segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Portugal. CGTP. A LUTA CONTINUA, MAS NÃO É PARA O GOVERNO IR PARA A RUA



Arménio Carlos encerrou o XIII Congresso com uma mensagem diferente. “Vamos ser reivindicativos”, mas “não é para destruir” o governo.

Arménio Carlos, no encerramento do XIII Congresso da CGTP, foi claro na mensagem sobre a atitude em relação ao Governo. Não mudará a postura reivindicativa de uma central sindical que “não vai de férias” por haver agora uma maioria de esquerda a suportar um Executivo que até tem estado a repor direitos dos trabalhadores. Mas há algo que muda. A CGTP, desta vez, não termina um congresso anunciando grandes ofensivas para enfraquecer o governo. E proclama que não quer “destruir” o que está a ser construído no Parlamento entre PS, PCP, BE e PEV.

“Sim, vamos ser reivindicativos. Não é para destruir, é para construir e evitar que a direita chegue ao poder”, afirmou Arménio Carlos, no discurso de quase 50 minutos, no Pavilhão de Almada.

A CGTP tinha acabado de aprovar um Programa de Ação e uma Carta Reivindicativa que formam o guião sindical para os próximos tempos. O aumento do ordenado mínimo para 600 euros, em janeiro de 2017 (ou seja, já para discutir este ano e tentar integrar no Orçamento do Estado, no que diz respeito à Função Pública), o aumento geral dos salários no mesmo “nível” e a revogação da regra da caducidade nas convenções coletivas de trabalho (que faz baixar salários e regalias) fazem parte das reivindicações da CGTP.

Mas Arménio Carlos separou as águas, distinguindo o que era a luta contra a direita do que é a atitude da central que dirigirá nos próximos quatro anos (será formalmente reeleito na primeira reunião do novo Conselho Nacional, para a semana).

“Ser reivindicativo hoje não implica termos uma intervenção idêntica à que tínhamos com o Governo PSD-CDS. Ser reivindicativo hoje é exigir que o diálogo e a negociação sejam um facto concreto e tragam resultados”, explicou perante os 730 delegados (números oficiais) e as centenas de convidados. Numa galeria, ouviam-no também Catarina Martins (BE), Francisco Lopes (PCP) e Heloísa Apolónia (PEV) e o socialista Jorge Lacão (em representação da AR).

A mensagem de Arménio ficaria ainda mais clara: “Quando identificamos e fundamentamos as nossas posições e reivindicações não estamos a pôr em causa o que está a nascer na Assembleia da República”. Até porque, disse logo no início do discurso, “as promessas que fizeram estão a ser cumpridas e isso é muito importante”. Uma maioria que não falta à palavra dada é “um salto em frente” que o líder da maior central sindical portuguesa saúda.

Mas se o inimigo já não está no Governo, isso não implica o baixar de braços da CGTP. “Ser reivindicativo é a razão de existência do movimento sindical”, e, com as “as pressões a acentuar-se” do lado do “patronato” e da forças “da troika” (que engloba a União Europeia, agora um alvo preferencial da central CGTP), Arménio Carlos diz que é preciso “contrapor” com mais pressão sindical.

A próxima batalha está marcada para abril, altura em que o Governo terá de entregar em Bruxelas o Plano de Estabilidade (PEC), o documento que antecipa as linhas gerais do próximo Orçamento do Estado. A CGTP receia que a “flexisegurança esteja de volta” e exige um travão a António Costa. “É importante que o governo tenha presente que não pode haver flexibilização do trabalho “. Na linguagem do líder da CGTP, é um “embuste” para os trabalhadores, que ficam só com a “flexibilidade e sem a segurança”.

Outra batalha anunciada em Almada foi a da renegociação da dívida pública. “É preciso cortar na despesa e aqui vai um contributo: vamos renegociar a dívida”. A CGTP propõe ainda cortar despesa através da renegociação dos rendimentos obtidos pelas Parcerias Público-Privadas (PPP).

Aqui fica tudo na mesma Num congresso marcado por criticas das minorias socialista e bloquista, que exigiram mais meios para se expressar internamente e mais representação na direção da CGTP, Arménio Carlos deu resposta aos ataques dos opositores internos.

Confortado por votações expressivas que deixaram os críticos reduzidos a menos de 10%, afirmou: “Todos se manifestaram de acordo com as suas opiniões e a democracia esteve aqui a respirar. Aqui não há sectarismos, aqui não há fechamentos”.

Mas, se o XIII congresso marca uma mudança na postura da central em relação ao governo e à maioria que o suporta, já a organização interna da CGTP revela a continuidade absoluta em relação ao passado. Uma proposta para alterar os estatutos de forma a garantir a representação das minorias na Comissão Executiva, o órgão que gere a CGTP, foi chumbada no primeiro dia de trabalhos. E a minoria bloquista deverá continuar fora da direção, mais quatro anos.

Manuel Agostinho Magalhães – jornal i – Foto: José Sérgio

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