quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Brasil. REFLEXÕES SOBRE A CONCENTRAÇÃO DO PODER FINANCEIRO E ECONÔMICO




As absurdas políticas adotadas no setor elétrico, desde o famigerado FHC e que prosseguiram sem muita alteração nos governos petistas, conduzindo o país a um desastre de múltiplas facetas, podem ser resumidas deste modo: energia precária e caríssima num país que tem tudo para produzi-la em abundância e em condições mais do que competitivas em matéria de preço.

Ficaram queixando-se do câmbio a propósito da desindustrialização do Brasil, mas essa decorre, em primeiro lugar, de as transnacionais dominarem os mercados no Brasil, devido à política do modelo dependente, implantada desde agosto de 1954, e, em segundo lugar, do tal custo Brasil, em que os custos da energia e dos transportes são fatores de grande peso.

Em relação a isso, não vejo outra explicação senão o fato de o Brasil não ter instituições políticas que lhe permitam ter autonomia e soberania e, assim, adotar políticas que tenham algo em comum com os interesses nacionais. De outro modo, seria estupidez demais para ser verdade.

Ou nos conscientizamos de não haver chance de modificar essa situação sob o atual sistema político, e partimos para uma união nacional consolidada por outro modelo político – sem isso, não adianta falar em mudar de modelo econômico, e o que temos decorre da absurda concentração do poder financeiro e econômico, nas mãos de poucos banqueiros (associados ao cartel financeiro da oligarquia anglo-americana) e de carteis de empresas transnacionais – ou prosseguiremos na vergonhosa desintegração em que se está afundando.

Ronaldo Barata tem razão ao apontar a privatização da Vale Rio Doce como o maior escândalo já perpetrado nesta República amarrada por instituições manietadas pelo império anglo-americano. Nela só funciona uma democracia formal, sem conteúdo democrático nem republicano nem nacional, na qual os resultados das urnas só são acatados pelo sistema real de poder (financeiro, mediático etc.), se servirem para aumentar a concentração econômica, a desindustrialização e a desnacionalização.

Mesmo com a manipulação enorme que o império faz não só através da mídia, mas também pela cooptação de diferentes tipos de associações, entidades, centros de estudo etc., que são formadores de opinião, o sistema de poder não conseguiu evitar que líderes nacionalistas tivessem maioria eleitoral, como foi o caso de Brizola, mais de uma vez.

Uma das ilustrações históricas mais nítidas da posição singular do líder gaúcho foi o conjunto de campanhas midiáticas, fraudes e pressões sobre eleitores etc., empregado pelo sistema de poder, a fim de evitar que Brizola passasse ao segundo turno das eleições presidenciais de 1989, o que teve duas consequências fatídicas, além de retirar Brizola do primeiro plano da política.

Então, em estados como Minas Gerais e Bahia, houve adulteração dos resultados na computação por parte dos tribunais eleitorais, além de golpes como a retirada dos transportes em zonas nas quais o eleitorado brizolista tinha grande maioria, impedindo-o de chegar aos locais de votação. Conheci militantes nesses estados que votaram em urnas nas quais apareceu o resultado zero para Brizola.

Resumindo, os adversários do Brasil, conscientes de que iludiriam os demais, conseguiram assegurar a eleição de Collor, que desencadeou o primeiro tsunami de medidas de destruição das instituições de Estado e de estatais fundamentais para o desenvolvimento nacional (o segundo tsunami, notório, foram os dois mandatos de FHC, conquistados ambos por fraude: um com a farsa do real; o outro ocultando o resultado desastroso dos quatro primeiros anos e comprando a emenda da reeleição); e firmar Lula como suposta alternativa da esquerda e de oposição aos notórios agentes dos interesses do império anglo-americano.

Notável como o resultado manipulado das eleições no primeiro turno da eleição de fins de 1989 foi decisivo para os acontecimentos destes 26 anos decorridos até o presente, e explica por que o sistema imperial jogou tudo para que Brizola caísse para o terceiro lugar e ficasse fora do segundo turno.

Claro que, se Brizola fosse eleito, provavelmente não conseguiria atingir plenamente seus objetivos, dada a oposição no Congresso e os boicotes por parte de todos os redutos em que o poder entreguista está infiltrado nas demais instituições públicas e privadas.

Mas talvez, não sendo um acomodado, diante disso Brizola talvez tivesse liderado alterações institucionais, como teria podido ter feito, em 1961, se João Goulart não tivesse aceitado acordo com as raposas ditas centristas, do tipo Tancredo Neves, Ulysses e outras. Era seguir de São Paulo, onde já havia chegado, rumo a Brasília e pôr ordem na casa.

Infelizmente, o próprio Vargas também perdeu oportunidades históricas, devido a seu espírito conciliador. O império usa seus agentes, para acordos, mas está sempre preparado para fazer trair esses acordos. Estude-se a história do império romano e de muitos outros depois dele, e verifique-se que isso nunca mudou.

*Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.

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