3] A propósito dos trabalhos de Strausz-Hupé e de de Peters, é de se reportar a L’Effroyable imposture 2, pp.117-224.
[4] “Os projectos secretos de Israel e da Arábia Saudita”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 22 de Junho de 2015.
[6] “Ashton Carter nomeia o novo estratega do Pentágono”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 23 de Maio de 2015.
[7] « L’Europe encore en première ligne », par Manlio Dinucci, Traduction Marie-Ange Patrizio, Il Manifesto (Italie), Réseau Voltaire, 16 juillet 2015.
[8] “O general Dunford aponta a Rússia como a ameaça principal”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 16 de Julho de 2015.
[9] “Stumbling World Order and Its Impacts”, by Imad Fawzi Shueibi,Voltaire Network, 5 April 2015.
[10] “A Rússia puxa a brasa às suas sardinhas”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 13 de Julho de 2015.
[11] “Primeiras consequências do acordo 5+1”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 20 de Julho de 2015.
[12] « Ergenekon : une légende urbaine ? », par Orhan Kemal Cengiz;. «L’organisation Ergenekon mise en cause pour ses relations privilégiées avec Hizb ut-Tahrir », par Mutlu Özay et Mustafa Turan, Traduction Nathalie Krieg, Today Zaman (Turquie), Réseau Voltaire, 9 juillet et 3 août 2009.
[13] “Turquia : O Golpe de Estado Judicial do AKP”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Diário Liberdade (Portugal), Rede Voltaire, 19 de Agosto de 2013.
[14] “A divisão da Turquia”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 31 de Março de 2014.
[15] “The Geopolitics of American Global Decline”, by Alfred McCoy, Tom Dispatch (USA), Voltaire Network, 22 June 2015.
[16] « Le rôle de la famille Erdoğan au sein de Daesh », Réseau Voltaire, 26 juillet 2015
[17] “Em direção ao fim do sistema Erdoğan”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 17 de Junho de 2015.

Político indiano faz em Oxford defesa robusta de reparações e recebe apoio do primeiro-ministro



Colonialismo e escravatura

Político indiano faz em Oxford defesa robusta de reparações e recebe apoio do primeiro-ministro

Alberto Castro, Londres

O primeiro-ministro indiano, Narenda Modi, apoia as reivindicações para que a Grã-Bretanha pague reparações pelos danos causados durante o domínio colonial.

O posicionamento de Modi surge na sequência de um vídeo de Shashi Tharoor, político e escritor indiano, postado no YouTube no passado 14 de julho e que rapidamente se tornou viral, com mais de dois milhões de visualizações e provocando um vigoroso e debate online. No vídeo, de 15 minutos, Tharoor defendeu, em robusto argumento em favor da reparação, que o Reino Unido deve compensar economicamente as suas antigas colônias, para com as quais tem igualmente uma dívida moral. Ele foi um dos oradores convidados pela Oxford Union Society, uma associação de debates na cidade de Oxford, Inglaterra, para a defesa favorável da moção ''Esta casa crê que a Grã-Bretanha deve reparações às suas antigas colônias'', evento realizado em 28 de Maio último. 

"A ascensão da Grã-Bretanha por 200 anos foi financiada pelas suas depredações na Índia'', disse Tharoor argumentando que os indianos ''pagaram literalmente pela sua própria opressão'' na medida em que, sustenta, no final do século 19 a Índia tornara-se na maior vaca leiteira do Império Britânico, seu maior produtor e exportador de bens a nível mundial e fonte de empregos altamente pagos para funcionários britânicos.

Mas o assunto só ganhou destaque nas mídias britânicas e mundial quando em evento no parlamento de Nova Deli na última quinta-feira, o primeiro ministro Narendra Modi, com visita prevista para Londres no final do ano, elogiou assim a reivindicação do compatriota: '' O discurso de Tharoor refletiu os sentimentos de patriotas indianos sobre o assunto e mostrou quanta impressão alguém pode deixar com argumentos efetivos ao dizer coisas certas no lugar certo'', citado pela imprensa inglesa.

Quanto ao grande debate da Oxford Union, associação independente da famosa universidade mas cujos membros derivam primeiramente dela, ele foi justificado pela organização como necessário perante crescentes reclamações para compensações às antigas colônias por séculos de exploração e abuso. Lembrando posicionamentos prós e contras de políticos britânicos sobre o assunto, a Oxford Union perguntou: ''Devem os políticos britânicos mais do que suas palavras?'' 

A reivindicação de reparações aos países afetados pelo passado colonial da Inglaterra e pela sua participação no comércio transatlântico de escravos sempre foi um tema presente desde o fim do Império mas quase todos os governantes britânicos sempre se mostraram relutantes e mesmo desconfortáveis no tratamento do assunto. Poucos o abordam com firmeza e seriedade.   

Em 2007 o trabalhista Ken Livingstone, então prefeito de Londres, em um discurso emotivo alusivo ao aniversário dos 200 anos de abolição da escravatura, pediu sinceras desculpas pelo papel da cidade no comércio de escravos. ''É chocante que o nosso país tenha uma vez participado na venda de seres humanos em grande escala'', escreveu o conservador William Hague, autor da biografia sobre William Wilbeforce, famoso ativista pela abolição da escravatura, em um artigo publicado no ano passado no Evening Standard. No entanto, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros, não foi além das palavras quando em 2013 foi pressionado para o fazer pelos países do Caricom, bloco de cooperação política e econômica do Caribe. Em uma nota o seu gabinete nada mais fez do que lamentar as iniquidades da escravatura, considerando a mesma um assunto do passado fora da responsabilidade de governos de hoje.
    
Voltando ao debate, além do político indiano, o painel em favor da moção contou com Aloun Ndombet Assamba, advogado, político e diplomata jamaicano, George Ayittey, economista e autor ganense, fundador e presidente do Free Africa Foundation. Do lado oposto estiveram Richard Ottaway, político conservador inglês e ex-presidente do Comitê  dos Assuntos Estrangeiros, William Roger Louis, historiador americano do Império Britânico e John M MacKenzie, historiador britânico.

Contrariando o argumento que sugere que compensações não ajudariam as pessoas certas, que houve sacrifícios de ambos lados e que, pelo contrário, poderiam mesmo ser usadas como instrumentos de propaganda política e de encorajamento de ditadores como Robert Mugabe, Tharoor usou de humor para lembrar que antigamente no Caribe se costumava a assustar as crianças mal comportadas com o fantasma de Francis Drake, famoso corsário e pirata elisabetiano. ''Agora dizem que o Mugabe vem aí. Ele é uma espécie do Drake dos nossos tempos''. disse arrancando risos e aplausos da audiência, como em quase toda a sua fala.
  
Usou de uma analogia para criticar os que falam jubilosamente em sacrifícios de ambos os lados: ''O ladrão chega em tua casa, arromba a porta e despoja-a violentamente e você diz que o que aconteceu foi sacrifício de ambos os lados. Lamento dizê-lo mas esse não é um argumento aceitável'', disse obtendo mais ovações.

Dizendo-se preparado para aceitar o argumento de que ''não se pode calcular uma quantia exata'' para avaliar as formas de horror que as pessoas sofreram salientou porém a premissa de que as reparações não devem ser consideradas como uma "ferramenta para capacitar"alguém, mas sim como um instrumento através do qual os britânicos podem "expiar" pelos pecados do passado. ''O problema é que existe uma dívida e ela deve ser reparada'', salientou nas suas conclusões finais. Esgrimidos os argumentos prós e contras, a moção  terminou com uma votação de 185 contra 56 favorável ao lado de Thaoor.

Mas dois pontos do discurso do político indiano mereceram reparos de um conhecido compatriota seu, o editor, colunista e escritor Minhaz Merchant. Em um artigo de opinião publicado na passada quinta-feira (23) no DailyO, um portal de opinião online do conglomerado midiático India Today, ele subscreve a validade de quase todos os argumentos do compatriota mas defende que não basta um pedido de desculpas e que a dívida da Grã-Bretanha à Índia pode ser quantificada, rondando hoje a casa de três trilhões de dólares americanos.

Para o colunista, o comércio de escravos é ''um dos grandes segredos escondidos da colonização britânica'' e a África, atingida duas vezes pela rapacidade europeia (primeiro pelo comércio de escravos, depois pela divisão colonial do continente no século  19), ainda não desenvolveu estudos acadêmicos históricos para lidar com o assunto e expor os horrores completos do tráfico de escravos.  Merchant sustenta que a razão para que não seja pedida uma desculpa oficial aos africanos é que a mesma abriria comportas para imensas reparações financeiras e substanciais danos punitivos que levariam os europeus à bancarrota.

Eis alguns dos pontos da argumentação de Shashi Tharoor:

Economia e desindustrialização da Índia

Quando os britânicos chegaram à costa da Índia no inicio do século 18, a quota deste país na economia mundial era de 23%, tão grande quanto a de toda a Europa junta. No momento de sua saída ela diminui para menos de 4% pela simples razão da Índia ter sido governada para o benefício da Grã-Bretanha cuja ascensão nos 200 anos seguintes foi financiada à custa da depredação da ex-colônia. 

A Revolução Industrial britânica foi feita com a desindustrialização da Índia cuja industria têxtil foi destruída e substituída pela manufatura na Inglaterra usando matéria prima indiana e exportando o produto final de volta, à semelhança do que fez com outras ex-colônias. Tecelões indianos tornaram-se em pedintes e em vez de grande exportador de produtos têxteis acabados a Índia tornou-se em um importador de produtos britânicos ao mesmo tempo que a sua cota de exportação mundial caía de 27% para 2%. 

A desumanidade de Churchill 

Enquanto a Grã-Bretanha explorava impiedosamente a Índia, entre 15 a 29 milhões de indianos morriam de forma trágica, mortes desnecessárias em resultado da fome. A última fome em larga escala a ter lugar na Índia foi quando o país estava sob domínio britânico. Cerca de quatro milhões de bengalis morreram na Grande Fome de Bengala em 1943 depois de Winston Churchil ter deliberadamente ordenado o desvio de alimentos de civis indianos famintos para soldados britânicos bem equipados e para estoques europeus. ''A fome de uns bengalis mal alimentados é menos séria de que a de gregos resistentes''- disse o tão celebrado herói inglês. Quando alguns oficiais conscientes alertaram em telegrama o então primeiro-ministro sobre a escala da tragédia causada por suas decisões, a única resposta de Churchill foi perguntar irritadamente: ''Porque Gandhi ainda não morreu?''. 

O mito do despotismo iluminado

O imperialismo britânico justificou-se a ele mesmo com o pretexto de que era um despotismo iluminado, conduzido para  o benefício dos governados. A conduta desumana de Churchill em 1943 desmascarou este mito. Violência e racismo eram a realidade da experiência colonial. Não admirava que o sol nunca se punha no Império britânico porque nem mesmo Deus confiaria nos ingleses na escuridão. O imperialismo britânico triunfou não apenas por conquista e fraude em grande escala, mas por fazer explodir os rebeldes aos bocados das bocas dos canhões, massacrando manifestantes desarmados em Jallianwala Bagh e sustentando a iniquidade através de um racismo institucionalizado. Nenhum indiano na era colonial foi autorizado a sentir-se britânico, sempre foi um vassalo, nunca um cidadão.

Vangloriação de colonialistas e escravocratas

Um quinto da elite britânica victoriana deve o seu dinheiro ao transporte de 3 milhões de africanos através do Atlântico. Quando da abolição da escravatura nas colônias britânicas em1833, o que aconteceu foram compensações de 20 milhões de libras esterlinas pagas na altura pelo governo britânico como reparação aos que perderam suas propriedades, entre eles John Gladstone.(I)  Nenhuma compensação para os escravizados que sofreram, foram oprimidos e perderam suas vidas.

Por seu turno, colonialistas como Robert Clive (II) compraram ''burgos carcomidos'' na Inglaterra com o produto de suas pilhagens na Índia. Gabavam publicamente de sua autocontenção em não roubar mais do que fizeram. E os britânicos tiveram a ousadia de o chamar de ''Clive da Índia'', como se ele pertencesse ao país, quando o que ele realmente fez foi assegurar-se de que grande parte do país o pertencia.  

Estradas e Ferrovias 

A construção dos Ferroviárias e estradas é muitas vezes apontado como uma dádiva do governo britânico, ignorando o fato óbvio de que muitos países construíram estradas e caminhos de ferro sem terem de ser colonizados para o fazer. Não foram construídas para servir populações locais mas para servir os interesses britânicos, para transportar matérias-primas do interior para os portos e serem depois embarcadas para a Grã-Bretanha. A necessidade de movimento das populações locais eram acidentais, exceto quando servia interesses coloniais. Nenhum esforço foi feito para garantir que o transporte de matérias primas combinasse com a demanda de transporte para pessoas. Na verdade, as ferrovias indianas foram construídas com imensos incentivos oferecidos pelo governo britânico ao seus investidores e garantidos com impostos da Índia pagos pelos indianos. Em consequência o custo de uma milha de uma ferrovia indiana era o dobro de uma milha no Canadá e na Austrália porque havia muito dinheiro sendo pago para retornos extravagantes. A Grã-Bretanha obteve todos os lucros, controlou a tecnologia e forneceu todo o equipamento. Os benefícios resultaram da iniciativa privada britânica e do risco público indiano

Ajuda britânica e democracia 

Em anos recentes, mesmo com o debate sobre reparações a aumentar de tom, políticos britânicos têm, de facto, se perguntando se países como a Índia devem ainda receber ajuda econômica básica às custas do contribuinte britânico. Para começar, a ajuda recebida é de 0,4%, o que é menos da metade de 1% do PIB da Índia. A ajuda britânica, que está longe de montantes que um debate reparação lançaria, é apenas uma fração do subsídio de fertilizantes da Índia aos seus agricultores, o que pode ser uma metáfora apropriada para este argumento. Os britânicos podem ver o nosso amor pelo cricket ou pelo idioma inglês, ou até mesmo pela democracia parlamentar, evocando memórias do Raja como em séries de televisão como Indian Summers, com Simla, festas no jardim e indianos gentis. Para muitos indianos, no entanto, é uma história de pilhagem, massacres, derramamento de sangue, do desterro do último imperador Mogol em um carro de boi para a Birmânia. É um pouco enriquecedor oprimir, escravizar, matar, torturar, mutilar pessoas por 200 anos e no finalcomemorar o fato de que eles são democráticos. A democracia foi-nos negada, por isso tivemos de arrebatá-la, apreendê-la de vocês. 

A Índia nas guerras mundiais

A Índia contribuiu com mais soldados para as forças britânicas que lutaram na Primeira Guerra Mundial do que a Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul juntos. Um sexto de todas as forças britânicas era indiana e 54 mil indianos perderam suas vidas. Apesar de sofrer recessão, pobreza e uma epidemia de gripe, as contribuições da Índia em dinheiro, pessoal e material diverso amontam para 8 bilhões de libras esterlinas em dinheiro de hoje.

Dois milhões e meio de indianos também lutaram pelos britânicos na Segunda Guerra Mundial. Do total da dívida de 3 bilhões de libras (em 1945) da Grã-Bretanha, 1,25 bilhão é devido à Índia. Ainda não foi paga.
Devolução do diamante Koh-i-Noor

Tanto quanto sei, a capacidade de reconhecer um erro do passado, o simples pedir de desculpas vai muito além de alguma percentagem do PIB em forma de ajuda. O que é importante não é o quantidade das reparações que o Reino Unido deve pagar, mas o princípio da expiação. Pessoalmente ficarei feliz com uma libra por ano pelos próximos duzentos anos como sinal de desculpas. E talvez a Grã-Bretanha pudesse gentilmente devolver o diamante Koh-i-Noor ao país do qual ele foi tirado!

Notas:
(I) Esclavagista e mercador escocês, pai de William Gladstone, político do século 19 que foi quatro vezes primeiro-ministro. Um estudo da UCL, Universidade de Londres, publicado em 2013 no The Independent com o título ''Vergonha colonial britânica'', mostra que cerca de 3,000 famílias britânicas beneficiaram de 20 milhões de libras em compensações pagas em resultado da abolição da escravatura. Entre elas, antepassados do atual premiê David Cameron. John Gladstone teria recebido o equivalente a 83 milhões de libras hoje como ressarcimento pela perda dos 2,508 escravos que tinha espalhados nas suas nove plantações na Jamaica e na Guiana, a maior de todas as compensações pagas pelo então governo britânico. O filho esteve fortemente envolvido nas reclamações do pai, segundo o estudo.
(II) Oficial inglês tido como o responsável por garantir a Índia para a Coroa Britânica. 

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