quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

PORTUGAL E O MUNDO, CURTO, FINO E EXPRESSAMENTE



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Martim Silva – Expresso

Os números do nosso descontentamento

Bom Dia,

Números, números e mais números. Confusão, dúvidas, dívidas e polémicas. Negócios, claros, escuros e tortuosos. Os assuntos que estão a dar que falar são novelos cheios de nós. Como a leitura do que hoje se escreve e diz na imprensa confirma. Seja quando olhamos para as contas públicas, seja quando se fala do Novo Banco, do Banif, do Santander ou ainda da TAP.

Veja lá se não é assim:

Os números da nossa finança e da nossa economia continuam a dar muito que falar. Ontem foram conhecidos os dados da execução orçamental relativos a janeiro e, como se previa, as contas públicasmelhoraram cerca de 300 milhões de euros no primeiro mês do ano (e estamos sem orçamento…).

Razões para sorrir? Talvez não.

Basta ler o grande destaque de hoje do DN: “Quando a Alemanha espirra, Portugal fica para trás”. Afirma o jornal que ocrescimento da economia alemã perde força e arrasta a zona euro para baixo, com isso pressionando o Banco Central Europeu e Mário Draghi a agirem e, ainda pior para nós, colocando o cenário do Orçamento do Estado para este ano (que ainda está a ser debatido no Parlamento e nem sequer está perto de ser aplicado) em risco.

Já discutimos todos como será o orçamento de 2017 quando o deste ano está longe de ser um caso arrumado, como se percebe.

O Novo Banco é que continua nas bocas do nosso mundo. Ontem foram conhecidos os resultados do último ano, com prejuízos de quase mil milhões de euros. 980,6 para ser exato. Stock da Cunha culpou o peso da herança BES pelos resultados. De acordo com o Diário Económico, o líder do banco já pediu a Horta-Osório, seu patrão em Inglaterra, para prolongar a licença sem vencimento do Lloyds até ao verão, só deixando o Novo Banco nessa altura.

E ontem também, o socialista João Galamba veio admitir que anacionalização do banco não é de descartar (não afastando assim a ideia avançada na véspera pelo PCP durante o debate do Orçamento do Estado). As reações não se fizeram esperar. Passos, ex-PM, dissecruzes credo: “Só se quisermos atrair todas as atenções negativas do mundo”. Em sentido contrário, Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, veio lembrar que “esta não é a melhor altura para vender bancos”.

Mas se achava que isto tudo já era muito confuso, então encoste-se na cadeira. De acordo com o Jornal de Negócios de hoje, a“nacionalização do Novo Banco viola compromissos europeus” e contará com a resistência do BCE e de Bruxelas.

Ainda no Negócios de hoje, escreve-se que “Santander financia Estado para comprar Banif”. A venda do Banif não ficou apenas pelos ativos e passos do banco. O Santander aceitou emprestar 1,8 mil milhões de euros ao Estado, de modo a não afectar o financiamento de 2016. Escreve o jornal que a operação aconteceu no auge da recente subida dos juros da dívida.

Toma lá, dá cá…

Já chega? Nãoooo. Capa do Jornal de Notícias: “Estado pede mais dinheiro emprestado para acudir à banca”. As necessidades líquidas de financiamento do Estado português para este ano foram revistas fortemente em alta pelas Finanças e Portugal precisa de mais três mil milhões, lê-se no artigo assinado por Luís Reis Ribeiro e Filipe Paiva Cardoso.

Confusa também está a situação na TAP.

Recapitulemos: O governo de Passos fechou, mesmo antes de terminar o mandato, o negócio de privatização e venda da companhia a um consórcio liderado por Humberto Pedrosa e David Neeleman.

Chegado de fresco ao governo, António Costa fez o negócio voltar para trás e acertou com os compradores e novos donos da TAP que afinal público e privado ficavam cada qual com metade da companhia.

Dias depois, a ANAC vinha levantar dúvidas e travar o primeiro negócio, dizendo que enquanto não se esclarecer tudo, a administração fica em gestão. 

Neeleman foi a Nova Iorque dizer que estava tudo bem e Fernando Pinto foi à ANAC dar esclarecimentos.

Tudo resolvido? Não.

A ANAC volta a dizer que as dúvidas se mantém, nomeadamente sobre quem realmente manda no consórcio privado (se Neeleman se Pedrosa se mantém) e sobre a entrada de uma empresa chinesa no capital da TAP.

OUTRAS NOTíCIAS

Cá dentro,

O Governo mostra-se disponível para aumentar os apoios a idosos e crianças, com Vieira da Silva a ir ao Parlamento dizer aos deputados que a proposta do Bloco de Esquerda de subida de 37 euros no valor de referência do Complemento Solidário para Idosos “é acomodável”. O ministro da Segurança Social mostrou ainda abertura para alterar no Orçamento o abono de família, reforçando-o, tal como o subsídio social de desemprego.

Sobre o inquérito-crime em que o antigo procurador do DCIAP Oliveira Figueira é suspeito de corrupção, o Público revela que o apartamento que esteve na origem do inquérito crime que foi arquivado pelo procurador teve a compra e venda assinada pela mesma pessoa. O atual inquérito em curso em que Oliveira Figueira é visado chama-se Operação Fizz e este artigo no Expresso Diário ajuda a perceber os meandros da investigação, nomeadamente que tudo começou numa denúncia anónima que chegou ao Ministério Público dando conta da abertura, pelo procurador, de uma conta bancária numa filial de Lisboa de um banco angolano.

A capa da Visão é hoje dedicada ao “Mercado negro da eutanásia”. Uma investigação da revista revela como “a droga utilizada para os suicídios assistidos pode ser comprada online e chega pelo correio. Já matou quatro portugueses e há 30 inscritos na associação que ajuda a encontrar o barbitúrico fatal”.

Ontem houve protesto de taxistas contra a Uber no Aeroporto de Lisboa. Segundo afirma o Público, os taxistas ameaçam agora com novas formas de protesto. Para já, conseguiram uma reunião com o governo.

No 2.59 desta semana, o Pedro Santos Guerreiro explica como é que a crise das dívidas surgiu, quem deve mais, porque devemos tanto e ainda se no final de contas isto pode ou não explodir tudo…

No Correio da Manhã fala-se em “mistério de dois milhões na venda de Montero”. Isto porque os leões informaram a CMVM que o colombiano foi vendido por cinco milhões, mas o que os chineses do Tianjin Teda colocaram em cima da mesa foi uma proposta de… sete milhões.

Ontem o Braga conseguiu passar aos oitavos de final da Liga Europa ao empatar em casa com os suíços do Sion. Hoje, Sporting e Porto tentam imitar os passos, mas as tarefas são de gigante: derrotas os alemães do Leverkusen e Dortmund com quem perderam ambos na primeira mão.

Lá fora,

Em Espanha, a confusão política parece não ter fim. Mais de dois meses depois das eleições gerais, PSOE e Ciudadanos pareceram chegar a um princípio de acordo para a viabilização de um governo socialista liderado por Pedro Sanchez. Mas agora o PP de Rajoy e o Podemos de Iglesias vieram recusar a possibilidade de viabilizar a iniciativa. O que faz com que tudo volte à estaca zero.

Quando a nomeação de Donald Trump como candidato oficial dos Republicanos às presidenciais nos Estados Unidosparece ganhar cada vez mais força, a Joana Azevedo Viana explica neste artigo como há cada vez mais gente a esperar que aconteça umarara “baleia branca” que evite que seja o milionário o escolhido.

Amanhã é dia de eleição do presidente da FIFA. Se é tema que lhe interessa, aqui pode saber tudo, desde quem são os candidatos, às suas possibilidades de vitória, ao que está em causa na sucessão de Blatter.

O mundial de surf começa já em março e uma das notícias do momento é o anúncio do australiano Mick Fanning, três vezes campeão do mundo, de que este ano não deverá competir em todas as provas. O anúncio ocorre depois de um 2015 absolutamente intenso para Fanning, em que além de disputar o título até à última prova, foi alvo de um ataque de tubarão na etapa da África do Sul, recebeu a notícia da morte do irmão quando disputava o evento no Havai e, como se não bastasse, acabou o ano a anunciar a separação da sua mulher.

NÚMEROS

400
euros é o aumento do desconto anual dos funcionários públicos para a ADSE desde 2012

411
foi o numero de trabalhadores que o Novo Banco perdeu no ano passado

80
é o numero de novos inspetores para a Autoridade para as Condições do Trabalho que o Governo se prepara para contratar

FRASES

“A obsessão pela austeridade, mesmo quando os custos dos empréstimos são tão baixos, é de loucos”, Martin Wolf, do Financial Times, em artigo no Diário de Notícias

“Nenhum partido tem legitimidade para propor já legalizar a eutanásia”, José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médidos, citado pelo Público

“Mourinho não foi o culpado da minha saída do Real Madrid”, Iker Casillas, guarda-redes do FC Porto, citado pelo jornal espanhol El Mundo

O QUE EU ANDO A LER

“Alentejo prometido”. Este é o título de uma reportagem/ensaio que o Henrique Raposo (colunista aqui do Expresso) escreveu para a coleção Retratos da Fundação, da Fundação Francisco Manuel dos Santos. O Henrique tem uma escrita arrojada e gosta da polémica como poucos. É mais fácil odiá-lo que ficar-lhe indiferente. Este livro, em que ele ruma às suas raízes no litoral alentejano para fazer um retrato iconoclasta de uma região, não é 'O' retrato do Alentejo. Mas é 'UM' retrato cru e descomprometido do Alentejo que vale a pena ler.

Agora que as eleições norte-americanas aquecem a sério, vale a pena ler o artigo “Ahead by a nos”, sobre a mentira, que Michael Kinsleyescreve no último numero da Vanity Fair (e que é dedicado aos óscares de Hollywood).

Este domingo à noite, já madrugada dentro, é noite de Óscares. Dois guias para seguir o que se vai passar: As previsões feitas pela Vanity Fair; e as previsões que o Expresso faz todos os anos, pelo Jorge Leitão Ramos, e que podem ser lidas na Revista deste sábado (e olhe que ele costuma mesmo acertar).

Por hoje é tudo, tenha um grande dia.

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