As
absurdas políticas adotadas no setor elétrico, desde o famigerado FHC e que
prosseguiram sem muita alteração nos governos petistas, conduzindo o país a um
desastre de múltiplas facetas, podem ser resumidas deste modo: energia precária
e caríssima num país que tem tudo para produzi-la em abundância e em condições
mais do que competitivas em matéria de preço.
Ficaram
queixando-se do câmbio a propósito da desindustrialização do Brasil, mas essa
decorre, em primeiro lugar, de as transnacionais dominarem os mercados no
Brasil, devido à política do modelo dependente, implantada desde agosto de
1954, e, em segundo lugar, do tal custo Brasil, em que os custos da energia e
dos transportes são fatores de grande peso.
Em
relação a isso, não vejo outra explicação senão o fato de o Brasil não ter
instituições políticas que lhe permitam ter autonomia e soberania e, assim,
adotar políticas que tenham algo em comum com os interesses nacionais. De outro
modo, seria estupidez demais para ser verdade.
Ou
nos conscientizamos de não haver chance de modificar essa situação sob o atual
sistema político, e partimos para uma união nacional consolidada por outro
modelo político – sem isso, não adianta falar em mudar de modelo econômico, e o
que temos decorre da absurda concentração do poder financeiro e econômico, nas
mãos de poucos banqueiros (associados ao cartel financeiro da oligarquia
anglo-americana) e de carteis de empresas transnacionais – ou prosseguiremos na
vergonhosa desintegração em que se está afundando.
Ronaldo
Barata tem razão ao apontar a privatização da Vale Rio Doce como o maior
escândalo já perpetrado nesta República amarrada por instituições manietadas
pelo império anglo-americano. Nela só funciona uma democracia formal, sem
conteúdo democrático nem republicano nem nacional, na qual os resultados das
urnas só são acatados pelo sistema real de poder (financeiro, mediático etc.),
se servirem para aumentar a concentração econômica, a desindustrialização e a
desnacionalização.
Mesmo
com a manipulação enorme que o império faz não só através da mídia, mas também
pela cooptação de diferentes tipos de associações, entidades, centros de estudo
etc., que são formadores de opinião, o sistema de poder não conseguiu evitar
que líderes nacionalistas tivessem maioria eleitoral, como foi o caso de
Brizola, mais de uma vez.
Uma
das ilustrações históricas mais nítidas da posição singular do líder gaúcho foi
o conjunto de campanhas midiáticas, fraudes e pressões sobre eleitores etc.,
empregado pelo sistema de poder, a fim de evitar que Brizola passasse ao
segundo turno das eleições presidenciais de 1989, o que teve duas consequências
fatídicas, além de retirar Brizola do primeiro plano da política.
Então,
em estados como Minas Gerais e Bahia, houve adulteração dos resultados na
computação por parte dos tribunais eleitorais, além de golpes como a retirada
dos transportes em zonas nas quais o eleitorado brizolista tinha grande
maioria, impedindo-o de chegar aos locais de votação. Conheci militantes nesses
estados que votaram em urnas nas quais apareceu o resultado zero para Brizola.
Resumindo,
os adversários do Brasil, conscientes de que iludiriam os demais, conseguiram
assegurar a eleição de Collor, que desencadeou o primeiro tsunami de medidas de
destruição das instituições de Estado e de estatais fundamentais para o
desenvolvimento nacional (o segundo tsunami, notório, foram os dois mandatos de
FHC, conquistados ambos por fraude: um com a farsa do real; o outro ocultando o
resultado desastroso dos quatro primeiros anos e comprando a emenda da
reeleição); e firmar Lula como suposta alternativa da esquerda e de oposição
aos notórios agentes dos interesses do império anglo-americano.
Notável
como o resultado manipulado das eleições no primeiro turno da eleição de fins
de 1989 foi decisivo para os acontecimentos destes 26 anos decorridos até o
presente, e explica por que o sistema imperial jogou tudo para que Brizola
caísse para o terceiro lugar e ficasse fora do segundo turno.
Claro
que, se Brizola fosse eleito, provavelmente não conseguiria atingir plenamente
seus objetivos, dada a oposição no Congresso e os boicotes por parte de todos
os redutos em que o poder entreguista está infiltrado nas demais instituições
públicas e privadas.
Mas
talvez, não sendo um acomodado, diante disso Brizola talvez tivesse liderado
alterações institucionais, como teria podido ter feito, em 1961, se João
Goulart não tivesse aceitado acordo com as raposas ditas centristas, do tipo
Tancredo Neves, Ulysses e outras. Era seguir de São Paulo, onde já havia
chegado, rumo a Brasília e pôr ordem na casa.
Infelizmente,
o próprio Vargas também perdeu oportunidades históricas, devido a seu espírito
conciliador. O império usa seus agentes, para acordos, mas está sempre
preparado para fazer trair esses acordos. Estude-se a história do império
romano e de muitos outros depois dele, e verifique-se que isso nunca mudou.
*Adriano
Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento.
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