Nos
últimos anos foi bem mais notório porque os salários se reduziram
(alguns terão aumentado, mas o meu perdeu bem mais do que o ganho médio
calculado), mas vamos com uns bons anos em que, degrau a degrau, as contas de
serviços públicos que foram privatizados foram ganhando todo o tipo de
acrescentos, desde taxas públicas a alcavalas privadas. Podia começar pelo serviço
de televisão, para o qual até pago contribuição se colocar um contador de luz
numa garagem ou de ter de pagar se quiser ver uma série de desportos que antes
via em sinal aberto ou filmes com menos de cinco anos. Concentremo-nos nas
facturas dos serviços telefónicos, da luz e do gás. Como tudo agora é online,
porque somos pós-pós-modernos, é quase impossível não ter de assinar um serviço
que tem telefone, net e televisão (se não quisermos ficar com a TDT que
faz com que as antigas antenas pareçam maravilhas tecnológicas de um futuro
radioso) e pagar dezenas de euros obrigatoriamente. Na factura da luz, o
difícil é encontrar a parcela do consumo, pelo meio de taxas, impostos,
impostos extraordinários (somos muito verdes eólicos, pelo que pagamos por
isso), contribuições e potências contratadas que duplicam o custo final. No
caso do gás, se o aluguer do contador e as cauções eram ilegais, não sei o que
dizer do termo fixo que me disseram ao telefone ser pelo serviço prestado por
esse mesmo atendimento telefónico que antes era feito sem qualquer encargo, até
por ser de interesse da própria empresa. As águas, onde vivo, ainda são
poupadas ao enorme desvario, mas também já há onde seja tratada como consumo de
moetetchandon.
E,
grave mesmo, é o Estado ainda ir em cima de tudo isto e cobrar 23% de IVA por
estes serviços, como se fossem gastos sumptuários e ninguém se queixar
verdadeiramente da vergonha.
Mas,
como estamos numa sociedade muito liberal e globalizada, parece ser natural que
sejam cobrados mensalmente 200 euros, dos quais metade em impostos e taxas
público-privadas, enquanto se diz que as tarifas estão abaixo do preço de
custo, mas as empresas dão milhões de lucros e nós é que levamos com
sobretaxas.
Acredito
que esta prosa revele o cripto-comuna que há em mim, o inadaptado estatista aos
tempos da globalização que acredita que há sectores da economia e dos serviços
que devem ficar sob controlo público até porque, para cidadãos e contribuintes,
todas as contas bem feitas, ficariam bem mais baratos. Claro que isso impediria
a existência de operações de mercado, a necessitar do apoio dos gabinetes de
advogados ou empresas de consultadoria, assessoria ou marketing, que custam
muito mais a todos nós do que à primeira vista parece, quando se apontam os
males das prateleiras douradas das empresas públicas.
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